Vende-se fotografia de perfil profissional (esqueça as selfies)

Personal Branding
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Num mundo em que as redes sociais e a imagem assumem cada vez maior importância, não há espaço para retratos desfocados, fotografias antigas, em biquíni ou numa noite de copos na imagem de perfil do LinkedIn ou do Facebook. Foi isso que fotógrafos como Ricardo Pereira da Silva [na foto de abertura], Pau Storch, Nuno Fontinha ou Ricardo Afonso perceberam. Esqueça lá as selfies.

O ar pueril de Ana Ruas de Melo, cheio de bons presságios na adolescência, tornou-se um peso na sua carreira de nutricionista. Já lhe aconteceu ter clientes nas consultas a darem-lhe 15 anos em vez de 25, tão novinha, será que tem experiência? E no que toca à sua fotografia do LinkedIn, então, nem se fala! Por mais que fizesse, parecia uma colegial, nunca a profissional bem-sucedida formada em Ciências da Nutrição, com mestrado em Nutrição Clínica pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Quando ouviu falar em sessões fotográficas de 30 minutos, com aconselhamento e maquilhagem profissional, arriscou.


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«Hoje, a imagem que passamos é muito importante junto das empresas para as quais queremos ser contratados e até mesmo para efeitos de autopromoção, caso queira montar um negócio por conta própria ou fazer outra coisa fora da minha área», explica Ana.

Tirou as suas fotografias com Os Retratistas no final de fevereiro, no Hotel Real Palácio, em Lisboa, e gostou da atenção descomplicada – agora sorrir só com os olhos, agora um ar mais fechado sem fazer cara feia. Acima de tudo, gostou do resultado após várias tentativas e erros, com muito tato pelo meio: «Fiquei com três bons retratos que posso usar sempre que quiser em contexto profissional, muito diferentes das fotos tipo passe que não favorecem ninguém. Justifica bem o investimento de 75 euros.»

 

Pau Storch e Nuno Fontinha são Os Retratistas
Pau Storch e Nuno Fontinha são Os Retratistas

Pau Storch, cofundador d’Os Retratistas com Nuno Fontinha, Raquel Batalha e Ana Fontinha (respetivamente o outro fotógrafo de serviço, a maquilhadora e a stylist do projeto), aplaude esta forma de pensar fora da caixa, cada vez mais frequente embora ainda não a regra. «Muita gente acha que tirar uma selfie com o telemóvel resolve o assunto, mas basta abrir o LinkedIn para ver a fraca qualidade do material.» A essas pessoas, coloca a seguinte questão: quanto é que os pais e elas mesmas já despenderam em formação ao longo da vida e quanto gastaram na imagem? «Não estou a dizer que a imagem corresponda exatamente ao profissional, mas é o primeiro impacto. Se a minha foto tem grão, ruído de fundo, má iluminação e passa uma ideia incorreta de mim, o mais certo é que quem vê associe essa fraca qualidade à minha própria falta de valor como trabalhador.»

Ana Portugal, outra retratada por Pau e Nuno, confirma esta crescente tomada de consciência quanto à diferença que uma fotografia pode fazer na hora de se conseguir, ou não, um novo emprego. «Todos devíamos ter um retrato deste género para o que vier», afirma a marketing manager, 37 anos. «Com tantas solicitações e tanta concorrência no mercado, mais vale não facilitar. Se me puser no lugar de quem contrata, acredito que vai querer ver ali alguém confiante. » Uma vez que autoconfiança é diferente de beleza ou fotogenia, ressalva Pau. Tem mais que ver com a atitude. Com aquilo que o olhar transmite – às vezes até mais do que o sorriso.

«Quando o ano passado tivemos a ideia, ao notarmos que muitas empresas e pessoas já procuravam este tipo de fotografia corporativa, começámos a investigar. OK, tecnicamente sabíamos retratar, mas o que é que esse retrato tinha de ter para fazer a diferença no universo laboral?»

Pesquisaram, leram estudos de universidades americanas que lançavam luz sobre o tema e descobriram que um décimo do tempo que leva a piscar os olhos chega para se olhar uma imagem e dizer se gostamos ou desgostamos de alguém, se confiamos. «É inconsciente, mas o que se estabelece a partir de um retrato é imediato. Também percebemos, junto do LinkedIn, que quando pesquiso uma pessoa numa dada área, entre milhares, só vou entrar no currículo pela fotografia.» E por aí identificaram outros critérios: com ou sem óculos? A rir ou sério? Com que roupa? «Se criamos uma imagem que não é autêntica e o candidato chega à entrevista, qualquer diferença face ao que o empregador tinha preconcebido gera desconfiança.»

Através da lente, também Ricardo Pereira da Silva tem vindo a comprovar uma máxima que o marketing lhe ensinou desde que, em 1996, terminou o curso no Instituto Português de Administração de Marketing, no Porto: o ponto de partida de qualquer transação comercial deve ser o cliente, não o vendedor. «São as pessoas que fazem a fotografia. Ao fotógrafo cabe ouvi-las, perguntar-lhes o que querem passar com aquele retrato, como querem que os outros as vejam. Saber quem elas são, o que querem contar ao mundo e que mundo é esse exatamente», diz, sempre atento aos comportamentos à sua volta.

«Não temos duas oportunidades de causar boa impressão e a fotografia de perfil que pomos no LinkedIn, Facebook ou onde for é a primeira. O que fazemos, vestimos, o olhar, a posição da boca, a linha do rosto e do corpo, a expressão, tudo conta.»

Fotografar desde os 8 anos como amador calibrou-lhe a técnica. Os segredos da luz aprendeu-os num curso de Iluminação no Cenjor em 2015, altura em que se profissionalizou. Lidou com agências de publicidade, modelos e músicos; fez management e coaching; passou pelo teatro para aprofundar o conhecimento da expressão. Trabalha ainda na consultora Buljan & Partners, especializada em gestão centrada no cliente, que lhe devolveu a versão romântica que tem das empresas. «A expressão “mal iluminado” é perfeita para ilustrar a importância de um retrato. Posso arruinar a imagem de alguém se não souber ler quem tenho diante de mim e fazer uma fotografia autêntica, equilibrada, credível, que não crie falsas expetativas e comunique as melhores qualidades na justa medida.»

Ricardo arrisca-se a dizer que em cada sessão faz um amigo, de tal modo as conversas com o retratado são reveladoras. «Procuro a alma de quem fotografo e mostro-a através dos seus olhos, daí dizer que a minha fotografia é raw [a mesma palavra para “formato cru”, que contém a totalidade dos dados captada pelo sensor da câmara, e “negativo digital”, o equivalente a um filme negativo na fotografia analógica]. A minha matéria-prima são as pessoas de forma crua, não o que fazem para se tornarem competitivas. A falar com elas, percebo o caminho, o resto é fazer luz e disparar.» De resto, diz-lhe a experiência que os portugueses têm um certo problema com o estilo, medo de serem o centro das atenções, e isso vai tudo dar à fotografia e ao facto de acharem descabido pagar por algo que acham que eles próprios sabem fazer.

 

Ricardo Afonso é o artista da Fotógrafo Lisboa
Ricardo Afonso é o artista da Fotógrafo Lisboa

«Quem procura estas fotos são sobretudo clientes com uma cultura empresarial forte, que se gerem, e à sua carreira, como uma marca e percebem o valor que isto lhes acrescenta», confirma Ricardo Afonso, o artista da Fotógrafo Lisboa, que dispara há vinte anos e aprofunda há dois a vertente corporativa/institucional e de LinkedIn. «Curiosamente, em posições de chefia mais elevadas, as senhoras revelam maior dificuldade em relacionar-se com a sua imagem do que os homens.» São menos recetivas aos conselhos de maquilhagem e de atitude que lhes dão. É-lhes mais difícil o olhar direto e a presença. Margarida Leitão, a assistente formada em Sociologia que faz tudo menos fotografar, adianta uma teoria: «Talvez queiram tanto focar-se no ar profissional que acabam por descurar o seu lado mais feminino.»

Com esses, não há como ir conversando para desbloquear, à procura da tal luz interna Pereira da Silva. «Cada pessoa é única. A melhor fotografia que posso fazer dela terá sempre que tê-la em conta, à função que exerce ou pretende exercer, ao que quer mostrar de si, onde vai colocá-la, quem vai ver. À empatia, que a dada altura surge entre fotógrafo e fotografado, e faz que eu me queira identificar com as ideias que está a transmitir», diz Ricardo Afonso. Nada de fotografias tiradas em casamentos, na praia, ao grelhador com uma mini na mão, a deixar ver o braço cortado do ex-namorado. «Isto não é uma foto tipo passe, em que se põe a moeda e é o que sair. O nosso trabalho não acaba aqui e sim no êxito da pessoa», diz Margarida. Quer melhor motivo para marcar uma sessão?

FIQUE BEM NA FOTOGRAFIA

Os Retratistas. Open Days a partir de 75 euros, em datas a anunciar, com sessões de 30 minutos e entrega de três fotos editadas (maquilhagem e levantamento de perfil incluídos). Fotos de grupos, colaboradores, quadros e administradores, em estúdio ou nas empresas: preços a combinar. Fazem ainda fotos a particulares que não se enquadrem num open day, mais exigentes, com uma stylist a intervir no guarda-roupa (mínimo 250 euros). Saiba mais aqui [Tel.: 967 641 262. E-mail: [email protected]].

Raw Photography. A sessão pode ser feita no estúdio ou noutro lugar e incluir maquilhagem, cabeleireiro e adereços. Cada sessão pressupõe técnicas de intimidade e confiança com a câmara, relaxamento e expressividade, fotogenia, coaching e branding. Preços a partir de 300 euros. Saiba mais aqui. [Tel.: 213 303 720. E-mail: [email protected]].

Fotógrafo Lisboa. Sessão fotográfica em estúdio para uso profissional, com dois looks e seleção e tratamento de oito fotos: 95 euros (maquilhagem e cabelo não incluídos). As sessões corporativas são realizadas em ambiente empresarial no respetivo escritório, mediante preço a combinar. Saiba mais aqui. [Tel.: 210 965 513. E-mail: [email protected]].