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A primeira fase já passou. Foram duas semanas intensas e cansativas. No final do último dia, ouvir música era já um exercício penoso para mim, tantas foram as horas passadas a fazê-la, escutá-la, analisá-la e escolhê-la.

Duas semanas antes, a segunda-feira começou calma, com a disposição dos instrumentos na sala maior: as guitarras frente a frente, separadas com biombos para o som captado de uma não se imiscuir no som captado da outra, o contrabaixo a fazer um triângulo com as guitarras, também delimitado o seu espaço por biombos.

Pelo meio, o caminho até a minha sala, mais pequena, com uma janela mesmo atrás de mim, por onde espreitava a verde trepadeira nos tempos mortos entre o ajustar de um microfone e o afinar as cordas.

Todos perto uns dos outros, mas o mais isolados acusticamente possível, para que o microfone cirurgicamente plantado em frente a cada instrumento não se distrair com o som que lhe chega dos outros à sua volta. A terceira sala estava preparada para receber a bateria e a percussão que iriam marcar o ritmo de algumas das canções.

A primeira manhã foi então passada a «micar» (na gíria técnica) os instrumentos, ou seja, a escolher qual o melhor microfone para cada um e qual o melhor sítio para o colocar para que seja o mais fiel possível ao que está a captar. Antes de almoçar, ainda fizemos uns takes da primeira canção. É preciso que o ritmo do estúdio se cole à nossa pele. Primeiro, temos de «fazer» o nosso som. Isolados uns dos outros, temos de nos ouvir por auscultadores, controlados por uma maquineta que permite que escolhamos volumes e panorâmicas de cada instrumento.

Antes de almoçar, ainda fizemos uns takes da primeira canção. É preciso que o ritmo do estúdio se cole à nossa pele. Primeiro, temos de «fazer» o nosso som. Isolados uns dos outros, temos de nos ouvir por auscultadores, controlados por uma maquineta que permite que escolhamos volumes e panorâmicas de cada instrumento.

Depois, temos de nos habituar a ouvir as músicas assim, no estúdio, a seco. E, por fim, a mente tem de se preparar para a maratona de concentração que é gravar um álbum. A fome apertava e decidimos fazer uma pausa.

Retomados os trabalhos foi produtivo. Os dias seguintes também. Tínhamos 15 canções para gravar em nove dias e ao fim do quarto dia já havíamos gravado dez. A rotina provou ser a nossa melhor aliada: começávamos os trabalhos às 11h30 da manhã. Pelas 14h30, parávamos para almoçar, retomando os trabalhos cerca de uma hora e meia depois. E estendíamos o dia de trabalho até às 21h00.

No nosso método de gravação, todos gravamos a nossa prestação final ao mesmo tempo, como se estivéssemos num concerto. Há outras formas de registar uma canção: pode-se tocar o tema com todos e depois cada instrumento vai colocando a sua prestação final por cima. Mas desde o início que percebemos que fará mais sentido para a nossa música que as coisas se passem todas ao mesmo tempo.

Claro que a voz, sendo um instrumento de desgaste rápido, é sempre uma incógnita. Pode aguentar as oito horas diárias de canto, ou não. Nas gravações deste álbum, portou-se bem e as vozes que foram gravadas são as finais. Minto: o material que existe seria suficiente para ficar definitivo, mas a minha exigência obrigará a que volte a gravar um ou outro verso que achar que não ficou bem «dito». Depois de três álbuns gravados, já me conheço o suficiente para saber que nunca ficarei completamente satisfeita com o meu trabalho.

No entanto, aquilo que sai das colunas da régie agrada-me o suficiente para ficar optimista em relação ao resultado final. Ainda falta gravar cordas, coros, harpa e mais uns pozinhos mágicos que ficam em segredo até Fevereiro. Sairá em Fevereiro o álbum, pois. O mês dos enamorados. Que a nossa música vos possa enamorar, é aquilo que mais desejamos.

Sairá em Fevereiro o álbum, pois. O mês dos enamorados. Que a nossa música vos possa enamorar, é aquilo que mais desejamos.

ANA BACALHAU ESCREVE DE ACORDO COM A ANTIGA ORTOGRAFIA
25-10-2015