As fotografias exclusivas de Rui Ochoa mostram um pouco do que se pode esperar do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Pré-publicação de um livro editado nesta semana.
Na noite das eleições presidenciais, lá estava ele: uma mancha de cabelo branco aparecia por detrás das bandeiras à frente das quais o Presidente eleito Marcelo Rebelo de Sousa havia de discursar, na Faculdade de Direito. Era o Rui Ochoa. Ou melhor, era a máquina fotográfica do Rui Ochoa. Porque quando está em alerta máximo, ele mal se vê por detrás da sua lente, que lhe aguça o olhar perscrutante sobre a realidade. Já o tinha visto durante a campanha, no carro de Marcelo, atrás de Marcelo, à frente de Marcelo, ao lado de Marcelo, recuado, fotografando os que fotografavam Marcelo.
Rui Ochoa acompanhou a campanha presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa e dessa odisseia surgiu um livro – além de mais de 40 mil fotografias – chamado Afectos, do qual hoje publicamos algumas fotografias – acompanhadas de um texto inédito e algumas fotos extra. É um diário de bordo dessa campanha que até ao Ochoa surpreendeu, ele que cobriu campanhas políticas toda a sua vida de jornalista. Por dentro – foi fotógrafo de Cavaco Silva e Sá Carneiro – e por fora, relatando, em imagens, para os jornais onde trabalhou, sobretudo para o Expresso, onde fundou o inédito cargo de diretor de fotografia, um lugar que enobreceu, aos olhos da classe, essa função que até aos anos 1980 era relegada muitas vezes para segundo plano, a dos «bate-chapas».
Cruzei-me com o Ochoa no Expresso, eu jovem repórter e ele, apesar de decano e respeitado, disputando comigo na energia, na vontade de trabalhar, de fazer mais um quilómetro para ir sacar aquela foto, de se pôr de joelhos para tirar o melhor ângulo. Quando Portugal ardeu, num desses verões quentes do início deste século, o Rui estava à minha porta às cinco e meia da manhã para irmos atrás do fogo e no rescaldo da tragédia. Era o primeiro a acordar e o último a sair do cenário de reportagem. Com ele sedimentei a ideia de que só com trabalho se chega mais longe, se consegue melhor e que, quando tudo corre mal, a transpiração é mais importante do que a inspiração.
Mas não só. O Ochoa é, digamos, o especialista do acesso. Acesso é palavra-chave para todos os jornalistas e sobretudo para os fotógrafos. É preciso chegar perto, ganhar confiança para contar a melhor história, ter a melhor imagem. Construída com uma vida profissional longa – que começou por alturas do 25 de Abril no Jornal de Notícias –, o Ochoa tem uma rede de contactos notável que se estende a todos os quadrantes políticos.
É disso, desse acesso, que se faz este livro sobre a campanha de Marcelo Rebelo de Sousa. Dos lugares onde Rui Ochoa esteve e mais ninguém. Do carro onde o candidato andava até ao gabinete da faculdade, da família e dos amigos. Há, no entanto, e é preciso dizê-lo, uma sensação estranha quando olhamos para estas fotografias. Há uma sensação de proximidade. Quase de déjà vu. Apesar de serem fotografias exclusivas, publicadas em primeira mão, muitas delas nem sequer fazem parte do livro. Conhecemos tão bem Marcelo Rebelo de Sousa que podíamos já ter estado ali.
Este vai ser um Presidente diferente. São os diversos cambiantes dessa diferença que nos mostram as fotografias exclusivas de Rui Ochoa que mostramos nesta semana.
[Publicado originalmente na edição de 28 de fevereiro de 2016]