(Re) Descobrir as massas secas

Notícias Magazine

Não temos as melhores notícias para lhe dar, se é adepto indefetível das massas frescas, em detrimento das secas. Apesar da força mediática dos chefs da TV a amassar bolinhas de farinha com água e rapidamente produzir os diversos cortes, não há como uma boa massa seca.

Há todo um mundo a descobrir no domí­nio das massas. Pas­ta, chamam-lhe os italianos, que foram indiscu­tivelmente os seus grandes criadores e cultores. Se são os seus grandes consumido­res hoje em dia? Sim, claro, só que contam com a concorrên­cia de praticamente o mundo inteiro. É um regalo ver a mal­ta nova atirada a um prato de massa com fiambre e natas, ou cogumelos, ou bacon, ou car­ne, ou tomate…

Em oposição ao problema sem solução, as massas repre­sentam a solução sem proble­ma. Pode fazer-se praticamen­te tudo! Talvez esteja na altu­ra de passar as coisas para um plano mais consciente e ver por que há uma profusão tão grande de massas no mercado, e a preços tão diferentes. Há que procurar a constituição de cada uma antes de comprar e fazer diversas experiências em casa, mas há um fator que à partida coloca as secas acima das frescas: a escolha e a mis­tura das farinhas que entram na sua composição.

Quando comemos uma mas­sa fresca num restaurante, é altamente provável que tenha sido feita com farinha «00» (zero-zero), banal e sem gran­des preocupações de proveni­ência. Já nas secas, contamos com os master blenders de cada marca para governar a com­pra dos melhores trigos, de origem biológica e melhores para a saúde. Outro fator im­portante é, imagine-se, a água usada para produzir as mas­sas. Tal como nos universos do whisky e do saké, que apa­rentemente nada têm que ver com o assunto das massas, a pureza da água é o segundo grande ponto de diferencia­ção por excelência. É por isso que as principais produções italianas – industriais ou ar­tesanais – ficam junto a cursos montanhosos de água, quan­do não mesmo a nascentes.

No ainda hoje pequeno po­voado de Gragnano, perten­cente à província italiana de Nápoles e a bordejar o Medi­terrâneo, era comum outrora ver pelas ruas fora cavaletes de madeira nos quais se secava a massa, para conservação e pos­terior consumo ou comerciali­zação. Secava-se, por isso, para guardar na despensa, mas mui­to lentamente, para que ficasse perfeita na constituição. Mar­cas importantes, como Garo­falo (industrial) e Di Martino (artesanal, apenas 300 quilos por dia), ainda hoje vêm daqui. Lá mais em cima, em Abruzzo, perto de Roma, Delverde, De Cecco, Barilla, Cocco e Zac­cagni, entre outros, continu­am a fazer valer os seus trun­fos, alguns deles com produção própria de trigo. Quando se fa­la tanto de ingredientes verda­deiros, sem modificação gené­tica, chegar a uma boa sêmola de trigo começa a valer ouro.

LISTA DE COMPRAS
Deve comparar as massas secas disponíveis no mercado entre si e prová-las à luz do que dizemos em relação aos ingredientes. No momento de comprar, confira este aspeto muito importante. Os tempos de cozedura devem ser escrupulosamente respeitados; correspondem ao tempo que deve decorrer desde que a água começa a ferver e se introduz a massa. O ideal seria parar a cozedura por imersão em água fria, mas escorrê-la e reservar é normalmente suficiente.