Medo das doenças: de um extremo ao outro

Notícias Magazine

Texto de Catarina Guerreiro
Fotografia de Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

São amigas de infância, cresceram juntas e foram-se habituando à forma tão diferente de cada uma lidar com as doenças.

Inês Fazenda, 36 anos, diretora comercial de uma empresa de distribuição de publicidade, mal sente uma simples impressão na barriga entra em pânico com medo de ter uma apendicite. Desde pequena que vive preocupada com algumas doenças, essa em particular. «Tenho imenso medo de ter uma apendicite e morrer.» Assume que é hipocondríaca e que exagera, mas não se lembra de ser de outra maneira. «Acho que nasci assim. É um problema hereditário: o meu avô materno era hipocondríaco, a minha mãe também», diz.

Madalena de Santos, 37 anos, organizadora de eventos e a melhor amiga, é o oposto. «Eu minimizo tudo, ela maximiza», diz, lembrando que quando as duas frequentavam a Escola Secundária de Torres Novas, já a amiga era conhecida por «farmácia ambulante», por ir para todo o lado com um saco de remédios.

Quando era mais nova andava sempre com benuron, depois passou a transportar analgésicos para as enxaquecas e outros para as dores menstruais, antiespásmicos para as cólicas ou remédios para a azia. E houve também uma fase em que tinha sempre anti-inflamatórios para as dores de costas.

Inês acha estranho que os pais esperem três dias para ir ao médico quando os filhos estão com febre.

A «farmácia ambulante» acabou por ser, muitas vezes, a salvação para a descontração de Madalena. Numa viagem com a escola à praia da Areia Branca, quando tinham 14 e 15 anos, Madalena apanhou um grande escaldão e ficou cheia de dores. O que a ajudou foi o creme que Inês tinha levado na bolsa, preparada para alguma eventualidade.

«Eu estava muito mais preocupada e assustada com a insolação e com o que lhe podia acontecer do que ela», lembra Inês, acrescentando que os medos a têm feito passar a vida no médico de família ou em casa da irmã – o cunhado é clínico. A maneira como lidam com a saúde foi clara na época em que tiveram os filhos. Inês estava em pânico com o parto: «Tinha medo de ficar paraplégica com a epidural, de ter muitas dores.» Madalena nem pensava nisso. «Confiava totalmente no médico.»

E, à medida que as crianças cresceram, estas diferentes formas de ser também se manifestaram, claro. Quando um dos dois filhos tem febre, Inês não perde tempo e vai à pediatra. Bem diferente da amiga. «A Madalena nem sequer diz que a filha tem febre; diz que está com uma temperatura mais alta e que é o corpo a reagir. Fico doida quando ouço isso», diz Inês. Madalena ri-se e explica.

«Há situações em que é só esperar porque é o organismo a lidar com o vírus. Não vale a pena ir ao médico.» Há uns tempos, quando a filha teve estomatite aftosa (infeção viral que deixa a boca cheia de aftas), foi à internet, viu que era um vírus e limitou-se «a esperar que passasse».

Inês não se imagina nesse papel. «Acho até estranho os pais que, quando os filhos estão com febre, esperam três dias e só depois, se não passar, vão ao médico.» Seria impensável acontecer-lhe o mesmo que a Madalena, que se esqueceu da consulta de rotina da filha mais nova. «Pensava que era uma vez por ano, mas era de seis em seis meses.»

Madalena garante, porém, que, apesar de descontraída, segue as recomendações médicas quando é necessário. «Fui de lua-de-mel para África e fiz as vacinas e a medicação que me mandaram.» Inês também esteve naquele continente a fazer um estágio, em Moçambique, mas, mesmo com as vacinas, quando voltou pensou que tinha sido infetada por mosquitos. «Achei que tinha malária.»

Madalena, adepta de alimentação saudável, já se habituou às manias da amiga. E Inês, apesar do stress e do medo, garante que hoje está mais controlada.