O crime que Germano Silva desvendou

Em 1963, Germano Silva conseguiu desvendar o Crime da Rua do Sol. A saga de notícias sobre o autor do assassínio de uma mulher elevou o jornalista a redactor do Jornal de Notícias. História contada na primeira pessoa.

«Em outubro de 1963 e fiquei incumbido de cobrir a história: uma mulher tinha sido encontrada morta em casa, na Rua do Sol, com sinais de ter sido assassinada. A Polícia sabia que não tinha sido um assalto, mas a família da vítima chamara a atenção para a falta de uma pulseira que a mulher trazia sempre. Procurei testemunhos. Ouvi um sapateiro na rua que me deu pistas sobre uns tipos esquisitos, um deles com uma pasta que entrou e saiu da casa, várias vezes.

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A história ganhava mistério. Tinha contactos na Judiciária e ia escrevendo umas reportagens. O jornal passava por uma situação menos boa e isso ajudava a vender jornais. Perguntava‑se todos os dias: “O que é que há do crime?” Fiz trabalhos durante quase um mês [foram 19 reportagens até ao desfecho e três até a conclusão do processo]. Mas aquilo começou a esmorecer. Fui ter com o sapateiro e disse‑lhe: “Ó Rogério, estou lixado. Nada de novo.” Ele pediu‑me para esperar que tinha de ir a casa. Sentei‑me e reparei num poster com a equipa do FC Porto. Comecei a ver os jogadores: Barrigana, Virgílio… e havia lá um que não consegui reconhecer porque o papel estava engelhado. Quando dou por ela, ao tocar, estava lá a pulseira, escondida. O sapateiro voltou e eu, calado, dei uma desculpa e vim embora. Falei com o chefe de redação e fizemos um acordo com uns agentes. Eu dizia onde estava a pulseira e eles prendiam o gajo pelas duas da manhã, para o fotógrafo aparecer e o jornal do dia seguinte sair com a fotografia. A 8 de novembro de 1963, a manchete era esta: “Foi o ‘Rogério sapateiro’ quem matou a viúva da Rua do Sol”. Graças a este trabalho fui promovido a redator.»


Leia também o perfil de Germano Silva, doutorado Honoris Causa pela Universidade do Porto.