O agosto foi quente e inspirador. E Nuno Markl aproveitou todos os momentos para encontrar a mais bela história de amor alguma vez imaginada. Escreveu-a durante aquele mês de férias de 2013, bem perto de Ana, mulher e musa, e do filho de 4 anos. Chamou-lhe Por Ela e projetou-a para o cinema. Quem quiser pode contribuir para o financiamento do filme em porelaofilme.pt.
Era um sonho que tinha há muito tempo. «E que tinha de concretizar aos 42 anos porque, quando os fiz, fiz também um balanço da minha vida», diz Nuno Markl. «Um dos meus livros preferidos é o Hitchhiker’s guide to the galaxy [À Boleia pela Galáxia], do Douglas Adams, em que o número 42 é o do sentido da vida. E foi aí que pensei que já tive muitos projetos pessoais mas nunca nenhum partiu de mim.» Chegara, então, a altura de fazer uma longa-metragem.
Foi a mulher, Ana, que o espicaçou a escrever o argumento. «Um dia estávamos a especular sobre a possibilidade de uma mulher, amada por dois homens rivais, desaparecer de repente da vida deles. E de os dois saberem, melhor que ninguém, qual a dor do outro, e de, a partir daí, construírem uma amizade… aos solavancos.» A história dá corpo a uma tragicomédia bem disposta em que as fragilidades dos homens ficam expostas. «A personagem forte é ela e eles são dois tipos à toa, que tentam perceber aquilo que lhes está a acontecer, por causa de uma imagem épica de uma mulher», adianta.
São cerca de 130 páginas, inspiradas, escritas com fôlego e paixão. Deu-as a ler, primeiro à mulher, e depois a vários amigos. Todos gostaram. Mas a opinião crucial foi a de Jorge Vaz Gomes, realizador, com quem trabalhou no Canal Q, e que «percebe rigorosamente aquilo que estou a escrever e a maneira como pode ser transposto para a imagem».
Jorge leu o argumento numa noite e ia mandando sms a Nuno a dizer que já tinha chorado, já tinha rido e que lhe parecia ter já presenciado aqueles acontecimentos com aquelas personagens. «Reagi muito bem ao argumento», diz o realizador. «Há uns anos que o desafiava a usar a pena para desenvolver uma longa-metragem que fizéssemos em conjunto, e ele, logo que teve a ideia para este filme, demorou pouco mais de um mês a escrevê-lo. O guião tem grande qualidade, é muito provavelmente um dos melhores textos que alguma vez escreveu. E se me perguntarem se o filme tem tudo para ser um êxito de bilheteira eu direi que sim, pois estão reunidas todas as condições para se fazer um filme capaz de pôr as pessoas a rir e a chorar, com um ambiente que envolve profundamente o espectador na causa comum dos protagonistas.»
O exercício não foi fácil. O argumentista tinha que demonstrar a si próprio, e a quem lhe dizia que os homens não sabem escrever para mulheres, que era capaz de arranjar um perfil decente para Luísa, a personagem feminina. Quando falou dela à mulher, esta lembrou-se que a Ana Bacalhau, vocalista dos Deolinda, seria a pessoa ideal para a interpretar. Não queria uma supermodelo, mas sim alguém tipo vizinha do lado. Idealizei «uma mulher com muita força, graça, adorável e próxima das pessoas. E falei com ela.» «Primeiro, hesitei», diz Ana Bacalhau. «Não tenho qualquer experiência como atriz e assusta-me um pouco a responsabilidade de dar vida a uma personagem tão importante para a história do filme.» Mas Nuno Markl foi insistente quando lhe enviou o argumento, dizendo que a via como Luísa e que tinha a certeza de que ela conseguiria fazer-lhe justiça. Ana não conseguiu dizer não, não gosta de virar a cara a um «bom desafio». E este é, sem dúvida, um deles César Mourão reagiu de forma diferente. O convite foi tentador logo à partida. «Cinema é algo que queria fazer há já algum tempo! Li o argumento, gostei bastante e aceitei de imediato», diz o ator, que tem o clássico Cinema Paraíso como um dos seus filmes de eleição. Em Por Ela cabe-lhe vestir o fato de Henrique, um professor, bonacheirão, apaixonado por Luísa.
A terceira personagem, o Pedro, é mais carregada, soturna. Foram pensados vários nomes, mas «não fomos bem sucedidos porque já tinham as agendas demasiado preenchidas», diz Nuno. Decidiu então avançar para um casting e foi o Jorge Vaz Gomes que se lembrou do Tonan Quito, que é um daqueles segredos bem guardados do país no que toca a atores. Quem já o viu em palco, em peças como Entrelinhas e Fausta, sabe que ele é «extraordinário». E não desiludiu. «Foi intenso e emocionou tanto que até foi hipnótico.»
Há ainda um cangalheiro. E o escolhido para a missão foi Ricardo Araújo Pereira, um nome que promete surpreender.
Faltava a música. E ninguém melhor do que João Só e Samuel Úria para escrever as canções que vão embalar a história e a vida de dois homens tão diferentes. «A ideia de participar neste filme nasce de infindáveis conversas sobre música com o Nuno Markl e pelo gosto em comum da banda sonora do filme Era Uma Vez Um Rapaz, escrita e interpretada pelo Badly Drawn Boy para o filme», diz João Só. A parceria com Samuel Úria parece-lhe perfeita. «É um artista fantástico, um amigo, e só espero poder servir-vos o meu melhor veneno disfarçado de canção pop e o romântico do Samuel mascarado de canção negra e mística.»
Samuel também está preparado para o desafio. Diz que já tinha feito música para algumas peças de teatro e, por isso, esta experiência de escrever centrado em personagens não lhe é completamente nova – mas os personagens, em si, são. Para já, ainda tem tudo em fase de esboço, mas acredita que o processo de conclusão das canções não levará muito tempo. Com o argumento escrito, o elenco composto, a banda sonora bem entregue e a realização assegurada, surgiu a grande questão: como fazer um filme sem financiamento público? Nuno Markl pensou em recorrer ao crowdfunding e convidar toda a gente a participar na produção. O primeiro passo foi abrir a página no Facebook [ver caixa]. O entusiasmo foi grande logo com os primeiros likes, mas «sei que ain da temos muito que penar. O crowdfunding é uma montanha-russa de emoções – há dias mais fracos e dias mais fortes. Estou disposto a tudo, vou fazer tudo por isto, até posso chegar mesmo a pôr em causa a minha integridade física…».
E o final, é feliz? Nuno responde que é bastante tortuoso, tentou que não fosse nada previsível e esforçou-se que fosse algo mais complexo do que «a boa velha comédia romântica em que tudo acaba bem». Para aguçar o apetite por esta longa-metragem, fica uma das cenas de que o autor mais gosta: aquela em que os dois personagens estão tão obcecados por Luísa que começam a cheirar os champôs que ela usava porque não aguentam passar sem o cheiro do cabelo dela.
PRODUTORES PROCURAM-SE
O financiamento coletivo para o filme do Nuno Markl está numa corrida contra o tempo. O prazo termina às 18 horas de dia 18 de abril. Na plataforma PPL estão bem descritas quais as regras deste crowdfunding, para o qual é preciso arranjar cem mil euros (bem como o montante em falta). Por isso, quem quiser ajudar a produzir o Por Ela tem de ser rápido na contribuição. Jorge Vaz Gomes, o realizador, sabe que há várias formas de procurar financiamento para fazer uma longa-metragem e que provavelmente o crowdfunding é a menos ortodoxa e a menos previsível. Mas tem grandes vantagens, sublinha. «Coloca todas as decisões do filme, artísticas, técnicas e estéticas, nas mãos dos autores, neste caso o argumentista e o realizador, e tem o interesse de pôr nas mãos das pessoas, dos potenciais espetadores, a decisão financeira de ver o filme nas salas. Outra vantagem é a quantidade de promoção e conversa à volta do filme, que provavelmente recolherá frutos na altura da exibição, uma vez que as pessoas já saberão de que filme se trata.» Quem quiser contribuir para a concretização do filme pode fazê-lo em porelaofilme.pt
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