Pedimos a várias figuras públicas para folhearem a caderneta da seleção e escolherem o jogador preferido. Eles explicam porquê.
JOANA VASCONCELOS > CRISTIANO RONALDO
PURO-SANGUE LUSITANO
Picasso terá admitido que a inspiração existe, mas é necessário que nos encontre a trabalhar. Fiel a esta ideia, não hesitei em apontar o Cristiano Ronaldo como o meu jogador eleito da seleção portuguesa de futebol. Senhor de uma mentalidade ímpar e de uma determinação absoluta, que lhe permitem alcançar o que nenhum outro atingiu, Ronaldo é também uma força inesgotável de talento, ambição, esforço e dedicação. O cuidado extremo com a sua forma física é exemplarmente visível num corpo que parece esculpido por um dos grandes mestres da Renascença. Hermes e Clio, divindades da velocidade e da criatividade, admiram a atenção obsessiva que oferece a todos os pormenores do jogo. Por isso, parecem estar ao seu lado em cada sprint, finta ou remate. Admiro o desenho das jogadas impossíveis que surpreendem os adversários e encantam os adeptos. E vibro com os seus golos, obras-primas da arte de bem jogar. Na sua demanda obsessiva pela perfeição, trabalha a imagem como poucos, mantendo a genuinidade. Orgulha-se das suas origens, protege a família e não esquece os amigos. O Cristiano Ronaldo é o paradigma perfeito de um atleta do século XXI. É um puro-sangue lusitano e um aventureiro incansável em busca de novos limites e conquistas. O seu exemplo, inspira e lembra os portugueses de que o céu já não é o limite.
BÁRBARA GUIMARÃES > WILLIAM CARVALHO
MILHÕES A TORCER
Escolhi o William Carvalho porque é angolano como eu. Nasci em Sá da Bandeira, atual Lubango, e cresci em Portugal. O William Carvalho nasceu em Luanda e também cresceu em Portugal. Sabemos que em Angola, como em muitas outras paragens do mundo, a seleção portuguesa é, neste Mundial, a equipa preferida de milhões de pessoas. William Carvalho parece-me um jogador muito competente, que sabe responder às exigências do jogo, sempre em favor da equipa, sem necessidade de se colocar «em bicos dos pés». Não ligo muito a clubes – nem tenho um preferido – mas faço questão de apoiar a seleção. A minha equipa, a única, é a equipa de todos nós, que tento seguir em todos os europeus e mundiais. O William foi sempre escolhido pelos colegas para o lugar de capitão de equipa. E esse reconhecimento, mesmo quando era o elemento mais novo do grupo, diz muito dele, como pessoa e jogador. No Brasil, gostaria de ver na nossa seleção uma equipa em que todos jogam para todos. E, pela forma como sempre promove o espírito de equipa, este jogador simboliza esse propósito e esse ideal. Assim, com jogadores unidos, dentro e fora do campo, a seleção contagiará o público e assegurará o apoio de todos os portugueses. Espero que, no Brasil, a seleção seja motivo de orgulho para todos nós. Vamos a isso.
MARCELO REBELO DE SOUSA > RAFA
O JOVEM QUE VAI DAR QUE FALAR
É uma escolha difícil. A primeira tentação chama-se Cristiano Ronaldo, mas isso fica para quem se considere génio e goste de se aparentar com ele. A seguir vêm os consagrados, veteranos de outras grandes guerras, mas esses merecem gente mais ilustre que os escolha. Fico, portanto, devotado à boa troika constituída por Eduardo, Éder e Rafa. Todos eles do meu Sporting de Braga, com estilos diversos e qualidade imensa. Opto pelo Rafa. Porque é o mais jovem, porque é aquele que, por isso mesmo, mais representa o futuro. Porque me imagino – supondo que sabia jogar futebol – com 21 anos, a partir para o Brasil, para representar as cores nacionais. Deve ser uma emoção única, a apelar ao virtuosismo, ao repentismo e à velocidade deste jovem que ainda vai dar muito que falar. Até porque prima pela humildade. Era ouvi-lo, no final do Portugal-Grécia, comentar, modestamente feliz, os escassos mas simbólicos minutos que jogou, e ouvir a disponibilidade total para ser, no Brasil, obreiro apagado de uma missão coletiva. E não tenho dúvidas de que, se for necessário, será um obreiro muito dedicado e eficaz.
MIGUEL SOUSA TAVARES >RICARDO QUARESMA
O REBELDE CAPAZ DE UM GOLPE DE GÉNIO
Prefiro um génio com mau feitio a um medíocre bem comportado. A exclusão do Quaresma é sintomática de um país que tem medo do talento quando este sai das regras. Há os treinadores que têm medo de grandes jogadores, os que, nas grandes batalhas, preferem comportar-se como sargentos de quartel e não como generais, e isso sempre me impressionou. Sou um defensor do futebol de ataque, do futebol de risco: não apenas por razões de espetáculo, mas porque acho que é o mais eficaz, quando se quer ganhar. Um treinador que aposta num futebol ofensivo, sem medo de recorrer aos jogadores desequilibradores, intimida o adversário e transmite confiança e audácia à própria equipa. Mas os treinadores portugueses nunca se libertaram da mentalidade dos tempos em que levávamos pancada das equipas estrangeiras e se dizia que o essencial era «aguentar os primeiros vinte minutos»: acima de tudo, eles privilegiam os «equílibrios tácticos», o «controlo do meio-campo», a «posse de bola», ou a «identidade da equipa».Ora, é sabido que, tirando os dias de inspiração de Cristiano Ronaldo, esta equipa de Paulo Bento tem dificuldades extremas em criar oportunidades de golo. E é então que um rebelde capaz de um golpe de génio fora do esquema montado, como o Quaresma, pode ser uma grande mais-valia. Mas eu não percebo nada do assunto. Apenas lamento.
CAMANÉ > RUI PATRÍCIO
SOLITÁRIO COMO UM CANTOR EM PALCO
Apesar de eu ser do Benfica, o Rui Patrício é, dos guarda–redes portugueses, o meu favorito. Um guarda-redes, mais do que qualquer outro jogador, precisa da intuição. Intuição que, aliada à técnica, lhe permite defender um penálti ou sair dos postes no momento certo com toda a eficácia. Precisa, também, de contenção, precisa de firmeza – um guarda-redes não pode hesitar. No fado é igual: a intuição é preciosa, a contenção necessária, a mais pequena hesitação deita por terra um espetáculo. Escolhi o Rui Patrício porque é o último reduto e, muitas vezes, o primeiro. É nele que começa a jogada, é dele que a equipa parte para o ataque. E, tal como no fado, é essencial saber interpretar. Neste caso, o jogo. E Rui Patrício sabe fazê-lo com serenidade e concentração, a concentração imprescindível a um fadista. No palco que é o relvado, o Rui é um dos jogadores mais solitários. Tão solitário quanto um cantor em palco. Muitas vezes sozinho, cara a cara com o atacante, entregue a si próprio, sem poder socorrer-se de um colega, a evitar o golo. Mas sempre humilde. Apesar de ser, como escrevi, do Benfica, escolhi o Rui Patrício também porque a seleção é a seleção. Acredito que vamos fazer um bom papel no Brasil. Basta acreditar. Que não nos falte autoestima ou força anímica, porque qualidade temos. Por isso, vamos lá!
NÉLSON ÉVORA > RÚBEN AMORIM
FLEXÍVEL, CUMPRIDOR E COM RAÇA
O Rúben Amorim é o meu jogador de eleição da seleção nacional. É um jogador polivalente e flexível, pois consegue jogar bem tanto na esquerda como na direita. É um jogador em quem os treinadores podem confiar, porque é muito bom a cumprir as indicações técnicas delineadas para um jogo. E um atleta cumpridor significa que é um atleta de muito profissionalismo. Isso quer dizer que ele próprio também confia no treinador, uma característica única e fundamental para qualquer desportista de alta competição alcançar os seus objetivos. Tem raça e é combativo porque, em campo, dá tudo o que tem. Como jogador experiente que é, vejo-o como um homem dotado dentro e fora do campo e com uma boa visão de jogo. O Rúben Amorim contribui para um bom balneário, o que traz muito equilíbrio dentro da equipa, e é um dos jogadores mais animados do plantel. Esta boa relação na equipa faz parte da base para o sucesso de um jogador. É assim que se forma uma boa estrutura na equipa. É também um jogador humanamente muito diferente, pelos projetos solidários que já criou.
MANUEL SERRÃO > JOÃO MOUTINHO
UM JOGADOR QUE ATÉ COME A RELVA
Um dos frutos mais apetecidos da seleção de Portugal é o João Moutinho. Como é sabido, quem não resistiu à tentação foi o Mónaco e o melhor médio volante português conduz agora o seu destino entre príncipes e princesas. Protagonista de uma época regular, mas menos fulgurante dos que as registadas no seu FC Porto, João Moutinho vai apresentar-se em terras de Vera Cruz no auge das suas potencialidades. A estrela maior do nosso firmamento, Cristiano Ronaldo, vai claramente precisar de assistência e agradecer aos deuses que João Moutinho esteja na linha da frente dessas assistências. Logo ele, o maior especialista português nesse capítulo. Habitualmente designado como o motor da seleção, João Moutinho vai ser também o dínamo da sua motivação e é nele que mais confio para dar o exemplo de garra e determinação que nos poderão levar ao Maracanã. Uma das qualidades que mais aprecio neste jogador – que me partiu a alma, quando, descontente, o vi partir para terras monegascas – é exatamente esse feitio a que se convencionou chamar de jogador «à Porto». Um jogador que nunca baixa os braços, mas também não precisa de se pôr em bicos de pés para dar nas vistas, que nunca se cansa, mas também não se torna cansativo para a equipa, que come a relva, mas sabe alisá-la para que outros possam pisá-la a caminho do golo.
JOÃO PERRY > RAUL MEIRELES
A EQUIPA É MAIS IMPORTANTE DO QUE AS ESTRELAS
Porquê? Porque é um jogador excecional, que marca golos, apesar de não ser hábito num jogador com a posição dele em campo. Basta ver o que fez na Turquia, em 2010, frente à Bósnia, garantindo, com um golo, a nossa continuação no mundial. Porque, provavelmente, vai jogar o seu último mundial. Porque é capaz de antever os acontecimentos de forma inteligente, o que só favorece a equipa, e funciona, visto que no futebol, tal como no teatro, interessa mais a equipa do que as estrelas que tentam evidenciar-se individualmente. Porque trabalha em equipa e, obedecendo às estratégias, faz um trabalho superlativo que pode conduzir ao êxito das cores que defende. Porque conjuga uma carreira e um extraordinário percurso com muita alegria de viver, como fica bem claro no seu comportamento individual e hobbies, das tatuagens à música. É inesquecível a maneira excecional como dançou num treino para os seus colegas da equipa turca. Portanto, boa sorte para o Raul, que bem merece, visto a sorte ser um fator preponderante de um jogo em que tudo acontece de um momento para o outro, inesperadamente. Um jogo em que o Raul leva a vontade e esforço ao máximo tendo em conta o objetivo a atingir. Boa sorte para o Raul e para a equipa de Portugal, que bem precisa de uma vitória – quanto mais não seja no futebol.
Maquilhagem de Camané, João Perry e Manuel serrão: Sílvia Ferreira (com produtos Clarins). Maquilhagem e cabelos de Joana Vasconcelos: Lola Carvalho. Maquilhagem de Miguel Sousa Tavares e Nélson Évora: Rute Gouveia (com produtos Clarins). Cabelos de Miguel Sousa Tavares: Beto para Secretlook. Maquilhagem de Barbara Guimarães: Raquel Peres. Cabelos de Bárbara Guimarães: Rui Careto. A personalização da t-shirt usada por Joana Vasconcelos é da responsabilidade da artista. A Notícias Magazine agradece à Sportzone (www.sportzone.pt) a cedência do material desportivo utilizado nesta produção.