Um ano depois do convite de Barack Obama para participar num programa de empreendedorismo, Sandra Correia, CEO da Pelcor, promove este sábado, 25 de outubro, a primeira Convenção Nacional do A New Beginning for Portugal.
Conhecida por ter reinventado novas utilizações para a cortiça, Sandra Correia está habituada a ver o seu trabalho e a sua empresa, a Pelcor, premiados. No ano passado foi a primeira portuguesa convidada pelo Departamento de Estado norte-americano para participar no programa de formação dirigido a empreendedores que querem continuar a ser agentes de mudança. A experiência foi contada à NM assim que chegou. Prometia ajudar os empresários nacionais a expandir os seus negócios. Um ano depois a promessa é cumprida com a Convenção Nacional A New Beginning for Portugal, no dia 25 de outubro, em Lisboa [ver caixa].
No ano em que a Pelcor celebrava o décimo aniversário, Sandra Correia, a criadora da marca e CEO da empresa, recebeu um presente muito especial: foi convidada pelo Departamento de Estado americano para participar no programa A New Beginning: Entrepreneurship and Business Innovation, uma iniciativa lançada pelo presidente Barack Obama, que decorre nos EUA e que é dirigida a empreendedores de alto rendimento de todo o mundo que queiram continuar a apostar na inovação, que estejam abertos a novas ideias e desejem exportar para os EUA e outros mercados. No ano passado, o quarto do programa, as embaixadas americanas nomearam noventa pessoas mas apenas trinta foram seleccionadas: «Fomos escolhidos a dedo, tudo nas nossas vidas e empresas foi verificado e avaliado», diz Sandra Correia.
Foi em Fevereiro de 2013 que a empresária da cortiça foi contactada pela Embaixada americana em Portugal. Queriam propô-la para o programa e desafiaram-na a candidatar-se. Mas, advertiram, não ia ser fácil pois o escrutínio seria feito ao mais alto nível entre candidatos de todo o mundo. «Senti-me honrada com o convite, só podia aceitar. Tive uma reunião na Embaixada preparei um currículo detalhado, organizei um dossier pormenorizado sobre a Pelcor e a estratégia para o futuro e respondi a uma infinidade de inquéritos para demonstrar que sou boa pessoa e não uma terrorista temível. Quatro meses depois, recebi um e-mail do Departamento de Estado. Tinha sido selecionada.»
As três semanas que Sandra Correia esteve nos EUA (de 16 de Setembro a 4 de Outubro de 2013) foram passadas entre Washington, Portland (Oregon), Dallas (Texas) e Nova Iorque, num périplo pensado ao pormenor. Reuniu com empresários e empreendedores, autoridades governamentais e académicos, fez uma formação intensiva ( Accelerator Program Class , um MBA), visitou diferentes empresas. «Foi tudo muito intenso e vivido a um ritmo alucinante, mas foi a experiência mais enriquecedora e promissora em que participei. O programa está feito para que possamos aprender a partir da troca de experiências com outros empreendedores de sucesso. Até os formadores, os speakers , são empresários que fizeram a diferença, que criaram e inovaram. Além disso, conheci pessoas fantásticas de vários sítios do mundo, com culturas e visões bem diferentes da nossa, e tive o privilégio de aprender imenso sobre empreendedorismo, liderança, estratégia, marketing, recursos humanos e financeiros, networking . Sinto que se abriram novas oportunidade para a Pelcor e para Portugal.»
Um dos desafios que Sandra Correia trouxe da América foi a criação de uma representação da Entrepreneurs Organization (EO), a organização de empresários americanos que executou o programa A New Beginning , em parceria com o Departamento de Estado. Fundada na década de 1980 do século passado, a EO nasceu das necessidades sentidas por um grupo de empreendedores empresariais que queria inovar e crescer e que percebeu que o trabalho em rede e a partilha experiências podia ser uma mais valia para a expansão dos negócios e para chegar a outros mercados.
Trinta anos depois, a EO está representada em 41 países e tem mais de nove mil associados, que dão emprego a 1,7 milhões de pessoas em todo o mundo e geram uma receita superior a 18 milhões de dólares por ano. Adrienne Cornelsen, membro do conselho de administração da EO e ela própria uma empreendedora de sucesso na área dos serviços digitais, em Dallas (Texas), diz que a organização está a crescer rapidamente e que «adoraria ter uma forte presença em Portugal. A chave para a abertura de um capítulo [representação]em qualquer país é ter um líder local, com ligações e influência na comunidade e sempre apaixonado pela inovação. Talvez Sandra Correia venha a ser a líder.»
Para já [outubro de 2013], a empresária foi convidada a tornar-se membro da EO e não esconde o desejo de trazer a organização para o nosso país. Aliás, no último dia do programa, nos noventa segundos que teve para discursar na missão americana das Nações Unidas, Sandra Correia prometeu diante dos seus pares e dos embaixadores de diversas nações que acompanharam a cerimónia (o de Portugal não esteve presente nem se fez representar) que se ia empenhar para trazer a EO para Portugal. «Vou trabalhar para que isso aconteça. Agregar os empreendedores portugueses na EO é dar-lhes um mundo de novas oportunidades e facultar-lhes o acesso a um conjunto de ferramentas e experiências que os vão valorizar e permitir a expansão dos seus negócios para os EUA e outros mercados.»
Essa também é a expectativa de Adrienne Cornelsen. A empresária americana recorda que todos os participantes no programa são pessoas que já fizeram mudanças significativas nos seus países, por isso a expectativa é alta. «Depois destas três semanas, esperamos que regressem a casa com novas estratégias, relacionamentos, metodologias e ferramentas que permitam o crescimento dos negócios, aumentar o seu impacte e fazer mudanças positivas. A partir de agora estão ligados a uma comunidade global de empreendedores, que são seus pares, e onde podem receber apoio e ter acesso a esta rede global.»
A empresária da cortiça chegou dos EUA determinada a levar o nome do programa à letra – A New Beginning significa «Um novo Começo» – e, inspirada no que viu, Sandra Correia está pensar numa série de projetos que gostava de ajudar a desenvolver em Portugal. Apesar da abissal distância que separa os tecidos económico, empresarial e social nacional e americano. «Lá, as coisas acontecem. Nem os empresários estão à espera de apoios e subsídios do governo, nem as autoridades levantam quaisquer entraves à inovação. E as organizações de empresários prestam serviços especializados aos sócios, de acordo com as características específicas de cada negócio e as necessidades de cada empreendedor.» Exemplo disso é o trabalho desenvolvido pelas incubadoras de empresas que têm estruturas ágeis e prontas para delinear business plans , dar apoio jurídico, diligenciar financiamento, fazer formação em marketing, vendas, recursos humanos, criar parcerias, abrir mercados. «Esta é uma mais valia e uma ideia que se pode desenvolver em Portugal. Cá não conheço nada do género.»
O que Sandra Correia também desconhecia é que, nos EUA, o espírito empreendedor, fundamental para o sucesso dos negócios, é igualmente aplicado na área social. «O trabalho dos empreendedores sociais passa por encontrar novas soluções para os problemas que afetam pessoas e comunidades carenciadas ou vulneráveis, envolvendo-as na solução e promovendo, ao mesmo tempo, a sua inclusão e o desenvolvimento económico e social.» Os serviços que prestam são altamente profissionalizados e estruturados, assentam em soluções inovadoras e são negócio para as empresas, geridas com o objetivo de resolver necessidades sociais ou ambientais, por exemplo. «Os americanos não perguntam quem é que deve prestar o apoio social. Querem saber é quem pode prestá-lo com mais eficácia. As empresas sociais têm gestão profissional, uma estratégia bem definida, recursos humanos formados e objectivos específicos a cumprir – nesta caso, problemas sociais para resolver.»
Até o voluntariado é altamente profissionalizado, acrescenta a empresária, e aponta como exemplo o North Texas Food Bank , um banco alimentar daquele estado, que distribui anualmente 27 mil toneladas de alimentos (mais de cinquenta milhões de refeições) mas também desenvolve outras ações. «Sente-se que há a preocupação de tornar a vida das pessoas que ajudam mais digna. Podem ir pintar uma casa, fazer arranjos domésticos, decorar, tratar do jardim, etc., e sem despesa para a organização.» Os dirigentes desenvolvem parcerias com empresas, que oferecem tintas, materiais ou o dinheiro que é preciso para resolver situações concretas, mas o trabalho é sempre remunerado. «Remunerar é muito importante, responsabiliza e dignifica. Passei uma manhã naquele banco alimentar, conheci o projecto e a estratégia e estive a empacotar refeições para crianças. Do que vi, posso dizer que um voluntariado profissional é mais eficaz e serve melhor as populações. É um espírito diferente, não tem nada a ver com a caridade. É um modelo que deve ser pensado no nosso país.»
A NEW BEGINNIG
A A New Beginning for Portugal (ANBFP) reúne, numa Convenção Nacional, empreendedores e revela como é que uma ideia se pode transformar num negócio de sucesso. Incentivar outros sonhadores a arriscar é um dos objetivos do evento, que conta como a participação da Embaixatriz dos EUA em Portugal, que vai divulgar o programa Connect for Success, um programa de empreendedorismo feminino que a embaixada norte-americana está a desenvolver no nosso país . No sábado, 25 outubro, entre as 16h00 e as 21h00, no espaço 39a Concept Store, na Rua Alexandre Herculano, 39A, em Lisboa, que decorre serão dados a conhecer alguns negócios recém-nascidos que já constituem histórias de sucesso. Com menos de um ano, a ANBFP reúne já cerca 300 empreendedores empenhados em inovar e em fazer a diferença a nível empresarial, económico e social. Um dos segredos do sucesso desta rede é a partilha por parte dos seus membros, que se ajudam mutuamente, colocando à disposição uns dos outros os saberes, ferramentas, competências e contatos que têm. Da partilha de experiências e do trabalho em rede nasceram novas marcas e novos projetos, quatro dos quais serão apresentados nesta convenção, embora existam muitos outros em desenvolvimento por todo o país.
Sandra Correia estará presente para falar do futuro do ANBFP e do projeto social que tem associado – o POP, Pink October Portugal –, que vai lançar um conjunto de iniciativas que visam alertar e sensibilizar para a prevenção do cancro da mama em Portugal.
Outras informações na página do facebook onde tudo começou e no site.
CORTIÇA PORTUGUESA EM NOVA IORQUE
Sandra Correia está decidida a aproveitar os conhecimentos e a rede de contactos que teve oportunidade de criar nos Estados Unidos. Para a empresa e para o país. «Há dois anos que estou a trabalhar a marca Pelcor nos EUA, um mercado que representa cerca de vinte por cento da facturação da empresa – 4,5 milhões de euros em 2012. Vendemos nalgumas retail stores e temos feito algumas edições especiais e limitadas para a loja do MoMA (Museu de de Arte Moderna de Nova Iorque).» O próximo passo era abrir uma loja em Manhattan, um sonho que realizado já este este ano.Em resultado da participação no programa A New Beginning , Sandra Correia sonha agora mais alto e quer aproveitar a rede de contactos que fez para se expandir no mercado americano e até em países nos quais não tinha ainda pensado. «Abriram-se muitas portas. Para a minha empresa e para as de outros empreendedores portugueses que aceitem o desafio de conhecer a EO. Há um novo capítulo de empreendedorismo que vai nascer brevemente em Portugal.»
INOVAR COM UMA MATÉRIA-PRIMA TRADICIONAL
A cortiça é uma matéria-prima tradicional mas a Pelcor conseguiu reinventar novas utilizações. Tudo começou por efeito de uma crise – a do mercado do champanhe, no ano 2000 – quando a empresa da família vendeu menos rolhas do que o esperado e ficou com muita cortiça de boa qualidade em stock . O clique aconteceu quando Sandra Correia se apercebeu do sucesso que o guarda-chuva em pele de cortiça, que decorava o expositor da empresa numa feira em Almería (Espanha), estava a fazer entre os visitantes. Pouco depois, nascia a Pelcor, a empresa pioneira na manufactura da cortiça aplicada ao fabrico de acessórios de moda, artigos para a casa e escritório. Dez anos e várias parcerias depois, a marca tem lojas em Tóquio, Paris, Londres e outras capitais europeias e vende no Brasil, Dubai, Macau, China, Canadá, EUA, etc.