O ano de 2014 vai ser em grande. Pedimos a 14 personalidades para apostarem em jovens promissores nas suas áreas. Na literatura e na ciência, na música e no cinema, na gastronomia e na tecnologia, na arquitetura e no design, esta é a nossa seleção nacional de esperanças.
01 LITERATURA
SUSANA MOREIRA MARQUES
O TEMPO DA NÃO-FICÇÃO
A escolha de Carlos Vaz Marques, jornalista, diretor da revista literária Granta e editor da Tinta-da-China
Susana Moreira Marques estreou-se na literatura em 2012, e pôs-se logo a escrever sobre morte. «Era um tema que me fascinava, mas eu sabia que era fácil cair na lamechice. Ou então o contrário, uma escrita tão científica e técnica que se tornaria grotesca, quando o assunto tinha uma tão grande dimensão espiritual.» Nas palavras de Carlos Vaz Marques, que a elegeu como o nome a ter em conta na área da literatura em 2014, Susana conseguiu uma escrita «contida, sem uma única palavra a mais». O que é que torna tudo diferente? Agora e Na Hora da Nossa Morte não era um livro de ficção.
A aposta literária para o próximo ano não diz que não venha um dia a escrever romances, mas não já. «A realidade tem uma força que a ficção não tem. Quando vemos um filme e no fim percebemos que a história que nos contaram é verídica, há um impacto completamente diferente.» Susana, que é jornalista free-lancer, tem um novo projeto literário em mãos. Uma memória oral do país, através das histórias de figuras como um resistente antifascista, um pescador da Nazaré, um agricultor ou um contrabandista. «No verão fiz uma série de artigos para o Público que contava a história do país através de histórias de vida. É incrível o material que recolhi, são incríveis as histórias que estão por contar neste país.»
Susana Moreira Marques tem 37 anos, passou cinco em Inglaterra como correspondente do jornal Público e no serviço em português para África da BBC. «O mundo anglo-saxónico cuida melhor da sua história, referencia constantemente o passado e atualiza-o para o presente. Em Portugal não tratamos nada bem a nossa memória.» No quotidiano português, quantas vezes nos lembramos de que ainda há quarenta anos vivíamos em ditadura, estávamos em guerra ou que recebemos de um dia para o outro centenas de milhares de refugiados de África?
Um livro de não-ficção não precisa de ser escrito como um artigo jornalístico. Nem como um ensaio. Pode ser escrito como um romance e foi isso que Susana fez com a sua obra de estreia – e isso nem sequer impediu que no livro também fossem publicadas fotografias de André Cepeda. E a autora usa a primeira pessoa, coisa rara em trabalhos de não-ficção. «Expomos tanto a vida dos outros que é quase uma falta de respeito não nos expormos também. No jornalismo aprendemos a retirar-nos da cena, porque isso é o mais honesto. Mas às vezes o mais honesto é assumirmos que estivemos lá.» RICARDO J. RODRIGUES
02 MODA
JOÃO MELO COSTA
UMA VOZ EM ESTILO GRÁFICO
A escolha do designer de moda Luís Buchinho
Há 24 anos a ditar as tendências de moda cá e lá fora, o veterano Luís Buchinho não precisou de pensar muito para eleger um ex–estagiário que, acredita, não passará despercebido em 2014. «Acho que o João Melo Costa vai sobressair, porque tem uma visão particular sobre o seu próprio conceito e identidade. Imprime às suas peças um estilo gráfico muito contemporâneo, numa onda descontraída. E tem uma mais-valia, fundamental num designer de moda nos dias que correm, que é aliar bem o conceptual e o comercial.» De facto, se há preocupação que acompanha João Melo Costa durante o processo de criação é essa: fazer roupas que as pessoas usem no dia a dia, sem sacrificar a liberdade de criar. E os resultados não se têm feito esperar. Com 23 anos e apenas dois de experiência, obra feita não falta a este miúdo de Valongo. Já pôs cá fora cinco coleções de roupa para mulher, das quais destaca as «três mais importantes»: Stress Look, Mo(u)rning e Welcome Back.
Porque para este estilista a moda não deve ser passiva, todas as suas coleções têm uma mensagem subliminar. Com a primeira recriou o stress que toma conta do criador quando está a criar: «Era importante transmitir logo no primeiro conjunto o momento em que a ideia surge e explode. Por isso utilizei vivos estampados para materializar esses momentos luminosos na vida de um artista.» Na segunda coleção retratou o luto com alusões ao mar, aos pescadores, à perda de alguém no mar: «Tinha que ver com a relação de quem espera, de quem fica em terra e de quem parte para a faina e não volta. Usei cores escuras.» Na terceira, apresentada em Londres há três meses, voltou às cores alegres para «celebrar a vida e o regresso de alguém que partiu.» Em nenhuma destas coleções há uma peça parecida com a primeira que desenhou aos 15 anos: «É natural. O meu estilo evoluiu. Era um vestido azul às bolinhas para a minha irmã levar a uma festa. Não sei onde pus o desenho, era mesmo giro.» A irmã acabou por recorrer ao pronto-a-vestir, mas o vestido que João desenhou para ela foi o início de uma paixão que culminou no momento de escolher uma profissão: «Depois do ensino secundário, decidi tirar o curso de moda no CITEX. Ainda andei três meses em Belas-Artes, mas a moda fazia mais sentido para mim.»
E as mulheres parecem estar a acolher bem o estilo arrojado de João. «Não tenho a veleidade de querer competir com a Zara [ri-se]. Sempre tive consciência de que as primeiras coleções eram para me posicionar. Queria perceber primeiro quem é o meu público-alvo.» E percebeu: «A mulher moderna que não tem medo de arriscar e que está atenta ao que se passa na moda.» CARLA AMARO
03 TECNOLOGIA
HUGO SILVA
MULTIFUNÇÕES PARA A SAÚDE
A escolha de António Câmara, fundador da Ydreams
Distinguido com vários prémios académicos e técnicos, Hugo Silva é a escolha de António Câmara na área das Tecnologias, «pelas suas capacidades de invenção e sentido comercial, expressas no bem sucedido BITalino», explica o fundador da
Ydreams, empresa portuguesa que desenvolve espaços e experiências interativas através da combinação de tecnologia, arte e design.
Aos 34 anos, Hugo Silva tem um currículo notável. Bacharel em Engenharia Informática, mestre em Engenharia Eletrotécnica e estudante de doutoramento de Engenharia Eletrotécnica e Computadores, o investigador do Instituto de Telecomunicações não passa despercebido no mundo das invenções tecnológicas – ganhou o Prémio Maior Inovação 2103 e o Prémio Ciências da Vida em 2010. Mas de todos os projetos que desenvolveu, o que mais sucesso tem é o BITalino, com o qual ficou entre os dez semifinalistas em todo o mundo na competição internacional Insert Coin.
O BITalino, explica o investigador, é uma espécie de kit faça você mesmo, que disponibiliza sensores fisiológicos com aplicação em áreas tão diversificadas como a eletrocardiografia, a eletromiografia, a atividade eletrodermal, o desporto e outras. «Permite medir não só os nossos sinais musculares e cardíacos em várias partes do corpo como a nossa reação emocional a certos estímulos. Quando nós reagimos a algo, o sistema nervoso provoca uma alteração na pele e isso também se consegue medir com o BITalino.» Como mais-valia, é incomparavelmente mais barato do que os aparelhos com a mesma função. «Custa apenas 149 euros. Os outros rondam os dez mil euros. E está disponível para toda a gente.»
Ao contrário de outras ferramentas do género, o BITalino não é útil só nos hospitais. Pode ser usado no ginásio, numa caminhada, numa corrida de bicicleta, num brinquedo, nas universidades, noscentros de investigação. Tão versátil e funcional que o seu inventor compara-o às velhas peças Lego: «As pessoas podem pegar numa peça, depois noutra, e depois noutra e fazer construções tão diferentes e inimagináveis a partir da mesma base. Com o BITalino é a mesma coisa. Existe uma base igual, o que varia são os sensores fisiológicos, que podem ser aplicados conforme o objetivo.» Nalguns casos, esses pequenos sensores fazem mesmo a diferença na vida das pessoas que o utilizam: «Por exemplo, um tetraplégico pode piscar um olho ou usar um músculo para abrir uma porta. E uma pessoa que se esquece com frequência de regar as plantas, pode ser lembrada com uma mensagem no Twitter, porque o BITalino está apto a usar sensores que medem a humidade da terra, a temperatura e a luz ambiente.» CARLA AMARO
04 VINHO
MATEUS NICOLAU DE ALMEIDA
O ARTESÃO DOS VINHOS
A escolha de Isabel Marrana, presidente da Associação de Empresas de Vinho do Porto
Mateus Nicolau de Almeida, 35 anos, nasceu no seio de uma prestigiada família de produtores de vinho do Porto e do Douro. Mas foi durante uma vindima que fez em França, no final do 12.º ano, que decidiu estudar Enologia em Bordéus. A seguir viajou bastante, andou a cumprir as rotas vinícolas dos principais países produtores. Esteve em França, Espanha, Estados Unidos (Califórnia), Chile e Argentina – e acabou por trabalhar na vinha e no vinho em todos os lugares por onde passou. Depois foi o que se sabe: regressou a Portugal, instalou-se em Vila Nova de Foz Côa, em pleno Alto Douro Vinhateiro – paisagem que a UNESCO classifica como Património da Humanidade –, em 2003 pôs cá fora as primeiras 1500 garrafas de Muxagat tinto. Dez anos depois, os vinhos saídos da Adega Muxagat (tinto, branco e rosé) conquistaram apreciadores em Portugal e em vários países do mundo. Nas críticas e nas vendas além de que já receberam diversas distinções. Isabel Marrana, presidente da Associação de Empresas de Vinho do Porto, diz que são a expressão da modernidade do Douro «a única região que é capaz de produzir grandes enólogos, geração após geração».
Visivelmente satisfeito, mas igualmente sereno, Mateus Nicolau de Almeida afirma que os seus vinhos «são o resultado de uma cultura de grande proximidade e respeito pela terra e pelo meio envolvente. Na vinha não são usados fertilizantes nem pesticidas e na adega não entram produtos químicos». O próximo lançamento da Adega Muxagat ocorrerá em Janeiro próximo, com O Cisne, um tinto que o seu criador define como «um vinho espiritual, que privilegia a boca, elegante e com estrutura para envelhecimento».
Outros vinhos e outros projetos se seguirão no portfólio da Adega Muxagat pois o que não falta a Mateus Nicolau de Almeida são ideias. O produtor, que não gosta de ser chamado de enólogo, dá apoio a outras adegas do Douro e à Quinta do Monte Xisto, uma propriedade da família (do pai, da mãe e dos seus dois irmãos) que também dá nome a outro magnífico vinho da região do Douro, e ainda tem tempo para mais projetos: «Estou a começar a fazer outras experiências. Com uns amigos, em Miranda do Douro, e com a família da minha mulher, que é espanhola, em La Rioja. Dali pode vir a resultar, no futuro, uma coisa séria.»
O que também é sério é o desafio que impôs a si próprio: «Quero fazer vinho do Porto. É um círculo muito fechado, com leis muito restritivas, que podiam fazer sentido no passado mas que hoje são obsoletas. Vou avançar», anuncia. Um Porto Muxagat? Fica feita a promessa. Isabel Marrana bem avisou que «o Mateus seguindo a tradição do pai [João Nicolau de Almeida] e do avô [Fernando Nicolau de Almeida] vai dar que falar nos próximos tempos.» CÉLIA ROSA
05 AGRICULTURA
TIAGO MENDES
DE REPÓRTER A PRODUTOR DE COGUMELOS
A escolha de Ricardo Brito Paes, presidente da Associação dos Jovens Agricultores de Portugal.
Tiago Mendes é agricultor há pouco tempo, mas o seu «dinamismo fora de série» e a «visão de negócio» levaram Ricardo Brito Paes, presidente da Associação dos Jovens Agricultores de Portugal, a considerá-lo uma promessa. «Teve a coragem de mudar de vida, pegando num pedaço de terra sem uso para desenvolver um projeto de produção de cogumelos, que tem tudo para ter sucesso.»
Há cada vez mais pessoas a apostar na agricultura, umas para dar a volta ao desemprego, outras para recuperar tradições. Mas no caso de Tiago, 32 anos, não foi por uma coisa nem por outra que se entregou à produção de cogumelos shitake em Marco de Canaveses, terra natal. Falta de trabalho não tinha, apesar da retração no mercado do audiovisual, onde trabalhava como repórter de imagem numa empresa de conteúdos. Mas, há dois anos, numa reportagem sobre cogumelos para o programa de televisão Biosfera, encantou-se com as «enormes potencialidades» destes fungos. A ideia germinou ali e foi concretizada meio ano mais tarde. «A produção de cogumelos seria a mais adequada às caraterísticas de um terreno abandonado numa quinta de família (num vale fundo com muita humidade). Além disso, fiquei a saber que o shitake em tronco só se dá em Portugal e é o mais valorizado comercialmente. Achei que podia ser um bom negócio.» Não é só o mais valorizado, é também o segundo mais consumido nos países asiáticos e o mais procurado na Europa, onde o consumo médio por pessoa ronda os quatro quilos (em Portugal anda à volta de 400 gramas).
Depois de estudar o comportamento do mercado, mudou-se para a quinta, candidatou-se aos apoios do PRODER e avançou com o projeto», até agora sem ponta de arrependimento. Em abril instalou a produção em troncos de madeira, onde os cogumelos nascem por inoculação, e em setembro colheu os primeiros quilos. Deste então, obtém uma média de setenta quilos de cogumelos por semana: «Ainda é cedo para falar de resultados comerciais, mas estou satisfeito com a produção. Só estou a quarenta por cento. Um produtor em velocidade de cruzeiro produz em média entre 160 e 180 quilos por semana. Portanto, acho que estou a conseguir resultados interessantes em pouco tempo.» Apenas dez por cento dos seus cogumelos ficam em Portugal, os restantes são exportados para Espanha, França, Holanda e Bélgica.
Tiago não quer ficar-se por estes números. Quando tiver cem por cento da capacidade de produção instalada, que acontecerá no final de 2014, os 600 metros de estufa atuais aumentarão para o dobro. CARLA AMARO
06 EMPREENDEDORISMO
RITA NABEIRO
A ESTRATEGA QUE VEIO DA PLANÍCIE
A escolha de Sandra Correia, fundadora e CEO da Pelcor
Aos 33 anos, Rita Nabeiro sabe que transporta no nome a responsabilidade de ser neta de um grande empreendedor – o comendador Rui Nabeiro, fundador dos cafés Delta – e é a essa herança que a jovem diretora-geral da Adega Mayor vai buscar inspiração. Seja para criar um novo vinho (acabou de lançar o tinto Vitorino Salomé 2011), para liderar uma equipa de 42 pessoas ou para desenvolver uma nova ideia. «Ir trabalhar com a família foi natural. Em 2005 começava a desenvolver-se o projeto da Adega Mayor e eu, que já tinha terminado a formação em Design de Comunicação e estava a trabalhar numa agência de publicidade, fui desenhar a marca. Na verdade, aconteceu tudo muito naturalmente.»
Nesse primeiro trabalho, Rita procurou distanciar-se da envolvente familiar e tentou agir como se estivesse a prestar um serviço a um cliente. Tinha a vantagem de conhecer bem o grupo empresarial mas, reconhece, sentiu um certo conflito de interesses. Basta dizer que fez a apresentação do projeto em Campo Maior, diante dos olhares atentos do avô, do pai e do diretor de marketing da Delta. O certo é que, após alguns ajustamentos, o plano foi aprovado e a Adega Mayor estava lançada (foi em 2006, mas o edifício desenhado por Siza Vieira só foi inaugurado no ano seguinte).
Entretanto, o trabalho de Rita Nabeiro prosseguiu no marketing e no departamento de comunicação da Delta mas, a cada dia que passava, crescia o envolvimento no projeto da Adega Mayor e nos vinhos. «A dada altura foi inevitável escolher. O vinho 7 (Sete) foi a primeira edição especial da Adega Mayor e marca o ponto da transição. Foi nesse momento que deixei de ser a designer e de fazer tudo um pouco para me focar na estratégia.»
Rita acredita que fez a escolha certa. A empresa e o negócio cresceram (três milhões de euros de faturação e uma produção de 650 mil garrafas), as uvas de Campo Maior andam na boca do mundo (o vinho é exportado para EUA, Canadá, Luxemburgo, França, Suíça, Reino Unido, Alemanha, Angola, Cabo Verde e China e recebeu dezenas de prémios nacionais e internacionais) e cada colheita reserva uma surpresa. A próxima será mais uma edição especial, para o ano. E outras se sucederão, confia Sandra Correia, a mentora da Pelcor. «Ser empreendedor é isto. É sonhar e concretizar. É de pessoas como a Rita que Portugal e o mundo precisam.» CÉLIA ROSA
07 SOLIDARIEDADE
LOURENÇO ALMEIDA E BRITO
TROCOS QUE PODEM FAZER A DIFERENÇA
A escolha de Conceição Zagalo, presidente da Assembleia Geral do Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial
Just a Change. Apenas uns trocos. Apenas uma mudança. Uma mudança que pode significar muito, para todos os envolvidos. O projeto nasceu no início de 2010, de uma brincadeira que imediatamente se tornou coisa séria.
Um dia, Lourenço Almeida e Brito, hoje com 22 anos, estudante de Engenharia e Gestão Industrial do Instituto Superior Técnico, decidiu ir para a Baixa de Lisboa tocar guitarra com um amigo. A ideia era divertirem-se e ganharem uns trocos. E ganharam, mais do que uns trocos. A facilidade da proeza fê-los pensar. Não, não fazia sentido usar o dinheiro para fins pessoais. Naquela noite, pagaram o jantar a alguns sem-abrigo.
A experiência repetiu-se e a necessidade de fazer dela um projeto que marcasse a diferença foi tomando forma. Da troca de ideias surgiu o Just a Change, que nesse mesmo ano ganhou estatuto de associação sem fins lucrativos. Um grupo de jovens estudantes universitários reunido em torno da missão de, através da música de rua, angariar fundos para remodelar casas de famílias e instituições carenciadas da capital.
Para Lourenço, católico e habituado desde miúdo a ajudar quem mais precisa, nomeadamente nas campanhas de recolha do Banco Alimentar contra a Fome, nada mais natural. «Em tempos de crise como os que vivemos, a luta passa pela solidariedade. Trata-se de assumir um compromisso com a sociedade e usar o tempo livre para trabalhar pelo bem comum. A evolução da Just a Change tem sido precisamente no sentido de aprofundar esse compromisso da parte de quem se torna voluntário, o que também facilita o funcionamento.»
Em três anos, a organização que fundou já envolveu o trabalho voluntário de setecentos jovens e a remodelação de 15 casas particulares e sete instituições, estimando-se em quatrocentas pessoas as que beneficiaram diretamente da ação da Just a Change, tendo para isso sido realizados 14 espetáculos de rua, com uma recolha de uma média de duzentos euros por atuação.
Além daqueles que veem as suas condições de vida melhoradas, Lourenço Almeida e Brito considera que também os voluntários são beneficiários, «porque têm oportunidade de conhecer outras pessoas e realidades e de contribuir com a sua ação para mudar vidas, o que é enriquecedor».
Para 2014, entre os vários objetivos, que passam pela consolidação e o aprofundamento da ação, está a expansão do projeto para a cidade do Porto. CATARINA PIRES
08 DESIGN
ANDRÉ SANTOS
COMUNICAR COM DESIGN
A escolha de Katja Tschimmel, investigadora em design thinking
Se tivesse de nomear a coisa que mais o inspira, André Santos diria as pessoas. Há os locais por onde passa, as experiências acumuladas em 23 anos de vida, o próprio trabalho em si, frenético de ideias que alimentam outras ideias. Mas não há como as pessoas para lhe encherem a bagagem de referências e da criatividade que fazem dele uma aposta segura como designer gráfico. «A Escola Artística e Profissional Árvore [no centro histórico do Porto] abriu-me em 2005 o caminho a amizades de uma vida e ao mundo do Design de Comunicação», conta. Depois, foi a vez de a Escola Superior de Artes e Design (ESAD) de Matosinhos lhe trazer a oportunidade de aprender com «pessoas incríveis» como João Faria, José Bártolo ou Andrew Howard, Helena Silva, Israel Pimenta e David Santos, George Hardey, Andrew Haslam, Ian Noble e alguns dos seus grandes amigos de hoje. «Conversar, privar com esta ou aquela pessoa, é isso que vai influenciando o meu caminho.»
André recorda-se bem de, ainda pequeno, receber da mãe livros ilustrados para colorir e livros com pontos para ligar formando imagens. «Lembro-me de ajudar a minha irmã a fazer surpresas para os meus pais, sempre na área dos trabalhos manuais. Acho que já aí se adivinhava um futuro numa área criativa.» Na ESAD concebeu a sua primeira publicação, Cá Se Fazem…, que serviu de rampa para a criação de Nem Tudo o Que Reluz É Ouro, simultaneamente o projeto mais doloroso e que mais prazer lhe deu, com 54 ilustradores coordenados por si a darem livre curso à expressão. Também na ESAD está a dois meses de concluir o mestrado em Design de Comunicação, ao mesmo tempo que é designer residente da companhia de teatro Cabeças no Ar e Pés na Terra (desde 2011), que se responsabiliza pela imagem gráfica da empresa Kiko & Thomas e que espera fundar uma editora de publicação independente. «Somos um país pequeno geograficamente, isso é inegável. Mas somos tão grandes culturalmente, e no amor que as pessoas depositam no seu trabalho, que eu diria que o design que se faz lá fora está cada vez mais ao nível daquele que se faz em Portugal e não o contrário», sublinha André. Naturalmente, quer que a sua arte seja vista e percebida no estrangeiro, mas não faz disso a sua bandeira. «Quero ficar aqui, crescer e trabalhar aqui, deixar a minha marca aqui.» O facto de o país começar a (re)conhecê-lo enche-o de orgulho. ANA PAGO
09 ARTES PLÁSTICAS
PAULO LISBOA
A LUZ E A SOMBRA
A escolha de Joana Vasconcelos, artista plástica
De uma cave de um prédio de Lisboa que outrora albergou um atelier de artes gráficas do qual ainda restam vestígios, Paulo, 36 anos, que tem no nome a cidade onde nasceu e cresceu, fez a sua, só sua, residência artística. Na caverna, como lhe chamam os amigos, encontra o isolamento e o silêncio e a luz e a escuridão de que precisa para criar. É um outsider. Por opção.
Pinta e desenha desde que se lembra. Nunca quis ser mais nada. Nem tirar um curso queria. Sempre preferiu uma procura solitária do conhecimento. O espírito autodidata atrai-o. Mas apesar disso acabou por reconhecer a necessidade de uma aprendizagem mais formal e fez pintura do Instituto Politécnico de Tomar, frequentando agora o mestrado de desenho na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.
Discreto e ensimesmado, tem resistido em seguir o circuito comum do meio. Nunca fez residências artísticas e perturba-o a ideia de «treinar os artistas plásticos, de lhes dar temas, de fazer currículo». No entanto, embora crie por absoluta necessidade interior de o fazer, o público já teve oportunidade de conhecer a sua obra através de exposições como Fronteira Aberta (com Renato Ferrão e Vasco Barata), em Tomar; Plateau ou Dromopólis (com Catarina Patrício), em Lisboa; e, neste ano, Rainha Vermelha (com André Catalão, curadoria de Marko Stamenkovic), em Ghent, na Bélgica.
O trabalho de Paulo Lisboa mudou com a descoberta de uma mina de grafite numa aldeia perdida do distrito de Viseu e a adoção deste minério como matéria-prima de eleição.
Interessa-lhe a luz e a sua ausência. Interessa-lhe a desconstrução. O reflexo. O olhar para dentro. A anatomia do medium. Isso é visível nos seus desenhos, como o é em Plateau, uma instalação de projeções que exibe o interior de máquinas de projetar, as
lâmpadas e os seus filamentos, quando a película é posta a rodar.
Joana Vasconcelos garante que o artista plástico vai marcar o próximo ano. Uma aposta que Paulo agradece, surpreendido. «Não fazia ideia de que a Joana conhecia sequer o meu trabalho. Temos linguagens absolutamente antagónicas. Mas fico contente.»
No ano que está prestes a começar, Paulo Lisboa espera poder continuar, entre a luz e a sombra do atelier, a desenvolver o seu trabalho, em sossego, o possível na posição insegura em que vivem atualmente todos os artistas. CATARINA PIRES
10 CINEMA
JOÃO JESUS
DO SUBÚRBIO PARA O MUNDO
A escolha de António-Pedro Vasconcelos, cineasta
Tem 24 anos, mas parece mais novo. António-Pedro Vasconcelos diz que este jovem ator vai ser a revelação cinematográfica do próximo ano, até porque João Jesus é protagonista do seu próximo filme, Os Gatos Não Têm Vertigens. Um rapaz do Alvito, no filme, um rapaz da Amadora, na vida. Também faz teatro e dobragens, está em Os Filhos do Rock, «uma série que, apesar de passar na televisão, obedece a uma linguagem mais próxima do cinema». Novelas nunca fez, coisa rara nos atores da sua geração. Nem quer fazer.
Cresceu na Quinta da Lage, um bairro complicado da Amadora, ali para os lados da Falagueira, e pouco conhecido dos próprios habitantes da cidade. «A minha própria experiência de vida foi muito útil para compreender o Jó, a personagem que interpreto no filme.» Na tela, dá corpo a um ladrãozeco, miúdo de rua e do roubo de esticão. «As rusgas, onde eu morava, eram o pão-nosso de cada dia, e os dias eram todos passados no exterior, toda a gente estava na rua. Por isso, os laços de vizinhança eram mais fortes. Por um lado, toda a gente sabia a vida de toda a gente. Mas também havia uma coisa boa: toda a gente cuidava de toda a gente.»
Começou a estudar representação aos 15 anos, numa escola profissional em Cascais. Para trás tinha deixado o futebol, foi guarda-redes nos iniciados do Estrela da Amadora e extremo nos juvenis do Benfica. «Mas o cinema e a bola têm coisas muito parecidas», diz ele, desmanchando-se a rir a meio da frase, «porque o realizador é como se fosse o treinador, os atores jogam um jogo de grupo mas alguns têm mais protagonismo.» Também fez parte de um rancho folclórico da Brandoa, chamado Dançar é Viver. «Tocava castanholas.» E assegura que isso é uma experiência que o ajuda a ser melhor ator. A colocar–se melhor em cena.
Quando acabou o curso fez sobretudo teatro, ao abrigo do Projeto Novos Atores, que lhe permitiu participar em três peças no Teatro Experimental de Cascais. Na mesma altura começou a dobrar séries de desenhos animados.
Em televisão estreou-se na RTP, em Depois do Adeus. Fazia o papel de um militante do MRPP durante o PREC. «Eu nada sabia daquele período da história de Portugal, apesar de ser relativamente recente. Tivemos aulas, aprendi imensas coisas em dois dias e percebi que havia uma parte da vida do meu país que eu tinha de me esforçar por perceber. Comecei a ter mais interesse político, a estar mais atento ao que me rodeia.» Crescer como ator, aprendendo para a vida. É uma bela lição, essa. RICARDO J. RODRIGUES
11 CIÊNCIA
RAQUEL LUCAS
OSSOS À PROVA DE IDADE
A escolha de Henrique Barros, presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto
Já sabíamos que algumas doenças que se manifestam na idade adulta têm uma história que remonta à infância. O que Raquel Lucas, 33 anos, investigadora no Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, acabou de descobrir é que também há uma relação clara entre o capital de osso adquirido nas primeiras duas décadas de vida e as fraturas osteoporóticas na mulher, após a menopausa. Então, para saber como é que se pode otimizar o crescimento e o fortalecimento do osso nas crianças e jovens e, assim, minimizar o risco futuro de fraturas na idade adulta, a investigadora estudou um grupo de mil raparigas, que foram avaliadas aos 13 e aos 17 anos (peso, estatura, densiometria óssea, PCR e inquérito de saúde). A análise dos dados demonstrou que as jovens de 17 anos que «consomem álcool e tabaco com regularidade têm manifestamente pior osso do que as raparigas que não fazem consumos». O que o estudo também concluiu foi que ter uma estatura mais pesada beneficia a formação do osso: «Estimula o crescimento. Mais gordura significa mais peso, mais carga física, mais formação de osso», adianta a investigadora. Mas atenção, pois a gordura em excesso, a obesidade, também não está isenta de riscos, conduz a um estado de inflamação crónica que é prejudicial. «Para aumentar o peso e ter melhor osso, o ideal é aumentar a massa muscular.» O trabalho desenvolvido por Raquel Lucas tornou-a a primeira portuguesa a publicar um artigo no American Journal of Epidemiology.
Um dos programas em que está envolvida decorre no âmbito do projeto Geração XXI e envolve o estudo dos padrões de crescimento ósseo de duas mil crianças (foram avaliadas no nascimento, aos 2, 4 e 7 anos e vai prosseguir). O outro passa pelo estudo de um modelo de prevenção das fraturas da anca nos idosos, em várias unidades de saúde. Pelo meio, Raquel Lucas ainda tem tempo para dar aulas na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, para colaborar com o Observatório Nacional de Doenças Reumáticas e para dar apoio ao Chek Point Lx (centro comunitário para homens que têm sexo com homens, onde se fazem testes rápidos de VIH e aconselhamento). «Gosto imenso do que faço e tenho a convicção de que o conhecimento que produzimos será determinante para tomar boas decisões para a população e para o país.»
Henrique Barros também gosta desse entusiasmo e elogia a enorme capacidade de Raquel Lucas para «arrancar conhecimento, compreender a natureza das coisas, as pessoas e as comunidades e assim descobrir como se gere o risco ou se produz a doença». CÉLIA ROSA
12 ARQUITETURA
PAULO HENRIQUE DURÃO
ARQUITETO DO DESAFIO
A escolha de Bernardo Rodrigues, arquiteto da Casa do Voo dos Pássaros
A aposta não podia ser mais segura. Paulo Henrique Durão, 35 anos, foi neste ano considerado um dos vinte jovens arquitetos mais promissores do mundo pela britânica Wallpaper, uma das mais conceituadas revistas de arquitetura e design do mundo.
Nascido na Marinha Grande, mas criado em Porto de Mós, com a inóspita paisagem das serras de Aire e Candeeiros no horizonte, o que, reconhece, marcou a sua forma de ver o mundo e nele intervir, Paulo sempre teve uma enorme apetência para construir coisas. Isso conjugado com um gosto obsessivo pelo desenho só podia dar no que deu: a arquitetura.
Formado na Universidade Lusíada, com 18 valores, foi convidado a lecionar assim que terminou o curso, atividade que desenvolveu até há muito pouco tempo e o levou a dividir-se entre Lisboa e Madrid, onde também dava aulas, na Escola Técnica Superior de Arquitetura Madrid. O trabalho no atelier que fundou em 2007 – PYHD Arquitectura – e o doutoramento na capital espanhola obrigaram-no a uma escolha: fazer um intervalo no ensino.
Paulo Henrique Durão, arquiteto do tempo que gosta de construir imaginários, vai buscar as referências ao mundo e à sua observação exaustiva do mesmo, mais do que a outras arquiteturas. «É isso que me dá a bagagem que abre a porta à liberdade de criar.»
Não relativiza, nem minoriza, nem tem a ingenuidade de negar que há uma crise, que se faz sentir na arquitetura como em tudo o resto, mas lembra que é tão difícil hoje como era há dez anos, quando começou. «Em Portugal, é difícil fazer acontecer coisas, mas isso deixa-nos com uma única resposta possível: conseguir fazer muito a partir do pouco que temos.»
Paulo tem conseguido. E tem conseguido aqui, neste país. A Casa da Moreira, na Maia, que chamou a atenção da Wallpaper, deu-lhe muito gozo, como todos os projetos que desenvolve, mas o preferido é sempre o último, aquele em que está a trabalhar, e esse é o salão de exposições da Renova. «Resulta da transformação de um edifício industrial existente e fizemos ali uma espécie de máquina no tempo.» O tempo, os vários tempos, fazem parte do ADN das criações de Paulo Henrique Durão, assim como a vontade de subverter as condicionantes. «O enorme desafio da arquitetura está em ultrapassar os limites e resolver o que é pedido acrescentando qualquer coisa que o transcenda.» CATARINA PIRES
13 GASTRONOMIA
CARLOS AFONSO
UM COZINHEIRO DE FIBRA
A escolha de Fernando Melo, crítico de comida
Passou a infância entre panelas e boa comida, atento ao que faziam as muitas cozinheiras de mão cheia da família: a mãe, as avós, as tias, todas nasceram com o dom de transformar ingredientes simples em autênticos festins que chegam a durar dias, como os casamentos ciganos. Do pai, igualmente hábil a comer e a cozinhar, herdou o gosto pelas pescarias ao fim de semana, que terminavam em caldeiradas de peixe do rio. Carlos Afonso foi apimentando o gosto pela culinária, integrando as influências alentejanas (é de Beja), os sabores, as texturas, as técnicas culinárias e os produtos próprios dos locais que vai descobrindo com o tempo. Ser cozinheiro tornou-se uma necessidade tão básica como um bom refogado, ainda que se tenha formado primeiro em marketing antes de abraçar a vocação.
«Por tradição familiar, celebramos sempre juntos todas as datas importantes – Natal, passagem de ano, Páscoa, aniversários – e nessas alturas sempre se cozinhou muito. Os nossos natais são autênticos banquetes que duram dois e três dias, e eu cresci nesse ambiente de festa e bebida», justifica o cozinheiro de 27 anos, que em fevereiro termina os estudos em Cozinha/Gestão na Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre. «É um cozinheiro feito da fibra dos grandes, de quem vamos ouvir falar muito ao longo do próximo ano», aponta Fernando Melo, rendido à fome de conhecimento do jovem, a dar já cartas no restaurante Narcissus, no Alentejo Marmòris Hotel & Spa de Vila Viçosa, ao lado do chef Pedro Mendes.
É, de resto, no Marmòris que Carlos tem vivido a experiência mais intensa de sempre. O convite chegou-lhe pelo chef Alexandre Silva, seu formador, que em janeiro de 2012 o quis a estagiar com ele no restaurante do hotel que estava a abrir em Vila Viçosa. «Disse-me achar que eu tinha nascido para ser cozinheiro. Essas palavras mudaram a minha vida, fizeram-me dedicar a cem por cento», recorda. Para cozinhar, Carlos prefere o peixe, os vegetais (adorava ter uma horta e um jardim de flores comestíveis), a doçaria conventual portuguesa. De comer, aprecia quase tudo: «Gosto sobretudo de provocar o meu palato. Uso isso como elemento de pesquisa para o futuro.» E não esquece o dia em que Alexandre Silva deixou o hotel e lhe ofereceu uma faca de chef. «Foi no último dia. Veio ter comigo e disse-me para estimá-la bem.» Trá-la consigo desde então, um amuleto funcional para ajudá-lo a preparar o futuro. ANA PAGO
14 MÚSICA
CAPITÃOFAUSTO
O PESO DOS ASTROS
A escolha de Paulo Ventura, manager, gestor de carreiras artísticas e jurado do programa X-Factor, da SIC
Este álbum vai rebentar.» Paulo Ventura fala assim do segundo trabalho dos Capitão Fausto, Pesar o Sol, com lançamento previsto para janeiro de 2014. «Sou eu que agencio esta banda, e por isso sou suspeito, mas é neles que eu aposto mesmo para o próximo ano, porque têm um trabalho radicalmente novo na paisagem musical portuguesa.» Fica assumido o favoritismo.
Os rapazes – Domingos Coimbra, Francisco Ferreira, Manuel Palha, Salvador Seabra e Tomás Wallenstein – têm andado na estrada, a promover o novo trabalho. Receção positiva, garantem. «É um disco menos frenético e mais contemplativo, talvez mais disco do que o anterior», diz Tomás, o vocalista. Há por isso uma narrativa que é maior do que uma soma de canções, todas juntas contam a sua própria história, um todo. «O Pesar o Sol foi composto em duas semanas e gravado um mês depois, e já tínhamos uma ideia mais clara daquilo que queríamos alcançar: um disco mais cheio e mais heterogéneo, mais viajante, mais psicadélico mas sem n unca perder a essência de uma canção.»
São lisboetas, conheceram-se e formaram a banda no liceu. Apostam num rock mais psicadélico, e dizem que foram beber influências aos anos 1960. «A nossa primeira grande referência foram obviamente os Beatles», atira Tomás, o vocalista. «Daí derivámos para The Nazz, Pink Floyd, Zombies, Beach Boys, Crosby Stills Nash and Young, Gentle Giant e The Doors.» Mas isto é na composição, que na letra a música é outra: Bob Dylan, Syd Barret e Morrisey deram muita inspiração aos textos.
O primeiro álbum chamava-se Gazela, saiu em 2011. Teve boa receção e o primeiro single, Teresa, fez horas nas rádios. Mas era um som mais melódico. «Não criámos uma rutura com esse trabalho, mas neste segundo álbum há certamente uma evolução.» Cantam sempre em português, e gostam disso. «É natural que a música portuguesa ainda não tenha o mesmo impacte que a estrangeira mas sentimos que as pessoas cada vez mais ouvem, e gostam, de música portuguesa. Há hoje muito mais por onde escolher.» Apontam nomes: Pontos Negros, Linda Martini, Peixe Avião, Paus. É difícil crescer musicalmente num país em crise? «Independentemente da situação delicada em que o país se encontra, talento não falta e aposta também não.» RICARDO J. RODRIGUES