Tu e eu, um holograma. Os outros todos, um holograma. Os cães, gatos, abelhas, galinhas, baleias e tubarões, também hologramas. As flores primaveris, as árvores carecas no Inverno, o frio, a chuva, a brisa quente no Verão, nada mais do que hologramas.
Halo grams ou hollow grams. Uns quantos, míseros gramas de halos vazios. Será uma imagem mais sci-fi do que sermos apenas pó. No entanto, a lógica parece ser a mesma. Partículas de pó que se juntam para formar imagens fortes o suficiente para convencer a mente e entreter o espírito e partículas de pó que se desintegram no fim de tudo.
Poderia ser apenas um argumento passado a filme de cinema. Uma matriz tece uma realidade construída a computador que ilude o corpo, cativo de uma máquina que precisa da sua energia para se alimentar e o engana, assim, com uma realidade a fingir.
Parece que o filme pode ser real – assim o diz uma nova teoria, e tudo o que vemos e sentimos pode fazer parte de um holograma. Diz a teoria que as leis da Física se explicam mais facilmente num universo a duas dimensões do que a três e que talvez seja que a razão pela qual assim é se deve ao facto de vivermos programados para ver a três dimensões, funcionando apenas a duas, como uma televisão.
Vivemos numa sitcom, pois então. Aqui dentro, nós, as personagens, percebemos tudo como se fosse real e a três dimensões. Mas quem está do lado de fora percebe que tudo aquilo é ficcional, tudo aquilo se move apenas a duas dimensões. Haverá, então, se crermos nesta teoria, alguém a observar-nos do lado de fora, como nós observamos as séries de televisão? Ou a admirar- nos como admiramos as pinturas bidimensionais que enchem os museus?
Se eu fosse uma pintura, gostaria de ser uma Demoiselle d’Avignon, angulosa e lançando uma estranheza a quem me olha, ao mesmo tempo incómoda e cativante.
Será por isso que se diz que há uma figura divina que está a ver tudo o que fazemos? Serão os livros em que tudo fica registado uma espécie de servidor gigamonumental que irá um dia provar se a minha performance nesta Terra é digna de Óscar ou de Razzie?
Mas e se tudo o que parece ser não é, como ficam os nossos sentimentos? Aquele momento que me deixou marcas nunca existiu. Logo, a dor que ainda me provoca a sua lembrança também não existe. A barreira entre o sonho e a realidade esbate-se e fico sem saber se os sonhos são meus ou se são da matriz que me criou. Ou então, também poderá ser que o que sonho seja a minha realidade e o que vivo, a realidade de quem comanda a matriz.
Se tudo se pudesse resumir a uma programação de computador, a poesia teria que equação? E para onde vai a consciência depois de morrer? De volta à matriz? Será uma matriz generosa, porque permite que possamos chegar à conclusão de que ela pode existir. Dotou-nos de inteligência suficiente para podermos abraçar o seu conceito.
Não me interessa muito ter a certeza do que andamos aqui a fazer e do que acontece quando deixamos de estar aqui. Afinal, isso sempre foi do domínio da crença, da fé. Não me parece que a realidade, aquilo que existe para além daquilo que observamos através dos cinco sentidos que limitam a forma como experimentamos o «real» e a partir dos quais o construímos, pretenda que a possamos observar com clareza.
Se houver a matriz-mãe, essa realidade à qual não podemos aceder enquanto estivermos ligados a este mundo holográfico, talvez seja que um dia nos possamos juntar a ela. Isso fica no domínio do sexto sentido, da quinta dimensão, ou da Fé, conforme preferirem.
ANA BACALHAU ESCREVE DE ACORDO COM A ANTIGA ORTOGRAFIA
13-9-2015