Conhecem a regra da árvore e da floresta? Pela sua abrangência aplica-se a tudo, da economia à biologia, passando pela administração de empresas. Mas é no jornalismo que ganha maior utilidade. Não da forma como acontece noutras áreas. Normalmente, o esforço científico faz-se partindo da parte e chegando ao todo. É isso que mandam os métodos que validam a investigação.
No jornalismo é ao contrário. Sabem porquê? Porque a nossa função – podem ser muitas, mas esta é a que mais nos interessa, aqui, na Notícias Magazine – é explicar o mundo, traduzi-lo para a linguagem dos leitores. Assim, quando a floresta nos diz A, nós temos de explicar as derivações desse A em todas as árvores que constituem essa floresta. E como é que essas derivações levaram à situação global que se apresenta.
Agora que já vos confundi, vou simplificar. O tema de capa desta semana é um desses trabalhos jornalísticos de entrar na floresta para ver as árvores. Tem-se falado muito sobre a emigração. Tudo começou polémico, com as palavras de Pedro Passos Coelho incentivando os jovens a emigrar, acentuando que não havia nenhum drama nisso. Claro que havia, sabia-o bem toda a gente que conhece alguém que emigrou – e não deve haver uma família portuguesa em que, nos últimos cinquenta anos isso não tenha acontecido. E sabiam-no os economistas e os sociólogos, que podiam explicar ao político que o pior que a emigração tem é retirar-nos os melhores. São sempre os mais fortes, os mais aventureiros, os mais capazes, que se vão primeiro embora. Os efeitos disso, nos anos 1950 e 60, ainda os estamos a sentir. Imaginemos o que vai ser de Portugal daqui a trinta anos, depois desta fuga de cérebros.
O primeiro-ministro deve ter batido na boca mil vezes, arrependido. Na altura, escrevi aqui que a decisão de emigrar é tão dolorosamente individual que ninguém devia poder dar bitaites sobre o assunto. Muito menos um primeiro-ministro, representante oficial daquilo que todos sentimos como a pátria. A onda de emigração começou com a polémica, mas estaríamos hoje todos mais contentes se tivesse terminado por aí. Mas não. A conversa tornou-se realidade. As condições económicas foram-se deteriorando. Cada vez menos oportunidades, menos emprego, menos emprego satisfatório… E, recentemente, conheceram-se dados que indicam que 100 a 120 mil portugueses terão saído de Portugal, só em 2013.
Estes são os números do drama. A floresta. As árvores estão na reportagem da Sónia Morais Santos que hoje faz capa desta edição. É a história, contada em carne e osso, do drama da emigração. Porque é a essa conclusão que se chega depois de ler as histórias das despedidas destes jovens. Qualquer que seja a circunstância, melhor ou pior, mais preparada ou mais improvisada, a decisão de ir embora por razões profissionais e económicas é sempre um drama. Como diz a Sónia, nem um país habituado a emigrar aprende a emigrar. As gerações aprendem o que há para aprender e esquecem o que há para esquecer. A destes jovens já não sabia o que era isso de não conseguir viver no país onde se nasceu. Que, ainda por cima, se julgava ter evoluído, ter crescido o suficiente para se poder autonomear de país moderno e desenvolvido. Estão a aprendê-lo. Em carne viva.
[26-01-2014]