Há quase quarenta anos, quando Maria José Vieira era a única interna de pediatria do Hospital de São João, no Porto, a oferecer-se para trabalhar na consulta de Reumatologia Pediátrica, acorriam àquela unidade crianças e adolescentes com lesões articulares graves.
Muitos cresciam confinados a cadeiras de rodas. Hoje, com os reumatismos e as artrites infantis bem mais conhecidos pelos médicos de família e pelos pediatras, os diagnósticos são feitos a tempo de tratar a doença, que tem múltiplas formas (a mais comum é a artrite idiopática juvenil) e se manifesta a partir dos primeiros meses de vida, podendo chegar em remissão total à adolescência. Estas boas notícias devem-se, em muito, à tenacidade desta pediatra natural de Santo Tirso, que depois de vários anos naquele hospital central do Porto criou a mesma especialidade noutra unidade do Serviço Nacional de Saúde, o hospital de Famalicão.
Reformada há cinco anos, Maria José Vieira continua na consulta como voluntária. Em trinta anos, outros médicos foram ali formados, assim como enfermeiros, numa área clínica que, há quatro décadas, não tinha especialistas. Além de expandir a prática clínica, Maria José Vieira dedicou-se ainda a divulgar o conhecimento da doença entre os profissionais de saúde, em jornadas, debates e encontros, tendo presidido à secção de Reumatologia Pediátrica da Sociedade Portuguesa de Reumatologia.
Em 1995 cofundou a ANDAI – Associação Nacional dos Doentes com Artrites Infantis, destinada a apoiar as crianças e as suas famílias, lutando por benefícios terapêuticos e sensibilização pública e amparando angústias. «É preciso apoio psicológico. Estes meninos sentem-se muito diferentes porque não podem brincar como os outros.» Maria José pode quase sempre terminar um tratamento com boas notícias.