Em Animais Noturnos, o filme do criador de moda, que se estreia esta semana, Aaron Taylor-Johnson é um cruel e sádico assassino de estrada. Antes já foi John Lennon, herói de kung fu e vingador. Uma estrela britânica que falou connosco vestido à Tom Ford, como não poderia deixar de ser…
O que é isso de um ator à Tom Ford? Tivemos Colin Firth em Um Homem Singular, o primeiro do criador de moda. Agora, há mais três: um frágil Jake Gyllenhaal, um másculo Michael Shannon e um fascinante vilão na pele de Aaron Taylor-Johnson, um dos atores ingleses da moda. O trio masculino que assombra a mente de Amy Adams em Animais Noturnos, o filme que está a fazer de Tom Ford o cineasta de quem se fala. Foi com Aaron que estivemos numa manhã fria de Londres. O sex-symbol inglês estava a promover Animais Noturnos, no qual encarna Ray Marcus, um violento psicopata texano. Uma figura sinistra que se comporta como uma rock star, mas que é capaz de matar a frio uma mãe e a sua filha adolescente numa estrada perdida.
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Na verdade, sai das páginas de um livro que a personagem de Amy Adams lê e com a qual se confronta. Ou seja, é uma figura projetada. Desafio estimulante para um ator que se diz orgulhoso do filme, mas que ainda a recuperar do quebra-cabeças que foi entrar na mente (e corpo) de um monstro. «Demorei algum tempo a afastá-lo de mim. Não foi agradável entrar na pele deste tipo. Preparei-me durante três meses: deixei crescer o cabelo, as unhas e a barba. Pesquisei imenso sobre serial killers e psicopatas. Na verdade, fiquei três meses sem dormir. Tornei-me mesmo um animal noturno. Estava numa onda muito negra e tive de ter cuidado: tenho família, tenho crianças… Vivi um período pouco saudável, muito tóxico», confessa. Um ator do «Método», que antes tinha vindo de um blockbuster, o último Avengers: Vingadores: A Era de Ultron, em que tinha um visual muito mais limpo e provocava suspiros no público feminino.
Em toda a sua a carreira, curta mas intensa, Hollywood catalogou-o como estrela poster boy, ou seja, ator herói.
Fez dois filmes da série Kick-Ass, em que se transformava de rapaz totó em super-herói atlético, protagonizou o último Godzila e seduziu em Anna Karenina, de Joe Wright. Estava «vendido» como galã britânico para todas as ocasiões. Este papel em Animais Noturnos vem estilhaçar as coisas.
Mas o ator de 26 anos não parece preocupado e confessa-se fascinado por Tom Ford: «Ele é incrível! Foi espantoso poder ser dirigido por ele… A maneira eloquente como se exprime… meu Deus. É de uma precisão incrível e sabe exatamente o que quer enquanto filma. O Tom é um cineasta a sério. Ninguém diria que este era apenas o seu segundo filme, parecia mais uma figura icónica, tipo Hitchcock, com laivos de Fellini, sobretudo na maneira de estar. Estava seguro daquilo que queria a nível das personagens e da estética. Com ele, senti-me a voar.»
Em Inglaterra, a imprensa mais alcoviteira gosta dele. Pudera, é novo, tem uma família e é casado com Sam Taylor-Johnson, artista plástica bastante mais velha e famosa, que entretanto se tornou realizadora (dirigiu recentemente o inenarrável As Cinquenta Sombras de Grey) e venceu um cancro mediático. Sam e Aaron são daqueles casais artísticos inesperados, estando agora a viver nos EUA. Muitos ficaram espantados pela atitude dela que a dada altura passou a assinar Sam Taylor-Johnson em vez de Sam Taylor-Wood, o seu nome de solteira.
De alguma forma, Aaron não é o mais previsível dos atores galãs. E a conversa sobre o seu amor na vida real passa pelo tema do filme: «No meu entender, Animais Noturnos é muito sobre o Tom e as suas noções de fidelidade. Ele está há muitos anos com o seu companheiro e é muito bonito ver uma ligação tão forte e com tanto amor. Parece que nos indica que quando encontramos alguém que amamos é para ficarmos para sempre com essa pessoa e nunca a largarmos. O filme mostra-nos que nunca devemos abandonar quem amamos. A personagem do Jake Gyllenhaal chega a dizer: talvez nunca mais sintas isto… É uma noção que também me diz muito. Nesse aspeto, é um filme muito tocante e é o que sinto na minha relação com a minha mulher. Quero guardar o que temos para sempre! É muito bonito ter este elo na minha vida.» Foi em 2009 que se conheceram, ele e Sam. Ela dirigia-o ainda muito novinho em Para Lá da Música, a história do começo dos Beatles e em que Aaron era um muito credível jovem John Lennon, em Liverpool. Os Fab Four são pródigos nisto de formarem casais…
No final, perguntamos se acha o mesmo que Daniel Craig, que diz que um ator sente-se diferente quando usa um fato Tom Ford. Aaron sorri e mostra o interior do seu casaco, onde se lê Tom Ford. Chama-se a isto vestir a «camisola» do seu realizador: «O Daniel tem razão. Absolutamente. Já vestia Tom Ford antes de trabalhar com ele. Por alguma razão ele é o melhor. Quando temos vestido um fato Tom Ford ficamos logo com outra postura, sentimo-nos a dominar. Eu pelo menos sinto-me mais elegante e mais cavalheiro. Tem que ver com os detalhes, com a textura… E a roupa dele tem que ver com os seus filmes…»
Se a carreira de Tom Ford no cinema continuar ativa, o homem vai conseguir o monopólio fashion em Hollywood…
A NOVA VAGA BRITISH
Há uma vaga de jovens atores ingleses com bom aspeto a vingar no cinema de Hollywood. É coisa cíclica e recorrente. O jovem Aaron Taylor-Johnson tem companhia e competição de respeito. A sua mulher, a artista plástica e realizadora Sam Taylor-Johnson (23 anos mais velha), tornou Jamie Dornan um ídolo pela sua participação no festim erótico As Cinquenta Sombras de Grey. Dornan não convenceu como ator mas toda a notoriedade do filme deu-lhe o boost que a sua carreira precisava. Outro britânico a impor-se é Sam Claflin, muito notado como jovem herói na saga The Hunger Games. Caflin tem aquela «aragem» muito posh que impressiona sempre os americanos. Até à data ainda não provou que é um ator de grandes transformações, mesmo quando fez de paraplégico em Viver Depois de Ti, de Thea Sharrock.
Depois, claro, há já um ator de culto. Chama-se Charlie Hunnam e nos próximos tempos vai ficar mais célebre que Donald Trump. Tem pronto a estrear o muito aguardado The Lost City of Z e o novo A Lenda de Rei Artur, de Guy Ritchie. A sua especialidade é a demonstração de uma nova virilidade britânica. Desta vaga, destacam-se também Theo James, que cumpria o que se pedia nos filmes adolescentes da série Divergente, ou seja, piscar o olho ao público «teen» feminino; e Jack O’Connell, o mais talentoso desta vaga, excelente em 71’ e no último de Jodie Foster, Money Monster. Hollywood está bem servida de galãs britânicos jovens…