Uma história fantástica, uma equipa fantástica

Notícias Magazine

O Ricardo J. Rodrigues ganhou o Prémio Gazeta de Imprensa com a história de Isabel Batata-Doce. Celebremos o reconhecimento do bom jornalismo.

C
ontar histórias não é exclusivo do jornalismo. Já existia antes dele, existirá até ao fim dos tempos. O que é específico, no jornalismo, é que esse contar obedece a regras, que se convencionaram profissional e socialmente, a primeira das quais é a aderência à realidade. Seguem-se outras, conhecidas por toda a sociedade e escrutinadas por ela. Regras que contribuem, também, para a democracia, esse que é o pior dos regimes excetuando todos os outros.

Mas o que resta do jornalismo num mundo onde toda a gente conta a sua história pelos seus meios? Contar histórias transformou-se numa disciplina de Marketing? Qualquer cidadão acha-se jornalista mal se põe a denunciar situações? Onde os blogues esbateram as fronteiras entre jornalismo e publicidade, factos e opiniões, bitaites e análises? O que resta do jornalismo quando os próprios recetores desse jornalismo já mal o reconhecem?

Não é fácil responder às perguntas. E essa dificuldade não pode senão atormentar quem faz desta profissão a sua vida. E é tanto mais difícil quanto a resposta a todas estas questões condiciona não só a vida e o trabalho dos jornalistas, como também a vida e os negócios das empresas onde eles trabalham, e lhes pagam. Porque o caminho, o âmbito e a atuação do jornalismo se foram estreitando entre todas estas condições. E os jornalistas continuam, resistentes, escrutinados pela crítica social permanente ao seu trabalho, esmifrados pela situação económica, entusiasmados pelo seu trabalho diário, emocionante, importante, diferente e de interesse público.

Nós aqui, na NOTÍCIAS MAGAZINE, acreditamos que esse caminho, embora estreito, pode ser feito. Com passos firmes. Contando o mundo, uma boa história de cada vez. Recuperando o prazer de as ler, em papel, numa revista graficamente cuidada, que sai com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias ao domingo. E todos os dias, no online, juntando-lhe as potencialidades da forma digital e multimédia de contar histórias.

Foi jornalismo o que aconteceu quando a história de Isabel Jacinto nos chegou aos ouvidos com o estranho nome de Isabel Batata-Doce. Havia no diretor do arquivo da Global Media, Simões Dias, um jornalista que nos passou a história que lhe chegara, de uma senhora, angolana, que viera em busca do seu passado. Havia na equipa de edição dois jornalistas que se deixaram imediatamente agarrar. Havia no Ricardo J. Rodrigues um repórter à altura dos acontecimentos, que se entusiasmou até ao tutano com ela. E havia, até, gráficos com espírito jornalístico a quem surgiu a ideia de fazer uma capa dupla, entre o passado e o presente.

E assim se fez, mais uma vez, jornalismo. O Ricardo contou uma história que tem valor humano, social, histórico. E que, sendo com h pequeno, tem em si o H grande que a torna ainda mais importante. E o talento do Ricardo, a forma entusiasmada como ele perseguiu esta, a forma cuidada e preocupada como se atormentou com ela, indo aos pormenores de um contexto que não conhecia, como a relatou, tudo isso levou o Ricardo a ganhar, com esta história, o máximo galardão do jornalismo português, o Prémio Gazeta de Imprensa do Clube de Jornalistas. E com este prémio celebramos o jornalismo de qualidade. O que emociona leitores. Mas também júris.

 


Leia a reportagem completa «Um milagre na guerra, ou as muitas vidas de Isabel Batata-Doce».


[Publicado originalmente na edição de 3 de julho de 2016]