– E um italiano, pode ser?
– Estou farto de comida italiana.
– E que tal aquele afrodisíaco onde fomos uma vez? Era giro, para esse dia.
– Acho isso um bocado piroso. Para comida que dá tesão, comemos em casa e fazemos o pleno.
– Estás a começar a irritar-me. Daqui a bocado fazes o pleno, mas é sozinho. E o nepalês? Aquele novo, na Baixa?
– Está sempre cheio.
– Se está cheio, liga para lá e reserva, olha que coisa. Dá para te esforçares um pouco?
– Mas tu não querias uma coisa fina? O nepalês não é fino.
– Eu não disse uma coisa fina. Eu disse que queria um restaurante giro. Diferente! Original! Para não serem sempre os mesmos sítios. Mas já estou por tudo. Quero uma coisa qualquer. Quero lá saber se é giro ou não. Restaurante fino ou tasca manhosa. Desde que não tenha baratas, está tudo bem. Quero é ir jantar fora contigo. Ou melhor, quero que me leves a jantar fora. Custa-te assim tanto?
– Não me custa nada, só não me apetece nesse dia. Nós fartamo-nos de jantar fora. Temos de ir precisamente na sexta-feira? No Dia dos Namorados?
– Não, ninguém nos obriga. Mas eu gostava. É justamente por ser esse dia que gostava.
– É que eu detesto a data. Acho isso uma pirosada do pior.
– Já percebi que não achas muita piada. No ano passado também fizeste frete. E passaste o tempo a gozar com os casais das outras mesas. As pessoas ao lado até te ouviram.
– É mais forte do que eu…
– Não me lixes! Não consegues comer? Não consegues escolher um sítio? Não consegues vestir uma roupa bonita e fazer um sacrifício pela tua namorada, que até gosta do dia? Sem ficares amuado, que eu não tenho pachorra para isso.
– Está bem, se isto é assim importante para ti, vamos. Escusas de ficar assim, não vale a pena chateares-te.
– É! É importante para mim! E não me venhas dizer com o que é que vale a pena ou não vale a pena eu ficar chateada. Eu chateio-me com o que me apetecer. E essa tua embirração com o Dia dos Namorados chateia-me. Pareces um puto mimado a fazer beicinho porque tem de comer brócolos.
– Estás a fazer um pé de vento. Vamos ao nepalês. Ou ao italiano. Ou a outro italiano, mais caro.
– E livra-te de não me ofereceres nada.
– Sim, ofereço-te. Vou oferecer-te uma coisa gira e ainda te dou um urso de peluche gigante com um coração, um boneco com uma T-shirt a dizer «I love you» para pendurares no retrovisor e mando um anão entregar-te flores no escritório.
– Um anão?
– Para ser pequenino e fofinho, também.
– És muito parvo. O que está em causa não é o jantar nem o presente. Eu quero é que te esforces. Que penses numa coisa de que eu posso gostar. Que telefones à minha mãe ou à minha irmã para pedir opiniões. Que me faças uma surpresa no trabalho, que me esperes à porta de casa com um peixinho vermelho, que me ofereças um telegrama em chocolate… Seja o que for. Quanto mais foleiro e pindérico, melhor. Sou uma romântica pirosa, e então? Qual é o problema? Consegues viver com este defeito? Ou isso também é mais forte do que tu?
– É este consumismo que me irrita…
– Alto! Nem quero ouvir. Cala-te já com isso. Não me venhas com a conversa do consumismo e que o dia é inventado pelos comerciantes para gastarmos dinheiro, e que estão todos feitos uns com os outros. Não tenho pachorra para isso. Bem-vindo ao capitalismo. Não gostas, vai viver para a Coreia do Norte.
– Vou telefonar para o afrodisíaco.
[09-02-2014]