
Com o Natal à porta, aproxima-se um dos grandes clássicos da época. A par de Música no Coração e de uma das muitas sequelas de Sozinho em Casa, dentro de dois dias haverá, por esse país fora, milhares de pijamas a ser desembrulhados. Quem é quevai desembrulhá-los? Homens de todas as idades, solteiros e casados, divorciados e amantizados. Quem é que vai oferecê-los? As mães deles, claro.
Para muitos homens, a compra de roupa para dormir nunca foi uma preocupação. O mais certo é que a maioria deles nunca tenha sequer comprado um pijama na vida. Isso sempre pertenceu ao domínio das mães. E, a partir de certa altura, das mulheres. Bem vistas as coisas, os pijamas devem ser o melhor instrumento para medir o tamanho dos cordões umbilicais que elas nunca cortaram. E que eles nunca quiseram cortar.
«Porra, são pijamas, não são recalcamentos para os discípulos de Freud explicarem», pensarão alguns de vocês. Mas não é bem assim. Há vários níveis importantes que um homem deve passar para se tornar adulto. E este é um deles. Possivelmente o derradeiro. Um tipo só será verdadeiramente crescido no dia em que comprar um pijama pela primeira vez. Não precisa de os comprar sempre. A mãe pode continuar a desempenhar esse papel ancestral. Afinal, amamentar, vestir, proteger, ensinar e comprar pijamas a vida toda são as sequências naturais na evolução de um típico homem protegido pela progenitora. Nenhuma mãe está preparada para ouvir «Nunca mais me ofereças pijamas», e dizer isso é de uma crueldade atroz. Que elas vivam por muitos e muitos anos para nos oferecerem isso e muito mais. Mas, caramba, o dia chegará em que ele tem de se fazer homem. Homenzinho. Encher o peito de ar, contar até dez e entrar numa dessas lojas que… vendem pijamas.
As mulheres e namoradas desempenham um papel essencial nesta evolução. Só elas podem dizer-lhes, insistindo, que aqueles pijaminhas que a mamã oferece não são bons para a vida sexual dos rapazes. Que elas não conseguem excitar-se quando olham para eles com aquilo vestido. O mesmo se aplica à roupa interior, com cuecas do Rato Mickey, porcos voadores ou o Super-Homem, mas os pijamas são outro campeonato. Sobretudo porque são ofertas da mãe dele, e nenhuma mulher quer olhar para um homem que está prestes a dar-lhe um orgasmo e lembrar–se… da mãe dele. Estes avisos à navegação não podem vir de amantes de circunstância, aventuras de uma noite. Essas vão-se rir, comentar com as amigas, fazer chacota. Mas não lhes dizem nada. Para isso, precisam de ser muito desbocadas ou… namorar com eles. Só quando a confiança está conquistada é que um homem está preparado para dar crédito a uma informação dessas. Caso contrário, irá desvalorizar e achar que ela está a exagerar.
Usar roupa nas primeiras noites com uma mulher só se aceita se a indumentária for muito, muito cool. E se a ideia de despir aquilo for, por si, uma coisa excitante. Para ele e para ela. Acontece que os «pijamas de mãe» são, sobretudo… quentes. E maternais. E não vale a pena tentar explicar isto a uma mãe. Mães serão sempre mães. E, entre a perspetiva de ver o seu menino com uma vida sexual infeliz (ideia que dificilmente consegue associar a um pijama) ou a possibilidade de ele apanhar uma pneumonia, pois que não há grandes dúvidas. Mulheres há muitas, mãe há só uma e com a saúde não se brinca.
P.S.: E escusam de dizer que «homem que é homem» não usa pijama. Ou julgam que o Brad Pitt não dorme também com a camisola entalada nas calças e com as meias por fora?
[22-12-2013]