Não se trata de um senhor que segura uma tela e que, apesar de estar sentado, se vai aproximando da câmara. Nada disso. Nestas três imagens (é preciso explicar tudo) o que se ilustra é a aproximação do senhor que tirou as fotografias – ou então mostra-se, simplesmente, o efeito zoom.
O que é o efeito zoom?
Não é o observado que se aproxima, não é o observador que se aproxima – quem se aproxima não é um quem, por assim dizer, é a lente. Um quê.
E, de facto, se compararmos o século XX e o século XXI verificaremos que as pessoas não se aproximaram entre si. O observador do século XXI não está mais próximo do observado do que o observador do século XX. A capacidade das lentes é que aumentou. Mudança técnica, não mudança afectiva ou humana.
E, claro, esta simples observação pode ser vista como uma parábola. Os homens, portanto, não se aproximaram entre si; continuam a manter as distâncias: um homem é um homem e outro homem é sempre outro homem. Mas cuidado: agora há o grande zoom, a grande lente. E sim: no século XX, o outro estava lá ao fundo e agora o outro parece que está mesmo aqui ao meu lado. Mas não, mas não, mas não. O outro, claro, continua a ser o inferno, a maldade, etc. – mesmo que esteja apenas a segurar uma tela.
GONÇALO M. TAVARES ESCREVE DE ACORDO COM A ANTIGA ORTOGRAFIA
[Publicado originalmente na edição de 4 de maio de 2014]