O século XXI está nisto: nenhuma expressividade. O homem transformou-se aos poucos numa coisa geométrica, neutra, com lados iguais entre si (mais ou menos) e tudo o que era organismo é agora medidas e números.
Mas há algo de humano que ficou atrás do século (precisamente atrás). Duas mãos, duas simples mãos humanas que gesticulam, que se fartam de gesticular. Parecem sinaleiros; parecem, à primeira vista, querer orientar o mundo: para a esquerda, para a direita, para cima, para baixo. Mas depois de observarmos essas mãos algum tempo veremos que não; que essas mãos não estão a orientar nada, estão a gesticular: essas mãos pedem ajuda, estão desesperadas.
É o que sobra do humano (no século XXI).
Felizmente, ainda temos o desespero.
(Imaginem o que seria nem sequer termos o desespero. Nem sequer termos estas duas mãos que gesticulam, que pedem ajuda.)
[09-03-2014]
GONÇALO M. TAVARES ESCREVE DE ACORDO COM A ANTIGA ORTOGRAFIA