O que posso mudar neste ano?

Já se sabe que, para mudar, é necessário ter força de vontade, traçar um plano e metas, ter coragem e ser persistente.

Mas além do óbvio (cumprir isto nem sempre é fácil…) há outras questões menos evidentes que pode ter em conta se anda cheio de vontade de mudança nestes primeiros dias do ano.

1 Perguntas que fazem a diferença
Estamos sempre à procura de respostas certas. Mas esquecemos que estas só surgem na sequência de perguntas certas. Estas 12 podem ajudar.

1) Como posso ser mais saudável?
2) O que me deixa mais feliz?
3) Quais os valores que mais prezo?
4) Se pusesse os seus medos de lado, o que faria?
5) Onde é que eu gostaria de estar daqui a dez anos?
6) Como gostaria de ser lembrado?
7) De que me orgulho mais na vida?
8) Qual é a diferença entre mim e a maioria das outras pessoas?
9) Quais são as minhas prioridades?
10) Estou realizado profissionalmente?
11) E nos meus relacionamentos pessoais?
12) O que posso fazer agora que me deixe mais feliz?

2 O peso das emoções
Atenção ao responder às perguntas anteriores. O psicólogo Daniel Kahneman, laureado com o Prémio Nobel da Economia em 2002, defende no seu livro Pensar, Depressa e Devagar (ed. Temas de Debates) que mesmo quando pensamos que estamos a ser racionais, temos tendência para tomar decisões emocionais porque adulteramos inconscientemente as perguntas de partida. Kahneman baseia-se no facto de termos dois sistemas de pensamento, um rápido e intuitivo – e por isso fácil (a que chama sistema 1) e outro lento e deliberado – e, por isso, que requer esforço (o sistema 2). Quando somos confrontados com escolhas difíceis, deixamos o problema ao sistema 1. Isso faz-nos trocar um «O que penso acerca disto?» por um bastante mais fácil «O que sinto em relação a isto?» Enviesamos as perguntas que fazemos a nós próprios, substituindo a pergunta central por uma heurística. O autor exemplifica: a pergunta «Quanto estaria disponível a dar para salvar espécies ameaçadas?» rapidamente é trocada por um «Quão emocionado fico quando penso num golfinho a morrer?»; e um «Estou satisfeito com a vida que tenho levado nos últimos tempos?» é trocado por «Qual é o meu estado de espírito neste momento?» Por isso, se quer respostas honestas, além de ter de fazer a si mesmo boas perguntas, vai ter de lhes responder banindo a intervenção do sistema «preguiçoso» que assume o comando sempre que as coisas se complicam.

3 Aprender com quem já partiu
Em 2012, Bronnie Ware, uma enfermeira de cuidados paliativos australiana, escreveu o livro The Top Five Regrets Of The Dying (Ed. Hay House UK), no qual dá conta dos cinco grandes arrependimentos dos que estão a viver as últimas semanas. Um livro que parece ser sobre a morte, mas, na realidade, é acerca da vida. Sobre o que escolhemos fazer dela todos os dias, sobre prioridades e sobre o percurso que traçamos para nós próprios. Depois de horas de conversa com dezenas de pacientes, a enfermeira concluiu que estas são as cinco coisas que a maioria lamenta:

1) ter vivido a vida que os outros esperavam que vivesse, em vez de ser fiel a mim próprio
2) ter trabalhado demasiado
3) não ter tido coragem de expressar os sentimentos
4) não ter mantido o contacto com os amigos
5) não me ter permitido ser mais feliz

4 Cuidado com o excesso de escolhas
Quem não gosta de ter muitas opções? Sentimo-nos limitados perante poucas hipóteses de escolha, mas a verdade é que nem sempre ter muito por onde escolher nos ajuda a tomar melhores decisões. Pelo contrário. O investigador Eldar Shafir, da Universidade Princeton, nos Estados Unidos, e Donald Redelmeier, da Universidade de Toronto, no Canadá, fizeram um estudo sobre opções com resultados que mostram como os nossos atalhos cerebrais podem penalizar as escolhas. O desafio lançado a um grupo de voluntários era simples: escolher um programa para uma sexta-feira à noite. Inicialmente as opções eram duas: ir ver uma conferência de um orador que apreciavam muito e estava na cidade de passagem ou ficar em casa a terminar um trabalho que teria de ser entregue na semana seguinte. Perante isto, 79 por cento dos voluntários optaram por ir à conferência – remetendo o trabalho para o fim de semana e aproveitando uma oportunidade única – e apenas 21 por cento preferiram ficar em casa a trabalhar. Depois foi acrescentada uma terceira opção: a escolha agora incluía também ir ao cinema ver um filme muito em voga e que estavam cheios de vontade de ver. Perante as três hipóteses, os mesmos estudantes fizeram nova opção. Surpresa: quarenta por cento (quase o dobro) optaram por ficar em casa a concluir o trabalho e não ir a nenhum dos dois eventos. Porquê? Os investigadores acreditam que fazemos tudo para evitar escolhas complicadas e se temos de escolher entre coisas que queremos muito, mais facilmente resvalamos e seguimos para a opção mais fácil, embora fora das nossas verdadeiras preferências ou objetivos. Se não estivermos atentos, deixamos que a nossa vida seja condicionada por aquilo a que alguns investigadores chamam de «síndroma do excesso de oportunidades». Lembre‑se disto da próxima vez que tiver de fazer escolhas.

5 «Use» os outros!
O espetador espera que lhe calhe em sorte o que deseja, o jogador pratica ações específicas para que essas coisas boas lhe aconteçam. Eis uma coisa que pode fazer para se «obrigar» a mudar, sobretudo se a mudança estiver dependente da força de vontade: espalhe a notícia. Contar com a pressão e a expetativa dos que o rodeiam e têm influências obre si também é uma forma de se comprometer verdadeiramente com as suas próprias intenções. E sim, é verdade que pode sentir-se pior se não conseguir, mas a probabilidade de isso acontecer também é menor. O apoio, o elogio e a pressão (sem excesso!) da família e dos amigos vão ajudar.