Dicionário Ilustrado: O capacete

Notícias Magazine

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Há uma película entre o homem e o mundo e, claro, um sujei­to quando está vivo deve sempre usar capacete. Porque a vida não é tarefa fácil. Caem sempre lá de cima objectos perigosos ou até, de forma mais habitual, o que cai, com frequência, são acontecimentos perigosos, oblíquos, inclinados, cortantes, pesados; acontecimentos que aparecem contra a nossa vontade e que nos partem, logo ali, a cabeça, assim, literalmente psicologicamente, espiritualmente, etc. Todos os seres humanos deveriam pois caminhar, na cidade mansa e pacífica, com um capacete na cabeça. Não é necessário subir para cima de motos a grande velocidade nem entrar em sítios perigosos. A vida é, já por si, um sítio perigoso, um sítio em obras, em mudan­ças constantes, em construções e reconstruções.

O Céu não está intacto por cima de nós; o destino não é ar e na­da, pelo contrário: é matéria física que tem fissuras e sofre rombos. De facto, caem, com muita frequência, lá de cima, bocados de telhas capazes de te quebrar a cabeça no preciso momento em que ela (a cabeça) estava a ser muitíssimo inteligente – no seu momento mais alto, portanto, é aí que a cabeça cede ao peso grande vindo de cima.

Levem capacete!, senhores e senhoras, meninos e meninas, velhos e velhinhas, novos e novinhos; sempre, sempre de capacete enquanto o dia for dia e a noite, noite.

GONÇALO M. TAVARES ESCREVE DE ACORDO COM A ANTIGA ORTOGRAFIA

[Publicado originalmente na edição de 20 de abril de 2014]