
Feliz Natal, querido Júlio.
No limiar do novo ano, pergunto-me se aproveitei bem este ano, se realizei tudo o que me propus fazer quando fiz questão de comer 12 passinhas e pedir um desejo para cada uma delas. A resposta é não!
Ou fui demasiado ambiciosa ou não me esforcei o suficiente. Talvez um pouco das duas. Esta conclusão obriga-me a sair da minha zona de conforto para que possa ir mais além e dar mais de mim aos outros. Por isso, aqui fica o meu compromisso para 2016: sair da minha zona de conforto, arriscar mais e, quem sabe, petiscar.
Falava nesta semana com alguém que me afirmava que tinha preferência por uma determinada posição sexual porque assim conseguia controlar mais, decidir o momento em que o parceiro podia avançar para a penetração e o próprio ritmo da «cavalgada». Ela justificava dizendo-me que «assim sinto-me mais confortável», referindo-se a uma posição, que pela minha análise era claramente um «conforto desconfortável, para ela aceitável», que é outra coisa.
A sua opção inibia qualquer possibilidade de se deixar ir, dificultava a excitação sexual, impedia o relaxamento físico, pélvico e psicológico, dificultava a expansão da vagina, o que tornava a penetração pouco satisfatória. A posição em causa, apesar de lhe dar a perceção de controlo, cria, ao contrário do que ela pensa, condições físicas e psicológicas antagónicas à concretização de um coito satisfatório. Reconhecer que aquilo que consideramos como um dado adquirido pode não ser o melhor para nós só é possível através de introspeção ou no diálogo com o outro. A partir daí estamos em condições de arriscar mais, criar situações que nos deixem ir mais além e assim abrir caminho para chegar mais depressa aos nossos objetivos.
Frequentemente oiço casais dizerem que aquilo que um deles disse num determinado momento do passado foi determinante para que a vida sexual do casal ficasse estagnada naquele ponto. A partir dessa data, por medo ou por vergonha, vai-se instalando gradualmente um regime de palavras não ditas, perceções erradas e criando uma intimidade com demasiados segredos vividos a solo para ser realmente gratificante para os dois. Qual é a vantagem do fingimento e das inverdades na intimidade? Serve a quem?
Dir-vos-ei que não vale a pena fingir que se gosta de estar com o outro quando de facto algo está a dificultar essa harmonia. Não vale a pena dizer que se gosta só para que o outro não se vá embora. Não vale a pena fazer sexo quando não se deseja fazê-lo. Não vale a pena fingir que se tem prazer quando a excitação está ausente. Não vale a pena fingir um orgasmo quando só penaliza a mulher. Não vale a pena picar o ponto quando a sexualidade já é só isso mesmo. E, acima de tudo, não adianta empurrar com a barriga uma intimidade desgastada à espera de que o Pai Natal ofereça uma solução mágica. O melhor que tem a fazer é sair da sua zona de conforto, porque @ pai/mãe Natal está dentro de si. Arrisque e Boas Festas!
[Publicado originalmente na edição de 20 de dezembro de 2015]