Sempre se fala mais de vinho do Porto ou Moscatel de Setúbal do que de vinho Madeira. E seguramente que das três é a bebida menos popular. Está na altura de de redescobrir esta maravilha.
As primeiras cepas terão chegado no século XIII e acredita-se que a primeira casta a conhecer os solos vulcânicos e o clima da Madeira tenha sido a Malvasia Cândida de Creta. Terão sido os mercadores que a trouxeram e, face ao seu bom e são desenvolvimento na ilha, outras se lhe juntaram. Entusiasmados, os lavradores proprietários das terras começaram a fazer as suas experiências, desenvolvendo uma forma muito especial de estagiar os vinhos e que consistia em aquecer depósitos a cerca de 50º C ao longo de um período de aproximadamente três meses. Esse processo, dito de estufa, ainda hoje é utilizado, mas considera-se mais natural e conducente a vinhos de melhor qualidade a técnica de canteiro, na qual as pipas com os vinhos são colocadas nas zonas mais altas – e quentes – das adegas. É cem por cento natural, é certo, mas francamente mais longo – o estágio pode demorar entre 20 e 120 anos. A qualidade e a complexidade são incomparavelmente superiores, por tudo se desenrolar à temperatura ambiente.
À semelhança do que acontece com os vinhos do Porto, os mostos são amuados, ou seja o processo de fermentação é interrompido pela adição de álcool vínico, tornando-os estáveis e resistentes. A diferença abissal em relação ao néctar do continente é que as uvas fundamentais do vinho Madeira são brancas: Sercial, Boal, Verdelho e Malvasia. Da Tinta Negra – antigamente designada como Negra Mole – fazem-se vinhos mais correntes e menos profundos, apesar disso curiosamente hoje com resultados muito convincentes por parte das principais casas. A sua reputação, contudo, não é a melhor. Outra coisa que separa o Madeira do Porto é a acidez fixa, muito mais elevada nos vinhos Madeira. É por isso que na boca são mais agressivos, mas também é essa a razão pela qual têm uma enorme longevidade. Se os vinhos do Porto são feitos para os netos, os Madeira são feitos para os bisnetos. Por razões históricas, desde o último quartel do séc. XVII que o vinho Madeira está indissociavelmente ligado a famílias inglesas: Blandy’s, Cossart Gordon, Leacock, etc. Mas também há famílias antigas madeirenses com uma história construída em torno dos vinhos Madeira de qualidade. A Barbeito, por exemplo, manteve ao longo do tempo a técnica de envelhecimento em canteiro. Todo um mundo por descobrir.