Homens de Marte, mulheres de Vénus?

Embora partilhem 99 por cento do código genético, os cérebros de homens e mulheres são diferentes. Perceber como funcionam pode evitar muita infelicidade entre géneros.

Vítor Reis, racional e pouco dado a sentimentalismos como a maioria dos homens, teve uma revelação mística da vida a dois parado num sinal vermelho. A namorada, Marta Salavisa, sugeriu-lhe viverem juntos quando o irmão dela foi fazer Erasmus e Vítor ficou sozinho (partilhavam casa). Impreparado para o passo seguinte, ele deu uma desculpa orçamental e adiou. Ela acusou a rejeição, amuou, lidou com as emoções sem dar parte de fraca e prometeu a si mesma nunca mais dizer nada nesse sentido, ele que se amanhasse. Quando, um ano mais tarde, Vítor lhe deu sinal de que estaria na altura de se juntarem sob o mesmo teto, os dois à espera num semáforo da Paiva Couceiro, em Lisboa, Marta só conseguia pensar em como os homens são seres esquisitos e tão diferentes das mulheres, apesar de terem elas a fama. O culpado é o cérebro.

«Estamos a entrar numa era em que tanto homens como mulheres começam a compreender as suas singulares biologias e como essas diferenças afetam as suas vidas», explica a neuropsiquiatra e investigadora americana Louann Brizendine, autora dos best-sellers O Cérebro Feminino e O Cérebro Masculino. «Se soubermos que os nossos impulsos estão a ser guiados por um estado cerebral biológico, podemos decidir o que fazer, em vez de seguirmos apenas as nossas pulsões.» Brizendine garante que certas funções e áreas cerebrais funcionam de modo diferente, tendo evoluído ao longo do tempo para produzir versões mais bem sucedidas de homens e mulheres. À luz da realidade biológica, um cérebro unissexo é coisa que não existe.

«Há o receio enraizado da discriminação baseada na diferença e, durante muitos anos, a assunção da diferença entre os sexos não foi cientificamente examinada, com medo de que as mulheres pudessem perder a luta da igualdade em relação aos homens», justifica a especialista, empenhada em ajudar os seus pacientes a perceber as especificidades de cada um para melhor entendimento do outro. «Fingir que os homens e as mulheres são iguais, para além de ser um mau serviço prestado a ambos os sexos, é sobretudo injusto para com as mulheres. A perpetuação do mito da norma masculina menospreza as diferentes maneiras como se processam os pensamentos e, consequentemente, a perceção da realidade. Além de desvalorizar os poderes e os talentos peculiares do cérebro feminino.»

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Marta e Vítor há muito que se habituaram a serenar os seus desatinos depois de dez anos de namoro (sete dos quais a viverem juntos) e um filho de 13 meses. Ele, técnico superior administrativo no ISCTE, acha-a «despreocupada com os aspetos práticos do dia a dia, impulsiva, multitarefa, extrovertida ao ponto de ser a rainha da festa aonde quer que vá e emotiva» – um eufemismo para chorona, que é algo que o deixa sem saber como reagir na maior parte das situações, embora ela já lhe tenha dito vezes sem conta que basta abraçá-la. Ela, assessora de comunicação, assume tudo isso e contrapõe: «O Tito é observador, ponderado a falar, reflexivo, picuinhas ao máximo – limpa o cantinho do azulejo ao pormenor enquanto eu trato da sala e da cozinha –, tem muito bom sentido de orientação e só consegue fazer uma coisa de cada vez.»

Marta ainda se zanga com Vítor por ele não acordar com o choro do filho à noite, não ser capaz de planear os assuntos do bebé (quantas fraldas, que comidas, o que levar na mala ao fim de semana) e recusar-se a pedir indicações quando não sabe o caminho. «Às vezes estou furiosa com o Tito e ele não faz ideia, isso enerva-me», desabafa. «Já aconteceu estar dois dias amuada e ele nem perguntar. Eu achava que estava a fazer finca-pé, mas com o tempo vi que não, ele é mesmo assim.» Vítor concede não ser bom a ler nas entrelinhas, tal como é incapaz de lavar a loiça enquanto a comida está ao lume, mas esforça-se por entender as idiossincrasias da namorada: «Sei que as mulheres mudam quando são mães, a Marta mudou, e ofende-me ela ralhar comigo por não saber antecipar as necessidades do Francisco. Eu não sofri as mesmas alterações cerebrais ou hormonais! Também não me irrita ela ser muito organizada com o bebé, o que me irrita é o desleixo em relação a outras coisas.»

DIFERENÇAS QUE SE COMPLEMENTAM
As novas ciências do cérebro permitiram aos cientistas apurar um leque de diferenças que explicam, por exemplo, o porquê de as mulheres serem capazes de recordar os detalhes dos primeiros encontros e as zangas mais inflamadas, ao passo que os companheiros mal se recordam do sucedido (que o digam Marta e Vítor). Homens e mulheres recorrem a áreas cerebrais distintas para arquivar emoções, vivê-las, resolver conflitos, comunicar. A estrutura, a química e o funcionamento do cérebro influenciam o comportamento de ambos, o seu estado de espírito, modo de pensar, apetite sexual e bem-estar. No fim, revela a neurocientista Catarina Resende Oliveira, «estamos perante dois modelos diferentes de funcionamento cerebral, que determinam comportamentos desiguais, mas que se complementam».

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Filipe Simão, informático, e Sofia Domingues, consultora de comunicação, reconhecem conseguir normalmente esta compatibilidade como casal, apesar de por vezes terem vontade de chorar quando os ânimos se exaltam (na verdade, só ela é que chora; Filipe remete-se ao silêncio e espera que passe). Quem olha, vê duas pessoas singulares, tão introvertido e desarrumado o primeiro, como vivaça e conversadora a segunda. Há um ano que vivem juntos e cinco que namoram – ele nunca se lembra das datas –, os dois demoraram a habituar-se aos vícios que traziam de solteiros. O facto de Sofia não alimentar expectativas irrealistas e de Filipe se sentir compreendido, apesar de tudo, ajuda a evitar conflitos insanáveis.

«Não sou romântico. Nunca lhe disse que a amo, com medo de vulgarizar a palavra», confessa, acanhado. «Deve ser coisa que me dirá no leito de morte, no máximo», confirma a namorada. «Já lhe perguntei e ele respondeu que sim, mas mais importante que isso é eu sentir que me ama.» Aos fins de semana, quando ela estica os lençóis ao milímetro e insiste em desfazer as rugas que ficam do lado dele, Filipe irrita-se mas desculpa-lhe o perfecionismo, até porque depois lhe sabe bem deitar-se na cama bem feita. «Tem a mania das arrumações, eu deixo andar [algo que a irrita solenemente]. Sou capaz de ter coisas para deitar no lixo e estar semanas.» Em contrapartida, não se zanga quando ela falha como copiloto: «Uma vez, estávamos nós a ir para Beja na carrinha, pegou no mapa e deu-me as indicações. Ao fim de 20 quilómetros vi que a estrada era aquela, mas íamos na direção errada», aponta.

Catarina Resende Oliveira já não se espanta com estes desaguisados, à luz do que apurou sobre o cérebro enquanto investigadora no Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra: «Embora haja uma partilha de cerca de 99 por cento do código genético, as diferenças são evidentes tanto a nível estrutural como funcional», assegura. O cérebro masculino é maior, ao passo que o feminino tem uma densidade celular superior (igual número de células numa caixa craniana menor). «O córtex cingulado anterior, importante na tomada de decisões, é maior na mulher, da mesma forma que o córtex pré-frontal, com a função de travão na atividade da amígdala (núcleo cerebral responsável pela agressividade), é mais desenvolvido no homem. O hipocampo, relacionado com a memória, é também maior e mais ativo na mulher.»

Segundo a especialista, até às oito semanas o cérebro do feto tem características femininas, sendo o modo como se vão estabelecer e desenvolver os circuitos neuronais determinado pelos genes e pelos níveis de hormonas sexuais. «A subida da testosterona observada nessa idade do desenvolvimento do feto masculino altera o número de sinapses, o tipo de circuitos cerebrais que se vão formar e a maneira de as células neuronais comunicarem entre si, o que é determinante para as diferenças de comportamento que mais tarde caracterizam os dois géneros», diz. No cérebro feminino, os estrogénios promovem o desenvolvimento dos circuitos cerebrais relacionados com a interpretação, o reconhecimento das expressões faciais e a empatia. «Simultaneamente, o masculino é moldado para uma maior capacidade de raciocínio matemático.»

Sofia e Filipe reveem-se bem nestas diferenças gerais por uma questão de feitio: ele é perito a montar móveis do IKEA e aparelhos com manual de instruções, ela só está bem a fazer as coisas a olho; ele nunca se lembra de ela lhe ter dito que ia tomar café com uma amiga e responde-lhe sem ouvir nada da conversa, ela grava tudo ao pormenor; ele raramente chora (e fá-lo sozinho), sente-se impotente com as lágrimas dela e traduz o mundo em zeros e uns, ela tem as emoções à flor da pele, não conduz desde que lhe bateu com o carro e é ótima a ler as pessoas. «Eu já sei ver esses sinais na Sofia, mas nos outros não sou capaz», concede o informático. Ainda assim, ambos percebem que a sociedade desempenha também o seu papel na arquitetura do cérebro, ao exigir que homens e mulheres se comportem de forma “adequada” ao seu género.

«Existe uma componente genética e uma componente ambiental na origem do funcionamento cerebral e, por consequência, na origem de pensamentos, comportamentos, padrões fisiológicos, suscetibilidade a doenças e outras funções», sustenta Sofia Duarte, mestre em neurociências e biologia do comportamento. «Há estudos que procuram dissecar a contribuição das componentes genética e ambiental para os comportamentos ditos femininos ou masculinos, mas separá-las é complexo.» Algumas investigações revelam, porém, que o meio envolvente influencia de facto o padrão de resposta classicamente associado ao sexo masculino ou feminino. «Em certas sociedades matrilineares, por exemplo, as mulheres são mais competitivas e arriscam mais do que na nossa sociedade, em que os homens estão mais associados aos cargos de poder.»

Para a neurologista pediátrica, pode dizer-se que existe uma maneira de pensar feminina ou masculina, embora ela não as entenda como sendo exclusivas das mulheres ou dos homens, respetivamente. «Considerando tudo o que sabemos sobre biologia, património genético e os estereótipos que a nossa sociedade foi concebendo, podemos falar de formas de reagir mais femininas ou masculinas. Felizmente, somos cada vez mais livres de não ficarmos restritos a um padrão de comportamento, e essa liberdade e criatividade são ainda mais notórias na criação artística», sublinha. Ao facto de haver homens dotados de cérebros mais femininos do que masculinos, e mulheres agraciadas com um cérebro mais masculino que feminino, Sofia garante que a determinação genética do sexo é «apenas uma das variáveis na complexidade imensa do ser humano».

RACIONALIDADE E BOM SENSO
Filipe Fernandes é o primeiro a encaixar esta verdade quando jura a pés juntos que Cristina Godinho não é das mulheres «mais dentro do arquétipo» que conhece, além de ele próprio ter «uma costela feminina» que o ajuda a sintonizar com os seus estados de espírito. «Uma das coisas que sempre me atraiu nela foi ser muito racional, ao passo que eu tenho algum nível de sensibilidade, não gosto de futebol e reajo mal às surpresas. Se isso significa que tenho um cérebro mais feminino, não sei.» A companheira confirma: «Sou muito feminina, mas sou mais racional do que emocional (embora seja mais emotiva e inconstante que ele, tenho lágrima fácil). Também leio bem mapas à antiga e não sou multitask, sou terrível a conciliar várias tarefas.»

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Namorados há quase quatro anos e a viverem oficialmente juntos há dois – antes disso ficavam na casa de um ou do outro, operando uma logística muito sua entre as onze da noite e as sete da manhã –, o arquivista do Banco de Portugal e a doutoranda em psicologia da saúde sempre respeitaram os espaços e rotinas que havia antes, sem pressões. «Nós, se calhar, somos um bocado aborrecidos. Entendemo-nos muito bem, acho que falamos a mesma linguagem», conclui Cristina – o companheiro deposita tanta fé nas suas personalidades complementares como ela. «O Filipe é a pessoa a quem confidencio quase tudo, sinto que estou mesmo a ser compreendida. Mas também ainda não passámos por muitos ruídos que interferem com a comunicação.»

Baseada em dez anos de experiência como terapeuta de casal, Celina Coelho de Almeida afirma que relações satisfatórias requerem investimento, disponibilidade e capacidade para lidar com as frustrações do dia a dia, quaisquer que sejam as divergências. «Um dos motivos mais frequentes de rotura é a traição, de que elas se apercebem com maior facilidade. Não sei se os homens traem mais, mas elas são mais perspicazes», adianta a psicoterapeuta e diretora da clínica Insight. Muitas vezes, ambos os cônjuges se queixam de não ser desejados, sem se aperceberem de que o que está por detrás é uma incapacidade de comunicar. «Uma mulher precisa de sentir-se amada e valorizada para investir no sexo, é-lhe difícil separar a parte sexual da parte afetiva. Ao homem, fragiliza-o mais pensar que não é desejado sexualmente, algo que muitas vezes sucede não por falta de desejo da parte dela, mas por ela não se sentir apoiada por ele.»

Ao contrário do cérebro feminino, preparado para ler rostos, interpretar tons de voz e apreender nuances emocionais, os homens em geral só compreendem que fizeram asneira quando as veem chorar. «Eles tendem à ação, querem resolver os problemas delas. Mas depois, como não sabem como fazê-lo, ficam atrapalhados e isso acaba por se tornar desconfortável e impedir que haja uma boa cumplicidade, o que para as mulheres é importantíssimo», decifra Celina. A neuropsiquiatra Louann Brizendine aplaude o valor de não se cair em simplismos: «É certo que os objetivos soberanos do cérebro masculino são o sexo, o estatuto e o poder, mas a história está muito longe de se ficar por aí.»

Também eles são emotivos na infância, até a biologia, a educação, a testosterona e as pressões sociais lhes (re)formatarem os circuitos. Quanto ao cliché do homem sem emoções guiado pela luxúria, a ciência provou que o impulso sexual pode amadurecer e transformar-se numa capacidade para amar tão forte como a da mulher. Filipe Fernandes é um destes casos a quem a perspetiva de ter filhos em breve não o assusta, pelo contrário. «Ser pai não era uma prioridade quando estava sozinho, mas sabia que se chegasse aos 45 anos sem prole era capaz de sentir que faltava alguma coisa», revela. «A Cristina veio despertar essa vontade em mim. É uma coisa que quero fazer com ela.» As boas notícias são que, quanto mais um homem cuidar das suas crianças, mais ligações o cérebro cria para o comportamento paternal, ao mesmo tempo que a oxitocina ajuda o seu lado mais sensível a prosperar. Estamos sempre a aprender.

PRODUÇÃO DE MODA E CABELOS: FERNANDA BRITO MAQUILHAGEM COM PRODUTOS CLARINS: MARIA ELISBAO CABELOS: SÍLVIA FERREIRA

LEITURAS PARA ENTENDER AS DIFERENÇAS

O Cérebro Feminino, Louann Brizendine; Alêtheia Editores, 2007.
O Cérebro Masculino, Louann Brizendine; Alêtheia Editores, 2010.
Os Homens São de Marte, as Mulheres de Vénus, John Gray; Rocco, 2002.
Quando Marte e Vénus Chocam, John Gray; Pergaminho, 2009.
Marte e Vénus Recomeçando, John Gray; Temas & Debates, 2002.
Porque é que os Homens Nunca Ouvem Nada e as Mulheres Não Sabem Ler os Mapas de Estradas, Allan e Barbara Pease; Bizâncio, 2000.
Porque é Que os Homens Mentem e as Mulheres Choram, Allan e Barbara Pease; Bizâncio, 2002.
O Que os Homens Dizem e o Que as Mulheres Ouvem, Linda Papadopoulos; Editora Guerra & Paz, 2010.
O Que os Homens Nunca Dirão às Mulheres e Vice-Versa, Anne Dufour; Europa-América, 2009.
Não Nos Estamos a Entender, Deborah Tannen; Estrela Polar, 2006.
Porque é Que os Homens Querem Sexo e as Mulheres Precisam de Amor, Allan e Barbara Pease; Bizâncio, 2009.
Porque é Que os Homens Nunca se Lembram e as Mulheres Nunca se Esquecem, Marianne J. Legato; Caderno, 2007.

ELES E ELAS: MITOS E VERDADES

As mulheres não têm jeito para ciências e matemática. Falso. Quando as raparigas atingem a adolescência, não há diferença nas suas capacidades matemáticas e científicas face aos rapazes. O que acontece é que quando o estrogénio inunda o cérebro feminino, elas desinteressam-se de atividades que impliquem menor interação e comunicação.
Os homens pensam muito mais em sexo do que as mulheres. Verdadeiro. Os centros cerebrais masculinos dedicados à sexualidade são duas vezes maiores do que as estruturas correspondentes no cérebro feminino, o que quer dizer que o sexo lhes ocupa o dobro do espaço e da capacidade de processamento.
Sentimentos menos exaltados de paixão significam que a relação está condenada. Falso. O fluxo de dopamina no cérebro vai diminuindo, mas o facto de os circuitos do prazer perderem intensidade não afeta os circuitos afetivos. O casal pode estar simplesmente a evoluir para uma fase mais madura, estável e duradoura do relacionamento, de maior entendimento entre ambos e gosto na companhia do outro.
A maternidade muda uma mulher para sempre. Verdadeiro. A conceção altera irreversivelmente o cérebro feminino em termos estruturais e funcionais: a determinação em proteger e cuidar dos filhos domina os circuitos cerebrais e as mães tornam-se ciosas da sua segurança, vigilantes, com melhor memória espacial, mais flexíveis, corajosas e inventivas. São as modificações mais permanentes e profundas na vida de uma mulher.
Os homens não guardam recordações detalhadas das emoções. Falso. Se a pessoa com quem estão a interagir se mostrar agressiva e irritada, são capazes de ler essa emoção tal como as mulheres o fazem. Caso contrário, os seus circuitos cerebrais não retêm informações, muito menos detalhes, de ocorrências tão marcantes como o próprio dia do casamento. As mulheres tendem a interpretar isto como falta de amor, mas tem unicamente a ver com a forma como são arquivadas as emoções no cérebro masculino.
O cérebro masculino está estruturado para buscar soluções e não para demonstrar empatia. Verdadeiro. O cérebro masculino não foi concebido para gastar tempo a falar de emoções, antes para se lançar ao encontro da solução. Tal não significa que os homens não queiram saber dos problemas das companheiras. Simplesmente, resolver problemas é o modo que eles têm de mostrar que se preocupam e o seu amor por elas.
A arquitetura do cérebro é determinada à nascença ou no fim da infância. Falso. Embora a distinção entre cérebros comece por ser biológica, a cultura e os comportamentos ensinados são igualmente essenciais nessa formação continuada. Alguns cientistas defendem que diferenças sexuais de comportamento e cognição podem aumentar, diminuir e até desaparecer, dependendo do contexto social, do país ou do período histórico.
A diferença entre cérebros masculinos e femininos tem raízes evolutivas. Verdadeiro. No tempo das cavernas, as mulheres preparavam os alimentos, cuidavam dos mais novos e aprenderam a ler a linguagem corporal dos bebés para ajudá-los a sobreviver, ao mesmo tempo que se relacionavam com as outras mulheres do grupo. Os homens, que caçavam e lideravam, desenvolveram um cérebro menos social, mas mais funcional, com aptidões visuais, manuais e de coordenação para construir ferramentas.

4 PERGUNTAS A SOFIA DUARTE

Tudo o que se disse até agora sobre as diferenças entre os cérebros masculino e feminino pode um dia ser contestado?
A ciência está em constante evolução e esta é uma das suas características mais fascinantes. Creio que o mais relevante será compreender a importância da determinação genética do sexo, por um lado, e da forma como a nossa sociedade está organizada, por outro. Há homens muito realizados como pais de família e mulheres para as quais a realização vem sobretudo da vertente profissional. Isso poderia contestar a nossa perspetiva do que será masculino ou feminino.
As raparigas gostam de bonecas, os rapazes preferem carros e bolas. É o cérebro ou a educação que determina essa preferência?
Parece haver alguns padrões de comportamento que são biologicamente determinados e não resultam apenas da influência social e da educação dos pais. A tendência para atividade física mais intensa no sexo masculino, por exemplo, existe noutras espécies de primatas. Por outro lado, sem dúvida que há uma componente de imitação e que as meninas são mais expostas a brinquedos considerados femininos, da mesma forma que os meninos convivem mais com o universo masculino.
Há diferenças de senso comum entre géneros: comunicação e empatia é com elas (os homens proferem sete mil palavras por dia, as mulheres vinte mil) e ação e sentido de localização é com eles. Elas são mais emotivas, eles mais racionais. Temos que recuar ao tempo das cavernas para explicá-las?
A evolução ajuda-nos muito a compreender vários processos fisiológicos. As diferenças de género são transversais na natureza e muito importantes para a preservação das espécies. Quando tentamos compreender a biologia, devemos sempre colocar estas questões: de que modo é que este comportamento foi favorecido pela seleção natural? De que forma pode ele ser protetor para a espécie?
O senso comum também nos diz que rapazes e raparigas agem de maneira diferente e vemos isso todos os dias em casa, na rua, no recreio, na sala de aula. Eles gostam mais de jogos agressivos do que elas…
Mais uma vez, a empatia nas meninas e a agressividade nos meninos. Aqui, a biologia parece ser relevante. Sem dúvida que na natureza existem muitos exemplos de maior agressividade nos machos.