Sorrisos que dão luta

Notícias Magazine

Um sorriso que dá luta, forte como uma parede de granito, na qual se esborracham os punhos cerrados e as palavras de ódio.

A coragem de oferecer um sorriso ao ódio não é de menosprezar. O medo indica-nos que nos deveríamos proteger de maneira diferente, respondendo à ameaça com ameaça.

Um gato, quando se sente ameaçado, eriça os pelos e arqueia o torso, para parecer maior e mais assustador. Seria mais intuitivo que, perante o perigo, eriçássemos o rosto e arqueássemos as mãos, prontos para responder a qualquer agressão. No entanto, Saffiyah Khan diz-nos que é possível outra reação. Ela passa por uma manifestação de pessoas que claramente odeiam tudo aquilo que representa e oferece-lhes um sorriso.

Li qualquer coisa sobre técnicas para apaziguar os inimigos e uma das mais eficientes era oferecer-lhes uma boa dose de generosidade. Isso desarmaria uma parte da animosidade que alguém nutriria por nós e permitiria o estabelecimento de uma relação mais empática entre as partes.

Há lá coisa mais frustrante do que odiar alguém que nos oferece a outra face? Faz-nos parecer duplamente idiotas.

A história de dar a face parece resultar. Mas mesmo que as clivagens sejam tão profundas que um conflito se torne insanável, pelo menos, responder ao ódio com um sorriso é uma das formas mais seguras de irritar o outro lado.

O sorriso aliado à não concessão ao medo e à agressão: há lá coisa mais frustrante do que odiar alguém que nos oferece a outra face? Faz-nos parecer duplamente idiotas. Primeiro, porque somos a única parte que grita e perde a compostura, fazendo parecer que as nossas queixas não passam de birras de gente mimada. Segundo, porque reagir ao ódio sorrindo é como escarnecer, dizer que não somos importantes na vida do outro e que a nossa inimizade para com ele é tão insignificante que a sua pulsação não se altera perante as nossas caras vermelhas de tanto vociferar.

Pior do que o amor não correspondido é o ódio não correspondido, porque retira aos «odiadores» as armas e a razão. É uma pena que nos tempos correntes, em que a filosofia parece ser olho por olho, dente por dente, não se adopte mais esse outro lema bíblico de dar a outra face.

Que bom seria que pudéssemos ressuscitar o amor ao outro, a empatia, a prática da bondade e da não agressão. Eu acredito na força dos gestos e acredito também que amar o próximo será a nossa única salvação. Independentemente dos mandamentos de qualquer religião, parece-me um mandamento fundamental para a sobrevivência da espécie humana.
Sorrir, frente à adversidade e ao ódio. A força criadora sempre vencerá a força destruidora.