A febre da passagem de ano: superstições e tradições

brinde

Vestir cuecas azuis ou amarelas? Comprar passas? Bater tachos? Cumprir rituais?

O Natal foi há dias e a passagem de ano está à porta. Todos os anos, a mesma história. O que fazer na última noite do ano? Opções não faltam, a dificuldade é escolher. Tranquilidade ou loucura? Cumprir ou ignorar tradições e superstições? A febre da última noite do ano anda à solta e a temperatura costuma subir, mesmo com o frio que já se sabe certo.

Nesta altura, também há rituais. Elísio Estanque, sociólogo e investigador, lembra que qualquer tradição que se preze tem força, muita força, e que dobrar um ano é um momento em que se pensa na vida. «É uma celebração secular, uma viragem de página, o início de um novo recomeço. A passagem de um ano para o outro implica determinado tipo de expetativas, de esperanças. É um tempo de balanço», refere à NM. Mesmo que o sol nasça da mesma maneira no dia 31 de dezembro e 1 de janeiro. «A expetativa que se deposita num novo ano está ligada à própria natureza humana. Um novo ano, uma nova vida, um novo capítulo», comenta. Mas, como em todos os momentos, é preciso fazer contas à vida, mesmo que haja menos sofrimento no que se gasta. «Os apelos ao consumismo, que tradicionalmente estão associados a esta época de Natal, ajudam a vivenciar este período com maior entusiasmo». E povo que vive sob a batuta da austeridade mais se agarra às tradições populares para expurgar males.

As tradições associadas à passagem de ano servem, no fundo, para dar as boas-vindas ao novo ano e fazer as devidas despedidas do antigo calendário. Não se percebe bem de onde vêm, como nasceram, nem tão-pouco são obrigatórias. Mas, pelo sim pelo não, há quem as cumpra à risca. Não são poucas e há para todos os gostos. Comer 12 passas, uma a cada badalada da meia-noite, e pedir desejos para os 12 meses do ano. Brindar com champanhe. Vestir roupa interior de cor azul para atrair o amor e a sorte – e se for a estrear tanto melhor. Mas há mais cores à escolha para encaixar no que se ambiciona para o novo ano. Azul significa sorte, vermelho atrai o sucesso no amor, o amarelo traz saúde às finanças, o branco a paz, o verde a saúde no corpo, o castanho alegrias na carreira profissional. Há quem diga que se deve colocar o pé no ano novo com dinheiro no bolso para que esse estado de abundância se prolongue pelos 365 dias seguintes. Subir a uma cadeira com dinheiro na mão, no bolso ou no sapato, também dá sorte. Acender todas as luzes, abrir todas as portas e entrar em casa com o pé direito igualmente. Fazer barulho com tampas de panelas, apitos ou buzinas, ajuda a espantar os maus espíritos. Dar um mergulho no mar no primeiro dia do ano novo faz bem. Deitar-se em cama com lençóis novos dá sorte no amor. E no céu deve haver fogo-de-artifício. Sempre.

A última noite do ano não é uma noite qualquer. As sugestões abundam, as ideias atropelam-se na internet, há opções para todos os feitios e carteiras. Cá dentro. Lá fora. No recanto do lar. No hotel mais sofisticado. Na rua. No bar do costume. Em casa de amigos. Sossego ou agitação? Concertos ao ar livre, espetáculos gratuitos, momentos mais requintados? Não é fácil decidir.

Outros países, outras tradições

Cada cabeça, sua sentença. Cada país, suas tradições. Os filipinos vestem roupa às bolinhas, por terem a mesma forma das moedas, para um ano financeiramente próspero. Os mexicanos limpam a casa e lavam as roupas. As irlandesas solteiras dormem com azevinho debaixo da almofada para encontrarem um novo amor. Os espanhóis preferem uvas e não passas para as 12 badaladas. Os italianos escrevem os desejos num papel que atiram para a lareira. Os brasileiros, com temperaturas acima de 30.º graus, vestem-se de branco e atiram flores ao mar. Em Londres, há fogo-de-artifício nas margens do Tamisa acompanhado pelas badaladas do Big Ben. Em Paris, brinda-se ao novo ano com flutes de champanhe nos Campos Elísios. Em Nova Iorque, a festa concentra-se em Times Square.