Uma bailarina pesada e oca ao mesmo tempo. Um corpo vazio, mas dois bracinhos.
Um frigorífico sem conteúdo, esvaziado do seu interior, que se transformou em bailarina.
Pés por baixo e mãos ao lado.
Não é uma bailarina encantadora, mas tem personalidade.
Os frigoríficos vazios continuam a ser utilizáveis em certos bailados ao ar livre.
Pensar num frigorífico vazio que é capaz de se pôr em bicos de pés. Um frigorífico em pontas, com sapatos de bailarina.
A dança contemporânea é um pouco isto: radical transformação e mistura de peso e leveza. O que é leve, o que anda em bicos de pés, é aquilo que mais se afundará.
Só o que é muito pesado poderá voar. Só o que é muito leve poderá exercer força intensa sobre o solo.
GONÇALO M. TAVARES ESCREVE DE ACORDO COM A ANTIGA ORTOGRAFIA