Hugo, o sensei

Aprender karaté pode ser uma das mais eficazes formas de combate à exclusão social. É nisso que acredita Hugo Pedro, 35 anos, um cinturão negro que dá aulas voluntariamente a crianças de bairros carenciados.

É um salto para o futuro, este que se vê Hugo Pedro dar na fotografia. Há dez anos que este diretor de operações de uma empresa de sistemas de informa­ção dá aulas de karaté – voluntariamente. E o seu projeto de combate à exclusão social pelas artes marciais tem dado frutos. Há hoje dez formadores e mais de 160 crianças a frequentar o Núcleo Karaté Shotokan de Lisboa. É esse o nome da associação sem fins lucrativos que ele fundou.

«Trabalhamos com vários clubes e escolas, nomeadamente na Graça e em Marvila, onde servimos populações com grandes carências», diz com um discurso claro, de quem está habituado a dar instruções. «Mas o nosso sonho é termos instalações próprias, e estamos a trabalhar nesse sentido.»

O Honbu Dojo, que em japonês significa «escola-sede», abrirá portas ainda este ano, junto à Rotunda do Relógio. «As aulas serão gratuitas para alunos com necessi­dades financeiras.» É, também, o que acontece hoje. «Há alunos que pagam mensalidades e outros que são empenha­dos mas vêm de famílias sem possibilida­des financeiras. Esses, nós apoiamos.»

Desde que começou a prestar serviço voluntário, Hugo encontrou crianças com histórias que o marcaram. Duas irmãs órfãs de pai, fragilizadas por um orçamento familiar baixo, que cresceram com a modalidade. Hoje, a mais velha é monitora no núcleo e a mais nova já ganhou um campeonato nacional. Ou um rapaz que também é hoje professor, e que há uma década passava os dias sozinho, porque a mãe passava o dia a trabalhar. «Tem bom aproveitamento escolar, excelente desempenho físico, inverteu todo o risco a que estava exposto.» O karaté, diz o sensei, estimula a concentração, a disciplina e o método. «E transmite a ideia de que a recompensa exige esforço.»