Vou enfiar uma chapada no meu filho porque ele merece. Ou se calhar não.

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O pai. «Calma. Vou contar até dez. Ele é uma criança, está a testar os meus limites. É isto que as crianças fazem. Testam os limites dos pais. Moem a paciência dos adultos. Isto é fita. Está a sujar o pijama todo no chão mas não vou fazer nada. Acabou de tomar banho e já está todo transpirado de tanto berrar. Vou respirar fundo. Agora não posso voltar atrás. Tenho de manter a postura. Dei uma ordem, disse-lhe para apanhar os brinquedos, agora não posso dar o flanco. Mas por que é que eu me lembrei de fazer isto agora, caraças?! E logo quando os meus pais estão cá em casa. O puto ia para a cama e arrumava eu a porra dos legos e amanhã logo se falava nisso. Deus me perdoe, mas há alturas em que me apetecia mesmo dar-lhe uma bolachada. Ou duas. Se calhar é o que está a merecer. Uma palmada bem assente. Ou uma chapada. Palmadas no rabo, o sacana fica a olhar para mim e a desafiar-me. Parece que está a gozar comigo. Só lhe bati uma vez e fez um berreiro que parecia que vinha a casa abaixo. Vinha a casa e vinha eu, com remorsos. Estou aqui estou a levantar a mão. Já o ameacei três vezes. Ou bato ou fico calado.»

A mãe. «Eu não me vou meter, eu não me vou meter. Não me posso meter. É uma coisa entre pai e filho. Se me meto para dizer ao miúdo para vir para a cama, o pai perde autoridade. Se o deixo estar ali no chão aos gritos a chamar por mim, parte-me o coração. Vou mas é sair. Vou passear o cão e o pai que se desenrasque. Não. Não posso fazer isso. Vou-lhe dizer para fazer o que o pai está a dizer. “Vai já apanhar os brinquedos como o teu pai mandou.” É isso mesmo. Mas não via adiantar. Só vou piorar. Este caminho não está a resultar e o pai está a ficar enervado e o filho está a ficar frustrado. Não percebe por que é que hoje tem de arrumar brinquedos. Está frustrado e está sujo. Irra, ainda há pouco tomou banho e já está todo encharcado em baba e suor. Eu não me vou meter.»

O avô. «O meu filho está a perder mão no puto. Estou aqui estou a levantar-me para dar uma chapada ao catraio. Este miúdo precisa de apanhar para perceber quem é que manda. Eduquei três filhos, todos apanharam quando tiveram de apanhar e não lhes fez mal nenhum. Um bom açoite faz maravilhas. A eles fez. Cresceram todos bem crescidinhos. E agora nenhum encosta o dedo nos filhos. Tenho seis netos e nenhum apanha dos pais. E todos deviam apanhar. Já todos mereceram umas lambadas. Este, está aqui está ali.»

A avó. «Meu rico filho. Apanhou do pai e agora não quer bater no filho. Este miúdo mói a paciência a um santo, um puxão de orelhas não lhe caía nada mal, mas os meus filhos sempre disseram que nunca iam bater nos filhos deles. Eu já lhe tinha chegado a roupa ao pelo. Mas o meu filho é que sabe. Os pais é que sabem.»

O irmão. «Ainda bem que eu já estou na cama. Daqui a pouco tenho de chorar e fingir que acordei com esta gritaria toda. Mas está a ser divertido. O meu irmão é mesmo bom nisso. Leva uma birra até ao limite. Só tem 2 anos mas grita como se tivesse 4. Eu já não faço birras destas, já tenho 5. O meu pai ainda não aprendeu que tem filhos diferentes e deve fazer coisas diferentes. E ter reações diferentes. Mas se eu lhe disser isto ele vai perceber que eu e o meu irmão falamos sobre estas coisas. Mania de os adultos acharem que são mais espertos do que nós e só nos conseguem dobrar à força. Com conversa vamos muito melhor.»

O filho. «Já me dói a garganta de tanto chorar, mas o meu pai não se cala. Se ele vier aqui dar-me um abraço e me pegar ao colo, vou espernear um pouco mas depois acalmo. Já estou farto deste número. Mas a culpa é do meu pai. Ele é que começou. E está ali aos gritos, feito histérico. Quem é que é a criança aqui? Eu ou ele?»