Um videojogo em que és sempre tu que ganhas

Rapazes e raparigas, vamos falar de coisas sérias. O Dia dos Namorados é dia de amor, claro, mas também um momento propício para apresentar uma iniciativa que quer desconstruir discursos abusivos e prevenir a violência no namoro.

O amor, já se sabe, tem pano para mangas. E o Projeto Unlove/Unpop, do MDM – Movimento Democrático de Mulheres, está a construir um videojogo com avatar para tomar decisões numa relação amorosa e um kit pedagógico para ler videoclipes nas entrelinhas. A partir de março, e durante 18 meses, o projeto percorrerá as escolas secundárias do distrito de Aveiro, chegando a cerca de 8000 jovens.

A apresentação da iniciativa, que conta com o apoio e presença da secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Catarina Marcelino, acontece exatamente amanhã, 14 de fevereiro, Dia dos Namorados, pelas 10h00, no anfiteatro do departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro – parceira do projeto em várias frentes, quer através do Departamento de Comunicação e Arte, quer do Programa Doutoral em Estudos Culturais. O reitor da universidade, Manuel António Assunção, estará na cerimónia.

Como falar de amor ou de desamor? O MDM quer chegar bem perto dos jovens e, por isso, recorre a produtos tecnologicamente avançados que fazem parte das rotinas da juventude. Nada é deixado ao acaso. Um projeto, duas ferramentas.

O videojogo Unlove, em formato web e app para o telemóvel, coloca o jogador, através do seu avatar, no centro das decisões numa relação de namoro virtual. Situações pela frente, coisas para resolver. Durante o jogo, criado numa lógica de tempo real, o jovem jogador vai percebendo como as suas decisões afetam sentimentos e condicionam a narrativa que percorre diversos espaços (escola, café, casa, praia, entre outros). O jogo permite a criação de comunidades, espaços reservados a grupos de utilizadores – escola, por exemplo – para partilhar casos, sugestões ou colocar dúvidas. O protótipo já existe, agora os jovens do secundário darão sugestões importantes para afinar o jogo até ao modelo final.

O Guião Unpop, ou seja, um kit pedagógico que usará os videoclipes mais consumidos pelos jovens, que estão nos tops nacionais e internacionais, é o outro produto do projeto. Um kit pensado para mostrar, em contexto educativo, onde estão estereótipos de género em relação à orientação sexual, idade, etnia, classe social, onde está a banalização da sexualidade ou do erotismo, onde andam preconceitos e mitos sobre modelos de relação e que podem gerar discriminações e violências de género.

O guião, em suporte físico e informático, descodificará mensagens escondidas em letras, músicas e imagens, através de dinâmicas de animação de grupo que estimulam o diálogo e o espírito crítico. Alunos e professores ajudarão a construir este guião que terá múltiplas funções, desde desconstruir mensagens, a sugerir conteúdos, recursos, estratégias, atividades.

Ano e meio por escolas secundárias, a ouvir jovens, a registar ideias, a perceber o que eles querem, para construir um videojogo e um guião à medida das expetativas. «Nos primeiros meses, será feito um trabalho mais intenso que servirá para recolher informação e material para enriquecer o próprio projeto», adianta Joana Lima, da equipa técnica do projeto e responsável pela produção do videojogo. Ouvidos bem abertos porque tudo o que se disser será essencial. Os produtos serão testados e disseminados pelas escolas do distrito de Aveiro. Depois disso, a porta está aberta para que as ferramentas cheguem a todo o país. «Este é um projeto de sensibilização e de prevenção para a promoção de uma cultura de igualdade e de não-violência», diz Joana Lima.