O sexo dos furacões

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Os homens, por seu lado, acham que rir é um descontrolo e um sinal de fraqueza. Há aqui uma triste relação de poder. Claro que a Rumena falava de estatísticas e, por entre números, há sempre espaço para outro tipo de atitudes. Leopardi, por exemplo, acreditava que o riso era não uma maneira de agradar ou uma demonstração de fraqueza, mas, pelo contrário, uma disposição filosófica para com a vida. Achava que o mundo era terrível e que só suportamos a sua crueldade quando nos rimos dele e das adversidades a que somos sujeitos.

E, sobre adversidades, ele sabia um pouco. Savater descreveu-o assim em Aquí Viven Leones: «[Leopardi] era raquítico, marreco nas costas e no peito, sempre doente do estômago, das articulações, dos nervos, e, ao final da vida, praticamente cego… mas dizem que o seu sorriso, quando queria e podia sorrir, era maravilhoso. Viveu apenas trinta e oito anos. Contudo, teve tempo para ser poeta.»

Seja como for, o sexismo está sempre presente na sociedade em proporções diferentes, umas evidentes, outras difíceis de detetar, que se escondem atrás de um simples riso ou de um encolher de ombros: é sintomático saber que os furacões batizados com nomes femininos são muito mais mortíferos do que os outros.

As pessoas (homens e mulheres) levam menos a sério o potencial destruidor de um furacão se este tiver nome feminino e, por causa disso, não tomam as medidas de segurança necessárias, havendo no final muito mais vítimas. Os furacões, além de matarem, mostram como somos insidiosamente machistas, sob a pele de cidadãos com valores equalitários que vivem em sociedades «modernas, informadas e democráticas». Há um longo caminho a percorrer.

Se Leopardi achava que rir era uma forma de combater a perfídia do mundo, neste caso teria diante de si uma anedota trágica: sexistas, machistas e misóginos são mais propensos a ser destruídos pelas forças da natureza. O preconceito pode ser fatal.