Nesta semana a matemática voltou a marcar os acontecimentos. Foi com base em leis da física e cálculos matemáticos que os investigadores de uma empresa privada inglesa, a Inmarsat, traçaram a possível rota do aparelho da Malaysia Airlines que tinha desaparecido até ao local onde os destroços foram confirmados, no mar. A matemática sempre teve esta função de tornar claro e medível o caos natural e humano.
Esta empresa, a Inmarsat, fornece serviços de referenciação geográfica e comunicação, via satélite, para navios e aviões em qualquer zona do globo, e emprega várias centenas de matemáticos. Gente que percebeu cedo a magia dos números. Um pouco como os jovens que figuram na reportagem que faz hoje a capa da Notícias Magazine – todos foram, nos seus tempos de escola, os chamados génios da matemática, ganharam as Olimpíadas e esse facto marcou as suas vidas.
Muitos – quase todos – seguiram percursos em que a matemática se tornou objeto central de estudo. Estão a fazer doutoramentos, estão em laboratórios em centros de investigação de ponta – muitos fora do país. Outros, como João Casalta Lopes, resolveram seguir os seus instintos e usar a matemática como ferramenta. João seguiu Medicina e especializou-se em radioterapia. Diz ele que o «raciocínio lógico» que ganhou nas aulas nunca o abandonou na vida e, hoje, numa área em que tem de tomar decisões todos os dias, consegue «rapidamente fazer associações em termos clínicos». «A matemática continua a ser muito útil na minha vida, sem dúvida», diz ele.
Estes exemplos, os bons exemplos, como a Notícias Magazine sempre dá, podem ficar-se por aqui, sendo meros exemplos. Ou podem servir-nos como faúlha na fogueira da discussão sobre este tema que é muito mais importante do que parece. Em última análise é todo o nosso destino que depende do ensino da matemática. Exagero? Nem tanto. Não falo, como é óbvio, do estudo da matemática pura, científica. Falo do dia-a-dia. Da lógica – ou falta dela – que rege as nossas ações individuais e que, em conjunto, determina a nossa configuração como país. Não falo apenas da literacia financeira que pode ajudar-nos a encontrar um caminho seguro no meio do caos instalado – e que, por ser parca e rara, arruinou tantas e tantas vidas nos últimos anos. Falo de sabermos que as consequências têm causas e que umas não podem antecipar-se às outras. E, sobretudo, de percebermos que as nossas ações também seguem esta ordem.
Há anos e anos – pelo menos desde o 25 de Abril e a consequente democratização do ensino – que a matemática é dada nas escolas por professores repescados nas universidades com as piores médias de entrada do sistema nacional. Há anos e anos que são sobretudo os professores estagiários a introduzir os nossos adolescentes em questões que, se não forem explicadas da forma certa, podem ser complexas e aterrorizadoras. Mas, se houver destreza nesse ensino, podem também ser simples e até divertidas. Há anos e anos que esta disciplina basilar está entregue aos mais fracos dos mais fracos que, por muito esforçados que sejam, pouco apoio têm – até porque nem sequer são avaliados.
Visto deste prisma talvez até os mais empedernidos políticos percebam que o ensino da matemática é uma das questões fundamentais a determinar o nosso futuro. E que não chegam exames nacionais em catadupa, avaliações permanentes e testes e mais testes para o tornar magicamente produtivo. A solução pode bem estar em perceber o que tornou a matemática atraente para grupos como o dos jovens que fazem capa da Notícias Magazine nesta semana.