O estilo que vem do mundo

São turistas que estão cá de passagem, estrangeiros que decidiram morar em Portugal. São nómadas com estilo e vestem roupas dos quatro cantos do planeta. Assim é a moda que vem de além-fronteiras e aterra nas ruas de Lisboa e Porto.

O mapa na mão denuncia quem até poderia passar por um habitante local. Mas estes turistas não vestem simplesmente tops de alças e calções, não carregam malas a tiracolo como os outros, embora estejam como eles aqui de passagem. O que é que os diferencia? Estes palmilham a calçada portuguesa com muito estilo. Trouxeram na bagagem não roupas atiradas ao acaso, ou escolhidas por serem confortáveis, mas combinações com sentido que fazem toda a diferença. Que mostram a diferença.

Lisboa e Porto estão na moda, são duas cidades identificadas no circuito mundial com um certo estilo de vida, boémio e urbano, e por isso atraem turistas com bom gosto, que lhes acrescentaram cosmopolitismo.

É o exemplo de Lin Guan Hung, 35 anos, natural de Taiwan, que, apesar de ficar surpreendido quando é abordado pela reportagem da NOTÍCIAS MAGAZINE, no LX Factory, em Alcântara, Lisboa, se deixa fotografar como um modelo. Usa um chapéu de uma marca de grande consumo, um pólo simples e calças básicas de uma insígnia francesa, com ténis desportivos, mas usa tudo com um toque próprio. Enquanto posa para a câmara, uma das raparigas do grupo gaba-se de ter sido ela a escolher aquele coordenado do amigo: «Sou a stylist dele», diz, a brincar.

A moda foi das primeiras áreas onde a globalização mais se fez sentir, e quem viaja usufrui disso mesmo. Matti, 55 anos, empresário, está em Portugal em trabalho, mas aproveitou a estada para comprar nada menos que três pares de sapatos, «porque são mais baratos» do que aqueles que encontra na Estónia, onde vive. Mas nem só de viagens se faz a moda, até porque há os fenómenos online – a chinesa Zhu Zihan, de 25 anos, por exemplo, usa a internet para comprar aquilo de que precisa e está em Portugal vestida da cabeça aos pés com peças compradas no Tao Bao – um hipermercado online gigante semelhante ao e-Bay e ao Alibabá.

«Onde, porquê e como escolhemos comprar a nossa roupa é um reflexo de quem somos», escrevia Frances Corner, diretora da London College of Fashion, no seu livro Why Fashion Matters [Porque a Moda Importa]. São essas experiências combinadas que criam aquilo a que apelida de «filosofia de moda.» Por outra palavra: estilo.

Foi à procura de estilo(s) – essa «atual e indispensável linguagem da identidade», como chamou o antropólogo norte-americano Ted Polhemus – que a NOTÍCIAS MAGAZINE percorreu as ruas de Lisboa e Porto. Sem mapas na mão, mas com máquina fotográfica ao peito, abordámos estrangeiros – turistas e residentes em Portugal – para descobrir o que vestem e de onde vêm as suas roupas. O resultado é um leque de fotografias que espelha essa combinação quase contraditória entre a autenticidade de cada um e a homogeneidade da moda.

*Seleção no Porto por Ana Rita Carvalho