Vinhos para beber ou guardar?

Notícias Magazine

Esta é a pergunta mais frequente dos clientes de boas gar­rafeiras. O vinho é bom, o produtor fiável, o preço aceitável para a qualidade em causa… mas não será cedo para o beber? Quase sempre a resposta é sim. Estamos a beber os vinhos cedo demais.

Saber qual o momento ótimo de con­sumo de um vinho é uma arte. Além da vida própria e personalidade de cada vinho, os fatores a ter em con­ta são muitos, mas há alguns aspetos que po­dem ajudar a responder à pergunta sacra­mental: beber ou guardar.

Devemos procurar sobretudo o equilí­brio. Ou seja, que não tenha, dentre os com­ponentes álcool, acidez a taninos, nenhum que se evidencie isoladamente como domi­nante. Quando além de equilibrado é com­plexo, tanto de aromas como de gosto, e há uma boa construção do conjunto acidez–taninos, podemos encaminhar as garrafas para a cave, onde irão vagarosamente es­tagiar e evoluir. O que acontece com o tem­po dentro de uma garrafa? Os taninos ar­redondam, ou amaciam, a acidez faz um trabalho lento de harmonização do néc­tar e o conjunto fica maior. Os vinhos que apresentamos estão prontos para beber agora, mas vão beneficiar muito de 2 anos ou mais. Do Monte da Ravasqueira, em Arraiolos, chega-nos um novo Sangiove­se, de recorte enológico impecável, com as notas aromáticas típicas ligeiramente herbáceas e de tabaco a orlar a sempre pre­sente cereja madura. Dentro de um par de anos, dará muito prazer beber, e agora é já um bom demonstrador da casta. Tam­bém do Alentejo, vem o Alfrocheiro pro­posto pela Herdade das Servas, numa ver­são cheia de erudição da casta beirã. Neste caso, o vinho é todo ele poderoso, e espera-se que ganhe comprimento na boca, em persistência e complexidade. Contrarian­do o que muitos julgam dos vinhos alen­tejanos, atingirá o zénite em cerca de 4 anos. O Dão, talvez campeão da elegância em Por­tugal, marca a sua presença com um vinho que além da dita apresenta um vigor invul­gar. Quem aguentar 10 anos, vai encontrar um diamante no lugar da garrafa que entre­gou ao sono profundo. Talhado para muitos e bons anos é o vinho do Porto Vintage. 2011 foi um ano exemplar, conseguindo criar vinhos que dão gozo a beber agora, pela concentra­ção e força que apresentam, mas que daqui a 30 ou 40 anos farão parte da galeria dos clás­sicos. Boas provas!