Pokémon Go, jogar ou não jogar…

Está o mundo dividido entre os que estão conquistados com a aplicação Pokémon Go e aqueles que não compreendem o fenómeno e acham tudo isto ridículo. Miriam Santos nunca jogou e é contra, enquanto Guilherme Trindade assume-se viciado.

São milhões de pessoas a jogar o jogo de telemóveis Pokémon Go. A loucura está instalada. Os jogadores têm orgulho nesta aplicação que os faz sair de casa para virtualmente apanhar pokémons nas ruas, mas há quem seja contra esta moda. A esteticista Miriam Santos, mesmo nunca tendo jogado o jogo, é uma assumida detratora. Considera uma alienação social e não vê o gozo da coisa. Ainda antes de o microfone estar ligado, vai dizendo ao seu oponente que não encontra vantagens nesta febre. A meio da conversa vai ficando espantada pela complexidade de todo esse universo mas mantém-se sempre firme: «O meu maior receio é em relação às crianças… as mães já têm tantas preocupações, agora ainda têm de se preocupar quando os filhos vão caçar pokémons na rua, por amor de Deus.»


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Guilherme, que nem de propósito é game designer, está de facto entusiasmado com o Pokémon Go e tem uma teoria sobre a dependência de tantos convertidos: «Tem que ver com lógicas de colecionismo e joga com a descoberta aleatória das coisas, enfim, há um lado de surpresa neste jogo. O que é diferente aqui, sobretudo quando jogávamos nos gameboys, é que o universo veio para a rua. Somos obrigados a explorar fisicamente sítios diferentes. Quem critica o pessoal dos videojogos por não saírem de casa, deixa de ter argumentos com o Pokémon Go, que é precisamente o contrário! Diria que é uma atividade profundamente social, incentivando ao passeio e ao exercício físico. Ouço amigos meus viciados no jogo a dizerem que estão a perder peso!» Miriam ri e lembra que a caminho deste confronto viu um grupo de pessoas obcecado com o jogo em plena passadeira, na rua… Mas Guilherme prossegue com as vantagens da sua paixão: «Com este jogo acabamos por conhecer mais pessoas e falamos com estranhos. Agora até há um site chamado Pokedate, para fomentar romances entre praticantes. É um jogo que se transformou num quebra-gelo. É um fenómeno que acima de tudo diverte muito as pessoas.»

«Acho curioso ouvir que o pessoal convive e caminha na rua, enfim… Sou daquela geração que se encontrava em cafés e esplanadas ou ficava em casa a jogar Monopólio. Para sairmos não precisávamos de pokémons, íamos passear o cão. Conheço um casal que está quase separado depois de umas férias no Algarve, em que ele passou o tempo a jogar agarrado ao telefone, ignorando-a…», ataca Miriam. Guilherme reage: «Ai, quer dizer que antes do Pokémon Go as pessoas não estavam já sempre nos restaurantes agarradas ao telefone, no Facebook?!»

Para reforçar o «clube» de Miriam Santos, há gente de peso: o argumentista de comédia João Quadros ataca o vício forte e feito no Twitter, enquanto o cineasta americano Oliver Stone acha tudo isto perigoso, chegando mesmo a mencionar a palavra totalitarismo. «É claro que há muita gente irritada, creio até que possa ser uma questão também geracional. E os que criticam sem nunca ter jogado… o que posso dizer? Bem, quanto ao Oliver Stone esse senhor das teorias da conspiração ainda me deve umas horas da minha vida por ter visto o seu Alexandre, O Grande. Mas mesmo ridículo foi o que vi no outro dia nas Manhãs da SIC, onde havia uma lista de coisas negativas que seriam efeitos do Pokémon…», defende-se Guilherme.

O facto de haver equipas diferentes nesta caça ao pokémon é outra das coisas que Miriam julga que enfraquece o espírito: «Preocupa-me muito ver tanta gente a perder tempo com isto, eventualmente até desempregados que deveriam estar a procurar emprego. Infelizmente, acho que não é um fenómeno que vá parar tão cedo.

Decididamente, não acho saudável as pessoas sentirem o apelo para sair de casa para estar a olhar para um telefone.» «Não é saudável? Eu conheço pessoas que eram agorafóbicas e por causa deste jogo começaram a sair de casa, é uma motivação, um pretexto. É fascinante ver gente que estava deprimida e que agora sai à rua, sobretudo para interagir com o mundo real. No meu caso, jogo porque gosto e porque me diverte», responde o caça-pokémons

Curiosamente, nem Miriam nem Guilherme estão loucos de vontade para ver o filme que Hollywood está a fazer em imagem real baseado neste jogo…

MIRIAM SANTOS
Estudante de Gestão de Empresas e esteticista já há décadas, Miriam Santos é dona de um centro estético com o seu nome, MS. É também mãe de um jovem fã do universo Pokémon, para mal dos seus pecados. Tem 39 anos e depois deste encontro aceitou colocar a aplicação com o jogo…

GUILHERME TRINDADE
Formou-se na Academia RTP e tem trabalhado como realizador para a estação pública. Aos 31 anos, é também game designer e já criou jogos para telemóvel. Neste momento, trabalha na empresa de videojogos Miniclip e antes trabalhava na Biodróide, especializada no segmento de jogos mobile. Costuma caçar pokémons pela Team Valor, a vermelha…