Há uma série de estereótipos para a «mãe perfeita»: a que guia, a que está sempre presente, a que dá tudo, a que é madura. Nós fomos conhecer mães que fogem aos estereótipos e são tão «melhores mães do mundo como todas as outras». Afinal, fazem o melhor que podem e sabem.
MÃE É A QUE DÁ TUDO
Vivem numa casa pobre, no problemático Bairro 6 de Maio, em Lisboa. No inverno, chove dentro de casa tal como chove na rua, mas Maria Deotina Lopes, 52 anos, diz que aquela casa é o seu palácio: «Só desde que vim para aqui, há 11 anos, é que passei a ter paz.»
E se é uma vida de lutas, a sua. Tantas lutas que o seu corpo tem mazelas visíveis e invisíveis, como que a não deixarem esquecer o tanto que já passou. Nasceu em Cabo Verde e, ainda menina, foi viver para casa de uma senhora que se engraçou por ela. Assim mesmo, sem grandes explicações. Não se sabe se a mãe recebeu dinheiro para a dar assim, de bandeja, ou se o facto de se libertar do encargo de um dos seis filhos já era, por si, alívio suficiente. O que Maria Deotina sabe é que, nessa casa que, ao contrário da sua, não tinha chão de terra, comeu o pão que o diabo amassou. «Não foi uma boa infância. Era muito maltratada. Trabalhava muito e recebia muitos pontapés.»
Ainda assim, e apesar de toda a revolta, a cabo-verdiana agradece: «Agradeço porque se hoje sei assinar o meu nome, a ela devo. Se tenho educação e se sei tomar conta de crianças, que era na época o meu principal trabalho, a ela devo. Agradeço-lhe mais do que à minha mãe, que só me pariu. O meu pai não queria que eu fosse viver com aquela mulher, mas fui. E nunca mais recebi um beijinho, um carinho dos meus pais. De ninguém! A senhora com quem fui viver dava-me com a frigideira na cabeça, mordia-me, espancava-me tanto que nem sei dizer. Nem sei como não morri.»
Um dia, aos 19 anos, começou a sentir–se mal. Enjoada, a vomitar tudo, fraca, sem vontade para nada. Foi ao posto e quando ouviu o que a enfermeira lhe disse, começou a gritar: «Grávida? Ai, vou-me suicidar! Ai, que ela mata-me! Ela mata-me e mais vale morrer já.» Não matou. Mas quase. Chocada com a notícia, a mulher que lhe escravizou a infância espancou-a, deu-lhe um banho com água fria, deixou-a a tremer de frio num banco de pau, com a roupa encharcada, sem a deixar adormecer. Uma noite de horror. Depois, mandou-a para Portugal, para onde a mãe biológica tinha ido viver.
Veio grávida de seis meses e não se pode dizer que o reencontro com a família tenha sido um mar de rosas. Mas Maria Deotina é de uma elegância rara e prefere não falar de quem está vivo e com muita idade. Hoje é ela quem toma conta da mãe, entre os tantos afazeres que lhe ocupam os dias. Como se não houvesse um passado para saldar, como se as mágoas não tivessem o direito de se sobrepor aos laços de sangue. Para ela não. O que lá vai, lá vai. E hoje só quer estar bem com a sua consciência e em paz. Para variar.
Maria Deotina tem três filhos: Osvaldo, 30 anos, filho da tal relação ocasional de adolescência ainda em Cabo Verde que lhe valeu muita pancada; Sónia, 26 anos, filha de um relacionamento que durou seis; e Tiago, 11 anos, fruto de uma história que também já conheceu um fim. Podia ser uma mãe degenerada. Afinal, dizem os especialistas que tendemos a repetir comportamentos, mas ela fez das tripas coração para ser a melhor mãe do mundo, contrariando tudo o que sempre fizeram consigo: «Sempre tratei bem os meus filhos. Sou pobre mas sempre tentei que não lhes faltasse nada. Sobretudo mimo, carinho, que foi o que nunca tive.»
Não será por acaso que Osvaldo estudou até ao 10.º ano e está agora a viver e a trabalhar em Londres, Sónia concluiu o 12.º ano (trabalha, tem a sua casa e está quase a ser mãe pela segunda vez) e Tiago é bom aluno e um verdadeiro prodígio no futebol. A mãe vira-se do avesso para chegar a todo o lado, para que nada falte, sobretudo ao único filho que ainda vive consigo, o Tiago. «Ele treina três vezes por semana, no Belenenses. É um craque! Anda a ser assediado pelo Benfica, pelo Sporting e pelo Porto. De maneira que, três vezes por semana, saio do trabalho, venho buscá-lo e apanhamos dois autocarros ou então o comboio e outro autocarro. Chegamos a casa às onze da noite. Depois, no fim de semana, acordo às seis da manhã para o levar aos jogos.»
Além da escola, dos treinos e dos jogos, a mãe não descura a educação espiritual. O menino anda na catequese e ao domingo vai à missa. «É importante. É preciso ter orientação, ter valores, ser bom.» A irmã Deolinda, do Centro Social 6 de Maio, tece rasgados elogios a esta mãe: «Uma lutadora, com uma história de vida terrível, que faz de tudo pelos seus filhos. Tomara muitas, com outro tipo de vida, terem a capacidade de trabalho e de educação desta mãe.»
Maria Deotina sorri. Gosta do reconhecimento, sobretudo porque sabe que é verdade. «Ganho 300 euros mas sou muito organizada. Por exemplo, quando chega o abono de família dele, esqueço que existe e guardo-o. Sempre que ele precisa de alguma coisa, sejam umas chuteiras de marca ou outra coisa especial, vou ao abono. Não deixo que lhe falte nada, como não deixei que faltasse aos outros. Sou pobre mas não quero que ele se sinta inferior. Lavo-lhe sempre o equipamento, para ele não ir sujo. Ando sempre cansada mas sei que ele é feliz.»
Tiago garante que sim, é feliz. E assegura que aquela mãe é a melhor que podia ter: «Apesar das dificuldades que passou e passa, ela consegue sempre ultrapassar tudo. E eu já lhe disse: se continuar a ser bom no futebol e conseguir chegar longe, dou-lhe um casarão grande! Com jacuzzi e tudo!»
MÃE É A QUE GUIA
Foi dissuadida por quase todos. Família, alguns amigos, médicos. «Como é que vai ser mãe sendo cega?» Tantas vozes unidas na mesma ladainha começaram a retraí-la. E se estivessem certos? Mas Helena Fernandes, 48 anos, conhecia outras famílias de invisuais com filhos. Além do mais, por que havia de se privar de ser mãe apenas por uma fatalidade da vida? «O preconceito é muito duro. É um peso, um fardo ainda maior do que a própria deficiência.»
Antes de tentarem engravidar, Helena e o marido fizeram um batalhão de testes genéticos. Queriam ter a certeza de que não passariam a herança da cegueira (comum a ambos) para o futuro bebé. Até que, por fim, veio a boa nova. O que Helena não sabia era que se tratava de um dois-em-um: «Na ecografia, o médico quis saber se estava feliz com a gravidez e eu respondi que sim, claro. Depois perguntou: «Quantos quer?» Eu achei a pergunta muito estranha: quantos? Um, claro! Foi então que ele deu a notícia: «Pois, quer ter um mas vai ter dois! Eu ia desmaiando!»
Helena assustou-se, não o nega. Se ter um filho já tinha sido uma decisão muito pensada e até temida, mais pelos outros do que por ela, ter dois de empreitada fê-la engolir em seco. Contar à mãe foi outro pavor. «A minha mãe sempre me infantilizou muito. Enquanto vivia com ela achava que eu não era capaz de fazer nada. Foi preciso vir para Lisboa, para um centro de reabilitação, para conseguir tornar-me autónoma. Pela minha mãe jamais teria casado ou conseguido um emprego. Filhos então… nunca! Não é por mal. Ela só queria proteger-me, quando, na verdade, eu precisava era só de um pouco mais de preparação. Só isso.»
De tanto recear a reação da mãe, pediu à irmã que lhe contasse da gravidez, uns três meses depois de ela própria saber. «Só mais tarde lhe contei que eram dois. Fartou-se de chorar. Disse que eu era uma irresponsável, que nunca ouvia os seus conselhos e que ia ser uma tarefa impossível.» Não foi. Marta e Márcia nasceram há nove anos e tiveram da mãe tudo aquilo que é suposto. Helena nunca se atrapalhou. Parecia nascida para tratar das suas meninas. «A única coisa que me custou foi passar do biberão para a colher. Não foi fácil… mas fez-se!»
Quando chegou o tempo de as levar para o infantário, preocupou-se. Como ia apanhar transportes com duas bebés? A necessidade aguça o engenho e Helena revelou–se uma mãe muito engenhosa: «Comprei um carro.» Um carro? «Sim, e arranjei uma pessoa com disponibilidade de manhã e ao fim do dia para nos ir levar e para nos ir buscar ao infantário, por um valor que acordámos. E assim foi. De manhã íamos no carro, depois eu seguia de transportes para o emprego, e ao fim do dia tornávamos a encontrar-nos no infantário das meninas, e voltávamos de carro para casa.» Para tudo se encontra solução.
Entretanto, Helena tomou o gosto à autonomia e à aprendizagem que, durante tantos anos, lhe tinha sido vedada. Quando, aos 23 anos, saiu do Algarve e foi para o Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, tinha apenas a 4.ª classe. Depois, tirou um curso de telefonista, rececionista e assistente administrativa. Trabalhou no Hospital de São José durante 7 anos e continuou sempre a estudar. Em 2002, já tinha concluído o 12º ano. «Como estava a tentar engravidar e nunca mais acontecia, decidi candidatar–me à faculdade. Tinha notas para entrar no ISCTE mas não havia o curso que eu queria à noite – e eu tinha de continuar a trabalhar. Então entrei em 2003 para o ISLA, para fazer o curso de Gestão de Recursos Humanos e Organização Estratégica. No ano seguinte engravidei. Foi duro terminar o curso tendo duas bebés. Saía de casa ao fim do dia e elas ficavam a chorar por mim. Desci muitas vezes a rua a chorar. Mas queria muito fazê-lo. E fiz.»
Infelizmente, Helena continua a ganhar o vencimento de assistente técnica quando, na verdade, já devia receber como técnica. Não ganha em conformidade com os conhecimentos que adquiriu nem com o esforço hercúleo que fez. Mas não desiste: «Quando vejo um concurso atiro-me logo. Ainda agora fui a um da Câmara Municipal de Lisboa. As minhas filhas, que foram privadas de mim tantas vezes quando eram mais pequenas, têm direito a uma vida melhor porque eu fiz por isso.»
Marta e Márcia nunca deram pela diferença da mãe até há pouco tempo, na escola, onde a crueldade das crianças parece uma inevitabilidade: «Nas zangas típicas dos miúdos, uma delas diz ‘vou dizer à minha mãe’ e os miúdos respondem ‘a tua mãe não me vê, não me pode apanhar’. E elas começaram a vir para casa tristes. Tivemos de explicar que somos cegos mas que, ainda assim, fizemos os nossos cursos superiores, trabalhamos, temos a nossa casa. Explicámos-lhes que sim, temos um problema, mas é só um. Há muitas pessoas sem deficiência mas com muitos problemas. E elas começaram a entender. Acho que são miúdas muito autónomas, solidárias e bem formadas. Sinto-me muito orgulhosa delas. E elas dizem que eu sou a melhor mãe que podiam ter.»
MÃE É A QUE ESTÁ SEMPRE PRESENTE
Já lá vão três anos desde que Lídia Correia, 33 anos, empacotou a vida e foi viver para o Luxemburgo. Para trás deixou três filhas, então com 9 anos, 8 anos e 9 meses. Nem todas as mães teriam coragem de o fazer. Ou será que teriam, se em causa estivesse a mais pura sobrevivência? Porque foi disso que se tratou. Sobreviver. «O meu marido ficou desempregado, eu ganhava 550 euros a fazer limpezas. Com casa para pagar, água, luz, gás, alimentação. E três filhas. Ainda aguentámos um tempo mas rapidamente percebemos que não havia outra solução. Não estava para ver miséria no olhar das minhas meninas. Preferi vir embora e deixá-las no conforto do ninho, da família.»
Lídia Correia foge ao estereótipo da mãe que está sempre presente. Que não vira as costas. Que dá colo, abraços, que impõe regras. Que está, nos bons e maus momentos. E, no entanto, serão poucos os que têm coragem de lhe apontar o dedo. De dizer que não é uma boa mãe. «Por vezes, ser boa mãe é ter de deixar o coração a 1700 quilómetros do resto do corpo. Simplesmente para que não falte nada aos filhos. Isto é o que eu digo e repito de mim para mim, para me convencer de que fiz o melhor. Porque tenho muito medo que elas um dia me acusem. Porque já houve quem o fizesse. E doeu muito.»
Isabel Saúde, a sogra, é a primeira a elogiar esta «mãe coragem», capaz de um tão grande sofrimento em prol das filhas: «Fiquei com as meninas quando a Lídia e o meu filho partiram. Agora ele voltou, por não conseguir – também lá – arranjar trabalho, mas ela optou por ficar porque está a ganhar bem. É uma grande mulher, muito lutadora, que faz este sacrifício todo para que não falte nada às meninas mas está sempre a sonhar com o dia de voltar para elas.»
É no Skype que matam as saudades, mãe e filhas. Conversam de manhã, antes do trabalho e da escola, e às vezes tornam a comunicar à noite. «Às vezes jantamos juntas. Eu aqui no Luxemburgo, elas aí em Portugal. Ajuda muito a diminuir a distância. Mas falta o cheiro, falta o toque, falta tudo. O que vale é que as crianças têm a mágica capacidade de nos regenerar. Às vezes estou em baixo e só de ver as carinhas delas fico logo bem. São as minhas flores do campo.» Lídia comove-se por várias vezes. Pode ser uma grande mulher mas não é de ferro. E torna-se manteiga quando a acusam de ser má mãe: «Já me disseram: ‘Não sei que mãe és tu, deixares os teus e vires embora.’ Uma pessoa de família chegou mesmo a dizer: ‘Lídia, tu abandonaste a tua família!’ Essa foi muito forte. Uma pessoa que me conhece desde que eu sou criança. Eu não abandonei ninguém! Se tivesse continuado em Portugal, sem ter o que lhes dar de comer, aí, sim, é que as abandonava.»
A vida no Luxemburgo resume-se a casa–trabalho, trabalho-casa. Mais nada. Lídia tem de trabalhar muito para ganhar bem. «Já trabalhei 14 horas mas agora trabalho nove. Ganho o equivalente a três ou quatro salários de Portugal. É muito triste a vida aqui. É viver para a sobrevivência e não pensar no que me dá prazer, no que me deixa feliz. Todos os dias penso em ir-me embora mas sinto-me presa ao dinheirinho certo ao fim do mês. É aguentar até não poder mais.»
Johanna, a filha mais velha de Lídia, garante sentir um orgulho do tamanho do mundo da mãe: «Ela é muito forte e consegue ultrapassar estes sacrifícios para não nos faltar nada. Claro que, de vez em quando, sinto saudades, mas também tenho pessoas que me ajudam a ultrapassar esses momentos menos bons: os meus avós, a minha tia Alexandra e o meu pai. Sempre que a minha mãe vem, deixo as minhas irmãs mais novas aproveitarem e depois, quando já estão satisfeitas, mando-me para o colo dela e recebo miminhos até ficar saciada.»
MÃE É MATURIDADE
Jéssica Barbosa foi mãe aos 14 anos. Era uma menina com outra menina ao colo. Uma bizarria, para alguns; uma calamidade, para outros. Para ela foi apenas um percalço que entretanto se transformou no maior desafio e alegria da sua vida. Foi aos seis meses de gestação que a adolescente percebeu que algo estava errado. A menstruação nunca lhe faltou, não teve qualquer sintoma que lhe despertasse a atenção, mas a barriga a crescer e os movimentos que por lá se passavam indicavam que algo não estava como antes. Foi a mãe quem lhe comprou o teste de gravidez. «A minha mãe não queria acreditar. Ficou cinco dias a chorar compulsivamente. Eu? Fiquei espantada mas feliz. Na altura estava apaixonadíssima pelo meu namorado e nem percebi muito bem o que significava isso de ir ser mãe. Ele ficou em estado de choque mas assumiu tudo.»
Quando a Miriam nasceu, Jéssica continuou sem se assustar porque mantinha a inconsciência sobre a sua nova condição. «Estava em estado de choque.» Mas, passadas algumas horas, caiu em si: «Olhei para ela e nem podia acreditar que era minha. Na verdade, como só descobri que estava grávida aos seis meses, só tive três para me habituar à ideia. Pensei: ‘oh meu Deus! A partir de agora tenho uma enorme responsabilidade! Já não posso pensar só em mim! Sou mãe!’»
Era mãe, a menina que ainda tinha idade para ser só filha. Estava no 7.º ano, não era grande amiga das aulas e menos ainda de estudar, fazia birras com frequência e tinha as crises típicas das adolescentes. Foi viver com a filha para casa da mãe e do padrasto mas as coisas não correram bem. E foi assim que Jéssica e Miriam foram viver para uma residência para grávidas e jovens mães, da Ajuda de Mãe. Já lá vai um ano e meio: «A minha vida aqui é: Miriam, casa, escola. E é tudo. Temos um quarto só para nós as duas, que é o nosso refúgio. Acordo todos os dias às seis da manhã, tomo banho, às seis e meia estou a tomar o pequeno-almoço, às sete levanto a Miriam e preparo–a, às sete e vinte arrumo o quarto, às sete e quarenta saímos de casa, levo-a à creche e às oito e três estou a apanhar o comboio para entrar na escola às oito e meia. Depois, ao fim do dia, é brincar com a Miriam, dar-lhe banho e o jantar, fazer o jantar para toda a casa no dia em que me calha a mim (temos escalas), estudar quando consigo, e às onze da noite tenho de estar na cama.»
Uma vida carregada de horários rígidos e responsabilidades, pouco condizente com os 17 anos que costumam estar pejados de festas, noitadas e manhãs passadas a dormir. Jéssica não se importa: «Se calhar, se tivesse feito essa vida de borgas e depois tivesse sido mãe, talvez me custasse mais do que assim, que nunca cheguei a passar por isso. Ou seja, como não tive, não sei o que perco. E gosto das regras que aqui existem. Acho que me fez falta ter mais regras. Gosto de estar num sítio limpo e, para isso, temos obrigações. Se falhamos ficamos de castigo ou pagamos multas – nós recebemos uma mesada, da Ajuda de Mãe, mas por cada falha é-nos descontado um valor. Temos mesmo de andar na linha e eu acho importante, para nos ajudar na vida.»
Cresceu mesmo, a menina que teve de virar mulher. Diz que quer acabar o 9.º ano e depois talvez estudar e trabalhar. Estudar para ter mais oportunidades, no futuro, trabalhar para ajudar a sustentar-se a si e à filha. A relação com o pai da pequena Miriam, três anos mais velho, terminou quando Jéssica ainda estava grávida mas ela assegura que ele é um pai «babado» que, apesar de estar a viver em França, telefona sempre e, quando vem a Portugal, tem uma «loucura pela filha».
Jéssica rejeita a ideia preconcebida de que uma adolescente não é, nem pode ser, uma boa mãe: «Não tem nada que ver. Há mulheres maduras que são más mães. Eu estou a dar o meu melhor. Ainda tenho muito que aprender mas acho que sou uma mãe esforçada. Cresci muito, tornei–me mais calma, menos refilona, menos parva até. Sou hoje muito mais responsável e cuido da minha filha. Tento impor-lhe regras, que foi o que me faltou, e dar-lhe o que acho importante. Adoro-a e não imagino a minha vida sem ela. É verdade que preciso de estar aqui, nesta casa, a receber este empurrão na minha vida. Mas sei que estou empenhada em ser uma boa mãe.»