E que tal se votássemos na América?

Opostos Hillary Clinton e Trump

A atriz São José Lapa defende Hillary e ataca Trump. O comentador televisivo Rodrigo Moita de Deus basicamente só ataca a candidata democrata e diverte-se com as «trumpices» do republicano. Na euforia da campanha para as eleições presidenciais em terras do Tio Sam, todo o mundo é tentado a sentir-se parte do eleitorado norte-americano…

Não foi fácil arranjar opositor para São José Lapa, atriz que dá a cara contra Donald Trump, o candidato dos Republicanos. Basta circular pelas redes sociais para se perceber que os portugueses não suportam o milionário de cabelo ridículo. Rodrigo Moita de Deus, comentador e jornalista, prontificou-se a ser a voz contra Hillary Clinton. Rodrigo ataca Hillary pelo seu calculismo de política profissional e defende a coerência do discurso de Trump, enquanto São José acha que Trump é realmente perigoso e um palhaço, considerando muito importante o facto de Hillary ser mulher.

A dada altura, entre gargalhadas e troca de alfinetadas, Rodrigo vai enaltecendo uma característica de Trump, o facto de pensar pela sua cabeça e ter ideias. «Pode ter ideias, mas são terríveis», diz São José. Mas Rodrigo não se fica: «O Trump é um imediatista, sabe que qualquer coisa polémica que diga equivale a mais três minutos de tempo de antena só para dar explicações… Transformou-se num grande fenómeno de comunicação, num apresentador de televisão em ponto gigantesco. Como hostilizou grande parte da imprensa e mais de metade dos opinion makers, qualquer tempo de antena que ganhe já é uma conquista… Quanto pior lhe fazem, mais ele gosta.»

Então e se o homem ganha mesmo? São José diz ter a convicção de que isso não acontecerá, mas adverte para os perigos: «Ele pode vir a ser um dos grandes vilões da humanidade. A sua personalidade é reveladora de alguém que quer sempre mais. E o gajo não vai abrandar quando chegar ao poder. É doente. Há ali qualquer coisa de megalómano excessivo.» «Ele está em campanha e isso de ser megalómano e mostrar a sua riqueza tem que ver com um fenómeno dos americanos. Na América ter dinheiro é meritocracia », responde Rodrigo, que clarifica: «Provavelmente, nunca votaria no Trump, mas o que sei é que está ali um homem livre que, em cima do púlpito, diz o que lhe vai na alma. Isso acontecer hoje na América é extraordinário. Trata-se de um homem que está profundamente divertido porque está livre. Só isso é uma corrente de ar fresco no panorama da política americana. Trump é tudo menos estereotipado, é diferente e não está preocupado com as consequências das suas palavras. Tenho admiração e respeito por homens livres.» São José quase não quer acreditar no que diz Rodrigo e admite que Hillary tem defeitos, mas insiste que é um mal menor.

Fiel ao lema tudo menos a Hillary, Rodrigo até preferia que o candidato dos democratas fosse Bernie Sanders: «como secretária de Estado teve erros pequeninos: apenas lixou dois países… Enfim, pode acontecer a qualquer um», ironiza. «Ela é o protótipo do político profissional e esta sua campanha é prova disso, só que de um profissionalismo totalmente plástico. É tudo tão preparadinho, os discursos são todos iguais, com as frases obrigatórias… Não há ali nenhuma ideia, até porque as ideias são perigosas: dividem o eleitorado. O Bernie, ao menos, era honesto. Não suporto a Clinton porque há vinte anos que quer ser Presidente, é uma obsessão.» O sorriso de contra-ataque de São José é seguido de um rol de defeitos do canditado Trump: «Não tem escrúpulos. É o ícone do capitalismo… E, depois, repito, é maluco, além de que é um homem desejoso daquilo que os atores gostam: protagonismo.»

No fim, de tréguas a Clinton, Rodrigo elogia o discurso de Trump na última convenção republicana: «Ele falou de dar empregos a americanos, privilegiar as empresas nacionais em relação às estrangeiras e investir milhões de dólares públicos na economia. Se tirarmos de lá o Trump e pusermos o Jerónimo de Sousa aquilo bate certo com um governo patriótico de esquerda. Enfim, é um discurso de intervencionismo antineoliberal e antiglobalização.»

Terá Rodrigo consciência de que a sua rejeição militante a Clinton vai dar que falar: «Claro que tenho. Vou ser chamado de racista e besta.» «Não, coitado, não vai ser nada, mas é claro que é um estigma. Também tenho amigos meus que põem o prato na balança entre os dois candidatos… », tenta conciliar São José.


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SÃO JOSÉ LAPA
Das atrizes e encenadoras mais amadas em Portugal. Aos 65 anos está de novo em força nos cinemas. Acabou de se estrear n’A Canção de Lisboa, de Pedro Varela, em que interpreta uma snob lésbica e falida e, a seguir, vai direto para a rodagem de Alfama em Si, de Diogo Varela Silva. Na televisão será sempre recordada pelo seu humor nas séries de Herman José, nomeadamente Casino Royal e Humor de Perdição.

RODRIGO MOITA DE DEUS
É neste momento um dos comentadores e cronistas políticos mais em voga. Pode ser visto na RTP no programa O Último Apaga a Luz (a nova temporada começa em setembro) e lido no seu blogue 31 da Armada. É também o diretor do News Museum, em Sintra, e antes teve já uma carreira entre o jornalismo e o marketing. Tem 39 anos e é pai de três filhos.