À vontade do freguês

Talvez seja preciso acordar mais cedo, resistir à preguiça se for sábado, mudar os pla­nos de fim de semana. Mas vale a pena. Uma ida ao mer­cado facilmente se transfor­ma numa manhã de conversa e de risos, bem mais animada do que aquela meia hora em que se deambulou pelos corredores de um hipermercado à procura do queijo que não aparece. As grandes superfícies vieram faci­litar-nos a vida, mas quem é que nunca sorriu ao ouvir o despique dos vendedores no mer­cado, seduzindo o «freguês»? E que mulher – também vale para o sexo masculino – não correu para a banca do vendedor ou vende­dora que lhe tirou 20 anos dos ombros ao cha­mar-lhe «menina»?

Há muitas formas de tirar partido das compras num mercado tradicional. Se falar­mos de alimentação saudável, é natural que os produtos comercializados sejam muito frescos, que as frutas e os legumes acabados de colher sejam trazidos pelo próprio produ­tor que escolhe o mercado para escoar a pro­dução. O preço, por vezes, pode não ser tão baixo quanto o praticado nos hipermerca­dos, que conseguem comprar a fruta e os le­gumes em maiores quantidades; mas a qua­lidade, por outro lado, pode ser bem diferen­te – para melhor. Sobretudo se o cultivo se faz sem fertilizantes, tornando os legumes e as frutas ainda mais benéficas no seu valor nutricional. Outra dica importante neste campo: no mercado, abundam os produtos sazonais, que se tornam mais baratos porque existem em maiores quantidades e são mais saudáveis porque não são adubados para crescer fora de tempo. Em maio e junho, por exemplo, aposte nas maçãs, nas cerejas, mo­rangos, pêssegos, ameixas, alperces ou nês­peras. Nos legumes, escolha os espinafres, os espargos, agrião, pepino, ervilhas frescas, fa­vas ou batatas novas.

E se escolher a produção nacional, estará a ajudar na recuperação da economia e a fa­zer compras com consciência ambiental: se os vegetais vêm de perto da sua casa, evitam-se as longas viagens e poupa-se nos gases no­civos libertados para a atmosfera.

Outra vantagem tem que ver, precisa­mente, com o ato de sedução: quando um vendedor conquista o freguês, tudo fará para lhe agradar. O que significa que se for sempre à mesma banca comprar fruta, ao final de umas semanas o dono já percebeu do que gosta, aquilo que procura e, prova­velmente, terá aqueles alperces à sua espe­ra. E isto quer dizer que já não precisa de saltar da cama cedo para apanhar o que houver e evitar o que sobra.

Há outros produtos cuja compra pode compensar num mercado tradicional. Só tem de andar atento: se falarmos de queijos, por exemplo, há sempre hipótese de encon­trar aqueles que ainda são feitos usando téc­nicas quase artesanais. Cada produto é um exemplar único de sabor, ao qual será difí­cil ter acesso numa grande superfície comer­cial: os pequenos produtores têm dificulda­de em entrar nos seus canais de distribuição.

A qualidade do pescado, por exemplo, é vi­sível a olho nu: os olhos salientes, as guelras brilhantes e o cheiro a maresia são bons indi­cadores de frescura. O peixe, cuja frescura se afere pelo aspeto, é muitas vezes comprado de madrugada, nas lotas, limpo e colocado à venda poucas horas depois de chegar do mar, para garantir a satisfação dos consumidores.

Nas carnes, muitas vezes preferimos com­prá-las embaladas no supermercado, evitan­do filas de espera do talho. O problema é abrir a embalagem e perceber, pelo cheiro e pela cor do lado do bife que estava escondido, que esta escolha pode ser traiçoeira. Ir ao merca­do significa ter um talhante disposto a mos­trar as peças, cortar ao seu gosto, tirar gordu­ras indesejadas e dar conselhos sobre a me­lhor forma de cozinhar aquela parte da vaca ou explicar como o lombo fica mais tenro.

» APROVEITE O ORGÂNICO E BIOLÓGICO
Num mercado, é mais fácil en­contrar produtos sem quími­cos ou pesticidas que agri­dem a natureza. Apesar de, por norma, terem preços mais elevados, esta diferença tem vindo a diminuir, uma vez que há cada vez mais «agricul­tores biológicos» e o número de consumidores deste tipo de produto tem vindo a aumentar. E encurtaram-se os canais de distribuição: é cada vez mais comum o vendedor comprar diretamente ao produtor.

» ESCOLHA A FRUTA DA ÉPOCA
Mais barata, porque existe em maiores quantidades, a fruta da época garante sabor e melhor quali­dade nutricional. Além de ser uma escolha ecológica: se optar mais vezes pela fruta tropical, por exemplo, vai estar a pagar o transporte e, conse­quentemente, ser responsável pela emissão de mais gases nocivos para a atmosfera.

» COMPRE O QUE QUER, COMO QUER
Nem sempre os produtos embalados vêm nas condi­ções que desejaríamos. Num mercado tradicio­nal, pode sempre falar com os vendedores para que lhe arranjem o peixe como mais gosta ou pedir conselhos sobre a melhor forma de cozinhar aquela peça de carne.

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