Os abraços de Marcelo e um novo tipo de poder

Notícias Magazine

Como o Presidente está a mudar a forma como o poder se exerce. E a operar uma revolução inspiradora que move almas.

Nos abraços que deu às porteiras portuguesas que condecorou no passado 10 de junho, Marcelo Rebelo de Sousa não mudou apenas o protocolo. Nem o estilo. Fez o que, em política, se tem tornado cada vez mais difícil – usou a forma para alterar a substância. É isso que faz mudar a História. E a faz andar para a frente.

Um abraço é um abraço é um abraço? Não. Há abraços e abraços. Há uns que mais parecem desabraços, os corpos nem se tocam. Há os que são palmadinhas nas costas. Há os formais, vigorosos mas distantes, em que as mãos têm mais funções que os braços. E depois há os abraços de Marcelo: ele deposita o queixo no ombro de quem abraça, enlaça as mãos esguias à volta das suas costas, aperta, diz umas palavras ao ouvido e deposita uns beijos na cara. E quando recua fá-lo como se estivesse a sair de uma posição de Pilates, descurvando o corpo lentamente, resistindo com o olhar sobre o outro e a atenção virada para ele.

Há mestria no abraçar de Marcelo. E é por isso que é tão interessante, jornalisticamente, analisá-lo. Ele sabe muito bem o que está a fazer. E, ao mesmo tempo, fá-lo porque é o que sente. E essa autenticidade muda tudo. Junta o ser ao parecer. Junta a forma e a substância. O homem e o político. E revoluciona tudo.

O que está Marcelo a fazer? Política. Não, não se apressem já a interpretar a frase anterior como se quisesse dizer isso que as vossas mentes cínicas estão já a imaginar. Marcelo está a fazer política porque a política, no seu sentido mais puro e original, é o que ele está a fazer: preocupar-se com os outros. É preciso genuinamente olhar para os outros, percebê-los e senti-los para ajudar a mudar-lhes o destino.

Gostaria de pensar que foi isto que tornou o Presidente o fenómeno que é. Estar virado para os outros, aberto ao mundo. O comunicador extraordinário, porque é preciso ouvir para falar e ser ouvido. O analista genial, porque é necessário compreender os outros e os seus pontos de vista para analisar. Até o conspirador de bastidores, porque quem já tentou levar alguém a fazer o que se quer sabe que é preciso perceber qual o interesse que esse alguém terá nesse desígnio. Marcelo é o paradigma de um novo tipo de política, um novo estilo de exercer o poder. Não queria chamar-lhe suave porque, na verdade, é bem mais duro. E direto. Por oposição aos rodriguinhos, formalismos, palavras ocas e distantes a que estávamos habituados. É um poder inteligente, diria. Esperto, na tradução direta de «smart power» que anda a ser aplicado em relação à candidata à Casa Branca, Hillary Clinton.

O poder esperto exerce influência. Isso é, no fundo, como sabe Marcelo, aquilo que resta a um Presidente desta República semipresidencialista. É o poder de influenciar para mudar, através da inspiração. Que move as almas. Quem não se emocionou com a cerimónia de 10 de junho em Paris? Houve tantas razões para uma lágrima: heróis comuns condecorados, a expressão «porteira», de preconceito comum, transformada numa coisa digna e bela, uma comunidade inteira que ansiava homenagem e reconhecimento, um presidente francês a citar Zeca Afonso… Marcelo Rebelo de Sousa não está apenas muito à frente de todos os políticos portugueses no exercer desse novo poder. Esperto, desengravatado, inspirador… Está muito à frente do seu tempo. Daqui a uns anos, voltamos a conversar sobre isto. E até os mais empedernidos dos céticos dar-me-ão razão.

PS- Este texto foi escrito e publicado a 19 de junho, antes do abraço de Marcelo na Madeira captado pela câmara do João Porfírio.


Veja também algumas imagens da campanha presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa, captadas pelo fotógrafo Rui Ochoa.