Guta Moura Guedes a quebrar fronteiras

NO BORDERS é o tema da ExperimentaDesign deste ano. Guta Moura Guedes, há 14 anos a dar a cara pela bienal, acredita que o design pode fazer muito por áreas da nossa economia tão importantes como o mar e o turismo.

Acha que a  Experimenta mudou a visibilidade do design em Portugal?

Sem dúvida e prova disso é a internacionalização da bienal. O design português não era reconhecido nos circuitos internacionais e Lisboa não era vista como uma cidade onde se realizavam grandes eventos de design. E hoje é, graças à EsperimentaDesign. Quando fizemos a primeira edição, em 1999, era o único evento que tratava o design da forma como nos propusemos tratar, explorando uma série de formatos e plataformas, desde exposições a conferências, passando pela edição de livros, ações de curadoria, projetos de intervenção ligados às cidades, às autarquias, à indústria…Atingimos todos os objetivos a que nos propusemos. Para além de termos posicionado Lisboa e Portugal na rota internacional do design, provamos que um evento cultural consegue desenvolver trabalhos de investigação com aplicação prática em muitos serviços prestados pelas autarquias e empresas, quer nacionais, quer no estrangeiro.

Esta bienal tem como tema NO BORDERS (sem fronteiras).

Achamos importante identificar todas as barreiras que temos vindo a construir ao longo dos tempos, para que possamos fazer as mudanças radicais que as nossas cidades precisam. O design pode ser muito útil na identificação e reformulação dessas barreiras, dessas fronteiras, digamos. Era incontornável abordar a questão das geografias e dos países.

Foi por isso que a anteciparam, com uma exposição no aeroporto de Lisboa?

Exatamente. Não há nenhum outro espaço que permita a confluência do mundo inteiro, como nos aeroportos. Nos aeroportos não existem fronteiras (NO BORDERS).

Acha que o design português está viver um bom momento?

Esse é um dos grandes desafios, porque ao contrário de um tempo muito recente, em que nem sequer havia cursos de design, hoje o design está a formar uma quantidade enorme de pessoas talentosas, o que eu acho extraordinário.

Extraordinário porquê? O mercado consegue absorver os projetos ou os desenhos vão para a gaveta porque não há quem os compre?

Pois, esse é o grande drama, não só em Portugal como noutros países, sobretudo na Europa. Mas há soluções. Acho que devíamos começar a equacionar a aplicação do design noutras áreas de desenvolvimento que não apenas as indústrias clássicas. O turismo e o mar…

De que maneira?

Não nos devemos esquecer que alargamos a nossa plataforma marítima. O nosso país cresceu mar adentro, tanto que quase atingimos o tamanho da Índia. E sendo o mar uma fonte inesgotável de recursos em frentes tão variadas, que desde a biotecnologia à produção de alimentos, é uma pena não aproveitarmos esse potencial. Além do mais, Portugal é todo ele uma costa (com a nossa dimensão, não faz sentido falar em interior), pelo que há muitos produtos e equipamentos associados ao mar e ao turismo que podem ser desenhados, produzidos e comercializados no mercado global.

O desenvolvimento do turismo passa pelo design?

Sim, não tenho dúvida. Os designers, pelas competências inerentes à sua formação, podem ser muito úteis quer na definição, quer na imagem, comunicação e posicionamento desses produtos – é aquilo a que chamo design estratégico. Se temos uma costa que pode aproveitada de uma forma mais sustentável e rentável do ponto de vista do turismo ligado ao mar, é necessário criar novos equipamentos com uma identidade nacional e que sejam competitivos a nível global. Porque não nos basta ter um sol fantástico e boas praias. Mas para que possamos desenvolver um design estratégico, ele precisa de ser convocado pelas autarquias, pelos gestores, pelos empresários.