Férias em Cabo Verde para pôr em prática um plano urbanístico num bairro da ilha do Maio. Assim foi o verão de Isabel Saavedra, como voluntária do programa Mais Valia da Fundação Gulbenkian. Aqui não se dá peixe, ensina-se a pescar.
Tinham aberto inscrições para o programa Mais Valia da Gulbenkian. Estavam a recrutar voluntários com mais de 55 anos que pudessem fazer trabalho técnico especializado nos PALOP e Isabel Saavedra, de 59, decidiu participar. «Inscrevi-me no último dia e fui selecionada.» Arquiteta, tem atelier em Guimarães, mas tinha um mês de férias e estava disposta a usá-lo em prol dos outros. «Fiz um curso de formação e depois chamaram-me para Cabo Verde.» A sua missão era implementar um plano urbanístico no novo bairro da Calheta, ilha do Maio. Sítio pequeno, que a ilha inteira não tem mais de sete mil habitantes. As barracas iam crescendo ao sabor do vento, era preciso ordenar as ruas, abrir espaço para passarem carros, ambulâncias. «Como as pessoas são pobres, como as casas são de fraca qualidade, tivemos de compensar com equipamentos públicos.» Um jardim infantil e um centro de saúde, uma escola de formação profissional e um pavilhão gimnodesportivo. «Em África, um bem para todos é uma alegria nova. As pessoas não se importam que lhes expropriem as casas se for para construir algo para a comunidade. Foi essa a maior lição que aprendi.»
Ficou surpreendida com a qualidade dos técnicos da Câmara do Maio, mas era gente pouca para tanto trabalho. A Calheta é um bairro pobre de periferia, ordená-lo significa aproveitar recursos, levar água e saneamento a toda a gente. «Disciplinar e condicionar a construção desenfreada. Era bom que tivéssemos feito o mesmo em Portugal, nos anos setenta.» Durante um mês por ano, Isabel vai continuar a fazer voluntariado – e espera voltar a Cabo Verde. «Quando me reformar, terei mais tempo. E quero usá-lo em África.»