Quem é tímido conhece bem esta sensação torturante de se imaginar no centro das atenções dos outros. A boca parece cortiça, de tão seca que fica. O coração dispara. Duas pessoas connosco na sala já assumem os contornos de multidão. E os cochichos entre elas… de certeza que me tiraram a pinta e estão a comentar sobre mim.
Ainda que ninguém tenha uma definição exata para a timidez, sabe-se que cada pessoa tem uma perceção única daquilo que sente, razão por que terá também de ser ela a encontrar a sua própria receita para lidar com os desafios. Aceita-se como principais causas da timidez os fatores biológicos como o temperamento ou o sistema de alerta com que nascemos, as vivências de infância e as relações com os pais, as oportunidades de aprendizagem social, as experiências más ou traumáticas, a dificuldade em lidar com as exigências de diferentes fases da vida, as pressões que afetam as relações com os outros e a experiência de se ser avaliado, elogiado ou criticado. Numa época de domínio da imagem e imediatismo, em que a regra é aparecer a qualquer preço, claro que são os tímidos quem mais sofre.
Estatísticas de diversos grupos de estudo indicam que cerca de 80 por cento das pessoas viveram períodos de timidez fortemente marcada durante a infância e a adolescência (apenas cinco por cento dos adultos nunca terão sofrido dela a dada altura). Algumas conseguiram resolvê-la posteriormente. Outras (na verdade mais de 40 por cento) continuam a descrever-se como tímidas no presente.
E sim, é possível viver bem com o problema: basta impedir que seja ela a dominar e se aprenda a tirar partido dos pontos fortes de cada um. A infinidade de atores, cientistas, escritores, músicos, economistas, ativistas e políticos tímidos que se destacaram nas suas áreas de atividade pelo mundo provam ser possível viver a vida que sempre se sonhou ter, apesar dos constrangimentos. É só seguir-lhes o exemplo.
