Partimos ao final do dia para chegar a Maputo na madrugada seguinte. Apesar de longo, o vôo não custou a passar, entre os filmes vistos e o dormitar embalado por alguma pequena turbulência de circunstância.
À chegada, o vento cortava o calor que se começava a impor. É quase Inverno em Moçambique, o que significa que as temperaturas andam pelos 20 e poucos graus e há pouca humidade no ar. Uma Primavera para nós, portugueses, portanto. No hotel, preparamo-nos para descansar um pouco mais antes do almoço.
No tempo que nos resta até ao pôr-do-sol (o sol põe-se às 17 horas no Inverno, em Moçambique), aproveitamos para ir a um sítio, no cimo de Maputo, onde quase enganamos o sol. É que deste lado do continente africano, o sol nasce no mar e põe-se na terra. Só que ali, onde estávamos, o miradouro junto ao mar quase que nos convencia do contrário.
À noite, fomos convidados pelo cônsul de Portugal em Maputo para uma recepção aos artistas portugueses e moçambicanos que iriam participar nas comemorações do Dia de Portugal. Falou-se de «marrabenta», de política, de comida e de maningue* coisas.
No dia seguinte, levantámo-nos cedo para ir à televisão. Conversámos, tocámos e aprendemos a dançar a «marrabenta», uma canção tradicional moçambicana. Depois de almoço, passeámos um pouco pela cidade, vimos a estação de comboios e fomos à Casa Elefante comprar capulanas.
Ao final da tarde, rumámos à escola portuguesa, onde iria ser o concerto no dia seguinte, para fazer o ensaio de som. A escola tem um espólio considerável de quadros de pintores moçambicanos e expõe-nos nas paredes dos seus corredores. É um absoluto privilégio poder passar por um quadro de Malangatana todos os dias, enquanto se estuda acerca da história da arte moçambicana.
O dia seguinte começou já perto da hora de almoço, para que toda a comitiva pudesse descansar convenientemente para o concerto que se iria realizar pelas 17.00, ao anoitecer.
Quando entrámos no recinto, um mar de gente dividia-se entre o palco onde estavam a decorrer os concertos de artistas moçambicanos e portugueses e as bancas que vendiam sardinhas e outros petiscos portugueses. Afinal de contas, comemorava-se o Dia de Portugal.
Quando entrámos em palco, percebemos que teríamos um público activo e interessado. Fez-se a festa, cantou-se uma canção moçambicana em Xangana com o Stewart Sukuma e comemorou-se da melhor forma o Dia de Portugal: com cultura.
No dia seguinte era dia de folga. Aproveitámos para conhecer a península de Macaneta. A viagem até lá faz-se de batelão e, depois, de carro por uma estrada de terra batida que nos leva até à imensa língua de areia de Macaneta. Um vento frio lembrava-nos que era quase Inverno em Moçambique, no entanto, os 24 graus de temperatura fora e dentro de água compensavam a frescura da aragem e assim passámos o único dia de folga que tivemos nesta viagem: aos mergulhos.
A semana que se avizinha trará um concerto em São Tomé e Príncipe. Voamos de Maputo para Lisboa num dia e de Lisboa para São Tomé na manhã seguinte. Certos de que será uma viagem cansativa, temos a certeza de que ficará registada na memória com o mesmo carinho com que lembraremos Maputo e as pessoas que nos acolheram de forma excepcional.
* Maningue: expressão moçambicana que significa «muito».
ANA BACALHAU ESCREVE DE ACORDO COM A ANTIGA ORTOGRAFIA
14-6-2015