Portugueses Extraordinários: Marta, a mediadora

Recuperar os azulejos de uma fachada com a participação da população. Este é apenas o novo projeto de Marta Silva, presidente do Largo Residências. História de uma dançarina que veio do Porto para pôr a mexer o bairro lisboeta do Intendente.

 

No número 244 da Rua do Benformoso há um tesouro escondido. Ali vive o Grupo Excursionista e Recreativo Os Amigos do Minho, que anda desde 1950 a tentar conservar as tradições da importante fatia minhota de população que vive no bairro do Intendente, em Lisboa. As paredes, forradas a azulejos centenários, valeram ao imóvel classificação patrimonial. Mas o património foi caindo ou sendo roubado. Até há um ano, quando Marta Silva entrou em campo.

 

Marta é dançarina profissional do Porto, tem 35 anos e o que tem feito nos últimos oito é pôr o bairro a dançar. É presidente do Largo Residências, uma empresa cultural nascida há três anos e meio, que trabalha no desenvolvimento urbanístico e artístico do bairro. «Um negócio que cumpre uma missão», resume.

 

A fachada d’Os Amigos do Minho começa a ser restaurada em setembro. «Estamos num bairro ligado à cerâmica desde a Idade Média, temos aqui a Rua das Olarias e do Forno do Tijolo, e fábrica da Viúva Lamego.» Dois mil azulejos serão refeitos por uma ceramista aliada ao projeto, Maria Caetano. «Mas também quisemos envolver a população. Então fizemos workshops e conferências sobre cerâmica. Agora vamos aproveitar uma parte do edifício para instalar ateliers de jovens artistas e para as pessoas do Intendente poderem fazer e vender os seus trabalhos.»

 

O Largo Residências organiza vários tipos de residência artística, que podem ir de uma noite a um ano, e estão sempre focados na revitalização de uma das vizinhanças mais multiculturais da Europa. Os quartos que servem de residência aos artistas também são usados como hostel, é assim que se faz dinheiro. «O que tento fazer aqui é pôr as pessoas em contacto, facilitar as coisas e deixar os projetos fluir. Já é tempo de os artistas deixarem de ter ideias onde encaixam a população. O que é preciso é criar em conjunto com as pessoas.»