Touradas: a favor ou contra?

Notícias Magazine

Texto de Catarina Guerreiro

O tema sempre dividiu o país, mas nos últimos tempos a discussão intensificou-se, com algumas autarquias a declararem-se antitouradas e o partido PAN (Pessoas-Animais-Natureza), decidido a acabar com o espetáculo tauromáquico, a ganhar assento no Parlamento.

Defensores e opositores das touradas portuguesas têm trocado argumentos e acusações. João Grave, de 27 anos, cabo do Grupo de Forcados Amadores de Santarém, o mais antigo do país, garante que não entende porque querem acabar com uma «arte que emociona ao ver a bravura dos touros» e que é uma tradição. «Aceito que não gostem. Mas isso não é razão para acabarem com ela.»

Mas para Sérgio Caetano, de 42, um dos ativistas do movimento antitouradas, é uma questão de tempo até elas serem abolidas em Portugal. «Não faz sentido porque é o único espetáculo público em que é permitido fazer mal aos animais», diz, rejeitando a ideia de que seja uma arte. É, antes, afirma, «um ato de violência».

Para João Grave, certo é que, se acabarem com as touradas, os touros bravos extinguem-se.

João não nega que na arena o touro sofra, mas argumenta que a situação não pode ser resumida a esses vinte minutos. «Nos quatro anos em que o touro está a ser preparado para a tourada, ele tem uma boa qualidade de vida, nomeadamente comparando com as vacas leiteiras e as de carne que estão em currais mínimos. Ou com os frangos, que nascem e morrem sem nunca verem a luz do sol.»

Mas Sérgio contesta e diz que para testar a bravura dos touros bravos, ao longo daqueles quatro anos, os criadores os sujeitam a testes violentos. João garante que não é verdade e recorda que esses testes são, em regra, feitos aos animais do sexo feminino. «As fêmeas é que são selecionadas para depois reproduzirem», diz o forcado, referindo-se à avaliação que costuma ser feita pelos ganadeiros que realizam uma tourada à porta fechada e usam ferros para perceber a bravura dos animais que são melhores para procriar.

Sérgio Caetano diz que desde 2010 as touradas já perderam mais de 53,1 por cento do seu público.

Para João, certo é que, se acabarem com as touradas, os touros bravos extinguem-se. Sérgio tem mais uma vez uma opinião diferente e diz que se hoje essa espécie de touros é criada geneticamente pelos criadores são eles que têm de continuar a fazê-lo, arranjando alternativas para o viabilizar. «Podem abrir as ganadarias ao turismo, por exemplo.» Uma ideia que João diz não ter qualquer futuro. «Sem a parte artística, o próprio turismo em relação às touradas desvaloriza.»

Sérgio não tem dúvidas de que as touradas serão proibidas, «pois é a evolução natural da sociedade e é o que está a acontecer em vários países». Por isso, diz, não entende como é que a RTP, estação pública de televisão, continua a transmitir touradas de três horas em direto. Para João, isso é a prova de que ainda há muitos portugueses que gostam da faena. Mas cada vez menos, contra-argumenta Sérgio, dizendo que desde 2010 as touradas já perderam mais de 53,1 por cento do seu público. João deixa uma pergunta no ar: «Então, porque é que as praças de touros continuam cheias?»

JOÃO GRAVE (à esquerda na fotografia)
Formou-se em Agronomia, fez o mestrado em Vinicultura e hoje é enólogo na Casa Santos Lima. Cresceu no meio de animais: o pai criava cães e o avô era ganadeiro. É cabo dos Forcados Amadores de Santarém, grupo que em 2015 completou 100 anos e foi condecorado pelo ex-Presidente Cavaco Silva com a medalha da Ordem do Mérito.

SÉRGIO CAETANO (à direita na fotografia)
Fundador da plataforma cívica Basta, para a abolição das touradas, tem 42 anos e é jornalista. Sempre se dedicou a causas de proteção dos animais e foi recebido pelo anterior primeiro-ministro, Passos Coelho, em virtude de o movimento antitouradas ter sido o mais votado pelos portugueses no portal do governo numa iniciativa promovida pelo executivo.