A antestreia das arábias

É um épico clássico imortal. Mais de três horas e meia de filme que consagraram Peter O’Toole, Omar Sharif e o realizador David Lean. A antestreia de Lawrence da Arábia em Portugal aconteceu a 26 de novembro de 1963, no Tivoli, um ano depois da estreia mundial.

Foi um acontecimento por diversas razões: a antestreia foi patrocinada pelo Diário de Notícias e as receitas revertiam para a Cruz Vermelha Portuguesa; o filme tinha sido um estrondoso sucesso mundial, com sete Óscares arrecadados, entre eles o de melhor filme, melhor realizador, melhor ator (Peter O’Toole) e melhor ator secundário (Omar Sharif); e ainda, inaugurava-se com Lawrence da Arábia a nova tela dimensional de setenta milímetros no Tivoli Filmes.

Razões de sobra para, numa noite fria do fim de novembro, uma multidão de gente juntar-se à porta do cineteatro lisboeta, na Avenida da Liberdade. Terá ajudado o facto de entre os ilustres espetadores se contarem membros do governo e do corpo diplomático inglês, assim como o chefe de Estado, o almirante Américo Tomaz, acompanhado da mulher e filhas, cuja chegada suscitou uma salva de palmas, devidamente assinalada pelo jornalista, que não podia demonstrar maior entusiasmo com o visionamento do épico inglês que, 53 anos depois, continua ser um incontestado clássico do cinema.

«Não podia ser mais auspiciosa a inauguração da tela dimensional dos setenta milímetros no Tivoli Filmes, com o Lawrence da Arábia. E para já a afirmativa de que a produção é exatamente o que toda a gente esperava: grandiosa, emotiva, pletórica de motivos de interesse. Escrevemos estas palavras no início da apreciação com o intuito meditado de esclarecer que desta vez a realidade supera a fama dos prémios e os slogans publicitários.»