Vidas para além da prostituição

[Conteúdo Patrocinado] Viver com dignidade, abandonar a prostituição, garantir um sustento, procurar alternativas para dar um rumo melhor à vida. Em Coimbra, desde 2009, três técnicos e quinze voluntários da Equipa de Intervenção Social «Ergue-te» ajudam 1500 pessoas a seguir estes novos caminhos.

Percorrem milhares de quilómetros numa carrinha adaptada com vidros fumados para ajudar pessoas que se prostituem. No distrito de Coimbra, três técnicos e quinze voluntários da Equipa de Intervenção Social «Ergue‑te», uma valência da Fundação Madre Sacramento das Irmãs Adoradoras, trabalham para isto. Em prol da autonomia e da inclusão social de quem precisa.

Três dias por semana, durante o dia, de noite ou madrugada, fazem os «giros» em vários contextos de prostituição: ruas, pensões, bares de alterne, matas e estradas nacionais.

Lá fora fica, ainda que por breves momentos, uma vida de venda do corpo em troca de pouco dinheiro. «Estas pessoas estão muitas horas em pé, ao frio ou ao calor… Convidamo‑las a entrar, a sentar‑se um pouco, oferecemos um café ou chá e um bolo. Só este conforto sem exigir nada em troca é bem‑vindo», diz a psicóloga Marta Neves, diretora técnica do projeto.

«Há quem nos diga que apenas o nosso abraço faz a diferença.» Desde que começaram a trabalhar no terreno, em 2009, já atenderam cerca de 1500 pessoas. Aproximadamente 25 deixaram a prostituição e receberam o que os técnicos consideram «alta por autonomia».

«A prostituição é um problema social com muitas variantes. São pessoas cujo pai era violento ou esteve preso, a mãe prostituía‑se, que viveram situações de negligência. Algumas passaram por vários lares ou instituições de acolhimento, têm menos capacidade de escolha, estão envolvidas em situações ligadas ao tráfico de seres humanos e ao crime de lenocínio. São vidas de grande vulnerabilidade», diz a responsável.

Nos contactos informais distribuem preservativos femininos e masculinos e folhetos sensibilizando para a importância de acompanhamento médico e para os cuidados de saúde a ter. A iniciativa valeu‑lhes uma menção honrosa na primeira edição do Prémio BPI Solidário, no final do ano passado.

O valor atribuído, cerca de 32 mil euros, vai permitir pagar, a meio tempo, uma educadora social contratada em específico para este projeto, e assegurar o acompanhamento a consultas médicas. Parte do valor está reservado para a comparticipação de cerca de cem análises ao sangue para despiste de doenças sexualmente transmissíveis.

«Cerca de 70% dos nossos utentes são imigrantes, muitos estão em situação irregular e não estão inscritos no Serviço Nacional de Saúde. Teriam de pagar as consultas e exames complementares na sua totalidade. Com este apoio, passam a ter acesso gratuito.»

«A questão da prostituição é muito vasta e não temos a pretensão de mudar o mundo», diz Marta Neves. Das cerca de quatrocentas pessoas contactadas anualmente, pelos técnicos e voluntários, metade abre processo e pede apoio efetivo à equipa. Nesta fase, além do acesso a preservativos gratuitos, passam a um plano de acompanhamento, que inclui consultas, apoio social, psicológico e jurídico. Dos dados estatísticos que a equipa consegue recolher nesta fase, percebe‑se que as pessoas que se prostituem são de vários países e continentes, mas também de diferentes gerações (dos 18 aos 60 e poucos anos).

«Há quem decida continuar a prostituir‑se. Mas há quem ganhe uma nova força para tentar o abandono da prostituição passando então para o nível seguinte», diz Marta. E aqui a aposta passa pela procura ativa de emprego. Os que não têm competências pessoais e sociais não podem ser integrados de imediato no mercado laboral e trabalham num ateliê de costura e de artesanato na baixa da cidade. Produzem produtos de artesanato ou doces caseiros que são posteriormente vendidos. O valor reverte parcialmente para o pagamento dos seus ordenados.

«Queremos promover a cidadania e a liberdade. Acreditamos que cada pessoa é capaz de explorar todo o seu potencial enquanto ser humano e entendemos que não consiga fazê‑lo num contexto de prostituição. Esta é uma problemática (ainda) muito invisível.»

Com o apoio:

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