Este peluche ajuda a combater a demência

Texto de Maria Espirito Santo/ Fotografia de Rui Ochoa

Tem apenas 2,5kg, o pelo branco, olhos negros e longas pestanas e bigodes. Podia ser mais um peluche na prateleira, em qualquer loja de brinquedos para crianças. Mas o lugar desta foca é em lares e hospitais. É um robô de companhia. Tem temperatura corporal, reage ao toque e emite sons, tal qual um animal real. É um peluche-terapia para doentes de Alzheimer – e não só.

A ideia não é substituir os animais reais ou o contacto humano – mas colmatar outra falha. «Estudei muito sobre terapia animal», diz Takanori Shibata.

Redução dos níveis de stress e ansiedade, redução da pressão arterial e melhoria do sono e da qualidade de vida – são alguns dos benefícios provados do PARO, a foca robô. Começou a ser comercializado no Japão, em 2005, para depois chegar à Dinamarca onde 80% dos municípios já adotaram o pequeno robô nos centros de tratamento para doentes com demência.

França, Suíça, Holanda e Reino Unido foram os países que seguiram os mesmos passos, ao levar o peluche para as suas instituições. E em 2009 foram os EUA que reconheceram a sua importância através da FDA (Food and Drug Administration) que certificou o robô como «instrumento médico terapêutico». Ao todo e percorrendo mais de trinta países, mais de cinco mil exemplares têm sido utilizados em hospitais, centros de dia e casas particulares.

A ideia não é substituir os animais reais ou o contacto humano – mas colmatar outra falha. «Estudei muito sobre terapia animal», diz Takanori Shibata. «E fui-me apercebendo que havia gente que não podia ter animais e sítios, como hospitais por exemplo, que não os aceitavam. O japonês falava no final de uma apresentação esta manhã, na Fundação Champalimaud, a propósito do Alzheimer’s Global Summit, onde mostrou a sua criação. Tirou-lhe uma chupeta (é o carregador do robô) e logo a foca abriu os olhos e se começou a mexer, reagindo às festas que lhe fazia.

O peluche pode ser utilizado com pacientes com demência mas também está provado que tem resultados positivos em doentes em cuidados paliativos ou junto de crianças com problemas de integração ou desenvolvimento.

O som que emite é real: Takanori captou-o em interacção com focas harpa bebés, no Canadá, em 2002. A escolha do animal não foi um capricho, explica. Nas primeiras experiências que fez, nos anos 1990, usou protótipos de cães e gatos, mas logo percebeu que não resultaria. «Ao início as pessoas estavam entusiasmadas mas quando começavam a interagir com os robôs comparavam-nos ao animal real e ficavam desapontadas.» E como eram animais populares, o mais provável é que tivessem memórias associadas – o que inclui as más, de ataques ou ferradelas – por isso a foca parecia a melhor opção. «Não gerava grandes expectativas.»

Takanori Shibata começou a trabalhar no PARO em 1993 mas só em 1998 surgiu o primeiro protótipo. Com o passar dos anos foi evoluindo – ganhou os bigodes com sensores táteis (respondem ao toque), capacidade de regular a temperatura do corpo (para se parecer mais a um animal real) e até a capacidade de aprender o próprio nome (que o paciente ou cuidador lhe dá).

O peluche pode ser utilizado com pacientes com demência mas também está provado que tem resultados positivos em doentes em cuidados paliativos ou junto de crianças com problemas de integração ou desenvolvimento. Também nos EUA se concluiu que tranquiliza pacientes em tratamento de quimioterapia: no Long Beach Memorial Hospital os doentes registaram menores níveis de dor, fadiga e ansiedade. Mas há mais histórias: de pacientes que tinham perdido a fala e que voltaram a comunicar com o peluche, por exemplo.

Takanori Shibata é natural de Nanto, uma cidade japonesa com cerca de 50 mil habitantes que terá sido o ponto de partida para a sua história enquanto engenheiro mecânico e inventor. «Lá têm uma longa tradição de fazerem coisas à mão, de artesanato. E acho que para criar o PARO esse tipo de arte é muito importante para garantir qualidade.»

Há mais de vinte anos que o cientista e investigador trabalha para melhorar a sua foca-robô, que vai já na nona geração. O objetivo é que chegue a cada vez mais gente e que entre em mais lares. No Japão um grupo de pessoas, integradas num ensaio clínico, já tem a companhia do PARO a tempo inteiro – funciona como um aluguer que custa cerca de 200 euros por mês, sendo que 90% desse valor é comparticipado, o que quer dizer que os utilizadores pagam 20 euros mensais para ter o robô em casa. Assim os cuidadores têm uma ajuda extra, que contribui para que os doentes se sintam mais confortáveis e acompanhados, com menores níveis de ansiedade.

Num futuro ideal, este pequeno peluche estará à disposição de qualquer pessoa, garante o criador. E vai mais longe: talvez passe a ser recomendado por médicos – que, assim, poderão prescrever um peluche, na mesma receita dos medicamentos.

Num futuro ideal, este pequeno peluche poderá estar à disposição de qualquer pessoa, lembra o criador. E talvez passe a ser recomendado por médicos – que, assim, poderão prescrever um peluche, na mesma receita dos medicamentos, se for essa a opinião do clínico. Para ser usado enquanto terapia o robô deve ser utilizado por alguém com treino específico para tal. Pode obter mais informações sobre o PARO em www.paro.jp.