A vida saudável em debate

Patrícia Moura Ramos, da Boots Laboratories, o professor Manuel Carrageta, da Fundação Portuguesa de Cardiologia, e Helena Cid, nutricionista da Becel, reuniram-se para, no final do Movimento Saudável, esclarecer mitos e apontar hábitos para um melhor estilo de vida.

Em maio e junho, a Notícias Magazine lançou um caderno especial dedicado à vida saudável, com dicas de exercício físico, receitas, explicações de especialistas e todas as novidades para manter sãos o corpo e a mente. O culminar deste Movimento Saudável foi um debate que contou com Helena Cid, nutricionista da Becel, Patrícia Moura Ramos, da Boots Laboratories, e o cardiologista Manuel Carrageta, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, no auditório do Diário de Notícias, em Lisboa, para uma conversa moderada por Catarina Carvalho, diretora da revista.

LEGUMES, LEGUMES, LEGUMES
O mote para início de conversa partiu da diretora da Notícias Magazine: reconhecendo que os portugueses estão cada vez mais alerta para as questões da saúde, o que é que ainda nos falta fazer para termos uma vida mais saudável? Helena Cid foi a primeira a responder, apontando caminhos, pelo menos, ao nível da alimentação: é preciso insistir nos vegetais e consumi-los todos os dias. Mesmo que hoje, admitiu a nutricionista, os portugueses procurem cada vez mais os profissionais de saúde de forma preventiva, antes da doença, há noção da teoria, só que é difícil passá-la à prática. E deu o exemplo da pessoa – e conhecemos tantas – que diz que todos os dias come salada, mas na realidade tem no prato uma folha de alface e uma rodela de tomate. Não basta: metade do prato deve ser vegetais, não podemos esquecer-nos da sopa e muito menos de tomar pequeno-almoço todos os dias – café e um bolo a correr não conta.

DIETAS SIM, ESTÚPIDAS NÃO
O verão é a estação que incentiva aos hábitos alimentares mais saudáveis, com maior consumo de fruta, saladas e refeições mais leves. O inverno é o período mais perigoso, em que compensamos com doces a falta de sol, e a primavera, admite a nutricionista, significa o terror para os profissionais de saúde: nesses meses os portugueses decidem perder as gorduras acumuladas no frio. Em vez de uma dieta equilibrada, fazemos regimes demasiado restritivos que procuram o emagrecimento rápido. E este tipo de alimentação obriga à perda de líquidos e de massa muscular. Daí que seja frequente, nas urgências dos hospitais, darem entrada na primavera mais pacientes com arritmias: é que o coração também é um músculo e fica afetado por este tipo de comportamento irresponsável.

E MUITA ÁGUA
O ideal é manter o peso ao longo do ano, garantindo sempre o bom aporte de vitaminas e minerais que nos preparam para um verão mais saudável, sem esquecer a ingestão de líquidos: entre 1,5 l a 2 l de água por dia – que pode ser substituída por chás sem açúcar, por exemplo. Assim, até a pele agradece e fica mais bem preparada para receber o sol.

SIM AOS HIDRATOS… BONS
A nutricionista Helena Cid explicou que há dois tipos de hidratos, de absorção lenta e absorção rápida. Os hidratos de carbono de absorção lenta são complexos, libertam o açúcar lentamente para o organismo e encontram-se no pão, massa, arroz ou batatas. Já os hidratos de carbono de absorção rápida são os açúcares simples, imediatamente assimilados pelo organismo e que, não sendo gastos pela atividade física, dão autênticas «chicotadas» no pâncreas, que é obrigado a intensificar a atividade e pode mesmo esgotar-se, levando à diabetes, explicou o professor doutor Manuel Carrageta.

EXERCÍCIO TEM DE SER DIÁRIO
Para o presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, a resposta para uma vida saudável está no binómio alimentação/exercício físico. É preciso contrariar o sedentarismo e manter uma alimentação equilibrada para garantir a melhor qualidade de vida. Segundo o especialista, bata uma hora de marcha por dia em passo rápido, entrecortada com períodos curtos de corrida (que garantem a libertação de hormonas como a serotonina, adrenalina e cortisol) para ativar os músculos. Os exercícios de resistência também são benéficos, especialmente a partir dos 35 anos, idade em que a massa muscular pode atrofiar em resultado de uma vida excessivamente sedentária. No final da atividade física, Manuel Carrageta destacou a necessidade de fazer alongamentos, para garantir a saúde das articulações. À medida que a idade avança, podem ser úteis alguns treinos de equilíbrio, para evitar as quedas que, na terceira idade, resultam invariavelmente em fraturas do colo do fémur. As estatísticas mostram que trinta a quarenta por cento dos pacientes que sofrem este tipo de trauma morrem no ano que se segue ao acidente, não em virtude da fratura mas das complicações que surgem a partir daí. Logo, o exercício físico, que ativa a massa muscular e a tonifica, é imprescindível para resistir melhor ao envelhecimento. E os benefícios do desporto sentem-se também ao nível do cérebro: hoje sabe-se que o exercício regenera as células cerebrais e é uma forma de manter jovem a massa cinzenta.

POUCO SAL E DIETA MEDITERRÂNICA
No que diz respeito à alimentação, a outra metade do binómio apontado por Manuel Carrageta, o especialista sublinha que o excesso de sal é um dos nossos maiores problemas e que é necessária legislação mais restritiva, como aquela que já existe para as quantidades de sal no pão. Elogiando as qualidades da dieta mediterrânica, que acaba por remeter para um estilo de vida mais saudável, o presidente da Fundação lamenta que esta esteja hoje moribunda, culpa do marketing poderoso que torna a fast food bem mais apelativa. É preciso regressar à dieta mediterrânica, privilegiar os produtos da estação, a fruta da época e evitar a gordura animal, com exceção para o peixe, que fornece o precioso ómega 3. Vale também privilegiar os frutos secos e não é proibido beber um copo de vinho às refeições. A regra mais importante é a da moderação.

E SER FELIZ
Outra informação a reter da intervenção do presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia: a irascibilidade é fator de risco cardiovascular. Por outras palavras, importa aliar um estilo de vida saudável a uma atitude otimista para viver muitos e bons anos. Basta olhar para os centenários, sublinhou o cardiologista: aqueles que conhecemos são normalmente pessoas moderadas, otimistas, comunicativas e pacientes. Talvez resida nesta combinação o segredo da longevidade.

SOL SAUDÁVEL
Patrícia Moura Ramos, da Boots Laboratories, marca que tem uma gama de produtos dedicados à proteção solar, procurou desfazer as dúvidas quanto aos benefícios do sol e os mitos aliados à exposição solar. Por exemplo, em termos de aporte de vitamina D, precisamos apenas de dez minutos por dia a receber raios solares para satisfazermos as necessidades do organismo. Pior são os maus hábitos que os portugueses ainda têm em relação ao sol: desporto ao ar livre sem usar a proteção na pele que é o nosso órgão de defesa. Há necessidade, alertou Patrícia, de uma «fotoeducação» que sensibilize os portugueses para os perigos do cancro cutâneo. Surgem por ano cerca de mil novos casos da doença. Outra informação relevante: se, ano após ano, a sujeitarmos a eritemas solares (os conhecidos «escaldões»), subimos exponencialmente a probabilidade de vir a desenvolver carcinoma ou melanoma. Como se faz, então, a habituação da pele ao sol? Nos primeiros dias, explicou Patrícia, é ainda mais importante evitar as piores horas de sol (entre as 10h00 e as 16h00), procurar a sombra, usar um protetor solar com um fator de proteção adequado (50 é o recomendado e reaplicá-lo sempre de duas em duas horas ou após o banho de mar. Se a habituação ao sol for feita sem pressas e com moderação, no final das férias o bronzeado será certamente mais bonito e prolongado, sem riscos para a pele. A diretora de comunicação da Boots, com larga experiência na área da cosmética solar, alertou também para a necessidade de proteção das pessoas que trabalham fora de portas – agricultores, pescadores, mesmo os taxistas ou motoristas, devem ter atenção redobrada e usar sempre uma loção protetora. Os sinais de grandes dimensões também devem ser inspecionados periodicamente.

SOL E RUGAS
Outra ideia que fica deste debate, no que ao sol diz respeito, é a necessidade de proteção para evitar o envelhecimento precoce da pele. Segundo Patrícia Moura Ramos, noventa por cento das rugas são causadas pelos raios solares, pelo que sair de casa com protetor solar, pelo menos na face, deve tornar- se um hábito diário para homens e mulheres. Outro esclarecimento importante teve a ver com a ação dos raios solares consoante o tipo: os raios UVB penetram superficialmente na pele e têm efeitos visíveis, causando a vermelhidão dos eritemas solares; já os raios UVA têm efeitos invisíveis: causam o fotoenvelhecimento, a fotoalergia e, mais grave ainda, potenciam os efeitos cancerígenos dos raios UVB. Daí que todos os produtos no mercado garantam proteção contra ambos os tipos de raios do sol. O fator de proteção solar – ou SPF, na sigla inglesa – que pode ser 15, 30 ou 50 (o mais elevado) refere-se aos raios UVB, mas em relação aos raios UVA a comunidade científica não chegou ainda a consenso sobre a métrica a utilizar para indicar o nível de proteção. Muitas marcas de protetores solares colocam estrelas (entre uma e cinco) consoante o nível de proteção dos raios UVA seja mais ou menos elevado.

Assista à conferência em www.noticiasmagazine.pt