Recebo diariamente por e-mail dezenas de press-releases. A maior parte não tem grande interesse para a Notícias Magazine e são imediatamente apagados – há dias em que chego a carregar no delete para seleções de dez e quinze mensagens eletrónicas. Mas há uns quantos que merecem a minha atenção. Na maior parte das ocasiões, porque os temas poderão ser pistas para artigos da revista. Ou, por vezes, porque os assuntos poderão dar-me boas ideias para crónicas.
Esta semana recebi um e-mail em cujo «assunto» se podia ler «[nome da empresa] promove despedidas de solteiro(a) originais e divertidas». Eu não acho particular piada a despedidas de solteiro, e até já escrevi sobre o assunto, por isso tive o impulso de dar à mensagem o mesmo caminho que dei a tantas nesse dia: lixo. Mas detive-me naquele «originais e divertidas».
Honra seja feita. Numa coisa aquele comunicado era original: na escolha de opções para celebrar o fim de um estado civil. Não nas escolhas propriamente ditas, mas na forma como as juntaram. A empresa disponibiliza, para escolha do freguês, workshops de burlesco, de vintage striptease ou de massagens tântricas, reuniões de tuppersex, sessões de striptease em casa, body sushi ou… uma atividade de arborismo.
Portanto, entre cachopas ou cachopos de corpo escaldante a tirar a roupa para deixar o futuro nubente excitado, explicações sobre como fazer amor devagarinho, venda de brinquedos e acessórios sexuais em casa ou comer peixe cru, servido no corpo nu de uma mulher… há quem prefira andar encarrapitado no cimo de umas árvores. E não… não havia nada erótico ou sexual na coisa. Não incluía um happy end debaixo de um pinheiro ou à sombra de um eucalipto. Nem sequer estava relacionado com o movimento da Organização não Governamental Fuck for Forest, que convida casais a filmar-se em cenas de sexo no meio do mato e a vender, depois, o material pornográfico amador. Parte do dinheiro angariado será depois usado em projetos ecológicos apoiados pela ONG. Não… aquilo era mesmo arborismo, «uma actividade que consiste na passagem sequencial de obstáculos entre plataformas posicionadas nas copas das árvores – pontes suspensas, cordas, redes, túneis de árvore para árvore, saltos de Tarzan…»
Eu não embirro com as despedidas de solteiro todas. Gosto da ideia de me juntar aos meus amigos, seja qual for o pretexto. Se for o casamento de um deles, encantado. E eu até gosto bastante de moças a despir a pouca roupa que lhes cobre o corpinho que deus lhes deu. Mas não em «despedidas de solteiro». Chamem-lhe «saídas de gajos». Ou «vamos ver gajas». Mas «despedidas de solteiro» é demasiado redutor. Esta ideia de celebrar o fim de uma fase com um evento que não espelha aquilo de que ele se está a despedir. Não só porque ele poderá continuar a ir a casas de strip, casado ou não, mas também porque não era cliente habitual delas, antes.
E com as mulheres passa-se o mesmo. Ainda não perdi a esperança de um dia ouvir uma amiga dizer ao futuro marido «Anda, casa comigo e faz de mim uma mulher séria, mas antes disso serei muito marota e vou portar-me mal durante meia dúzia de horas com umas amigas.» Eu sei que estou a extremar a coisa e a caminhar a passos largos para o título de sexista boçal. Mas vocês percebem o que eu quero dizer…
E sim, já sei: se não gosto, posso sempre ir brincar ao Tarzan com os meus amigos.
[Publicado originalmente na edição de 11 de maio de 2014]